O partido de Angela Merkel perdeu pontos em duas eleições regionais que hoje tiveram lugar. É importante perceber as razões da quebra de apoio. A primeira tem de ver com os atrasos nas vacinações e a percepção que o governo não tem sido coerente na resposta à pandemia. A segunda diz respeito a casos de corrupção e de aproveitamento do poder por parte de deputados do partido para fazer negócios e ganhar comissões.
Estes são dois temas muito sensíveis. Na Alemanha, como em qualquer outro país da União Europeia, o abuso do poder para benefício pessoal é um tema central em matéria política. O papel das instituições e das oposições é o de estar atentos a esses abusos e denunciá-los. Por outro lado, a questão da vacinação que não avança vai acabar por ter custos políticos muito grandes. Os europeus vão comparar os números com os do Reino Unido, dos Estados Unidos e outros, e não vão aceitar de ânimo leve as justificações que os políticos lhes forneçam para justificar a lentidão.
Tudo isto faz-me pensar numa panela de pressão que está a ferver em lume brando. As consequências serão desastrosas, se o lume não for apagado rapidamente.
Hoje foi o presidente da República que falou sobre os perigos da corrupção e dos compadrios. Mostrou preocupação. E não será o único. Vejo no horizonte a possibilidade de uma repetição do que nos aconteceu há uma dúzia de anos atrás. Os fundos europeus deixam muita gente a matutar. A ética em matéria política é um assunto que não faz parte dos nossos debates.
Na governação de um país, abuso de poder e corrupção são dois males muito frequentes. O combate político deve dar uma atenção muito especial a essas duas questões, que minam a democracia e a moral cívica de uma nação. Fechar os olhos é um erro colossal. Dizer que roubam mas fazem, é burrice de quem não vê as consequências de um regime que apodrece.
Os senhores do poder político associados aos escândalos do BPN e do BPP, aos negócios estranhos dos acertos à volta dos contentores de Alcântara, às corrupções em Oeiras, Felgueiras e outras sedes de abuso de poder local, ao Freeport, que vive agora à temperatura das águas de bacalhau podre, e a tantos outros casos de influência e interpenetração de dinheiros e influência política, são uns larápios da pior espécie. Roubaram-nos a inocência com que víamos o exercício das funções governativas. Mancharam a nossa boa fé. Hoje, quando vemos poder, vemos malandrice.