Em Addis Abéba
Estive em Addis Abéba nos últimos dias, depois de uma ausência de vários anos.
É sempre com emoção que volto à capital da Etiópia. A razão é simples: foi a primeira cidade de África que conheci. Cheguei a Addis em Julho de 1978 e aí começou o meu percurso africano de três décadas. Foi uma estada curta – uma semana –, num momento muito difícil para o país. O imperador havia sido deposto e assassinado uns tempos antes. Vivia-se uma época de grande repressão e de terror político, que ficou conhecida na história como o “Derg”, uma palavra que significa “comité”. Milhares de civis e militares foram executados às ordens do Derg, chefiado por Mengistu Hailé Mariam, um ditador sangrento que anos mais tarde haveria de ser meu vizinho de bairro em Harare, onde Mugabe o havia aceitado como refugiado político.
A obediência incondicional era então a palavra de ordem. E a miséria definia o modo de vida da população.
Hoje, a Etiópia é um país mais livre. Mas ainda muito controlado pelo poder político. A obediência já não terá o mesmo significado que tinha em 1978. Continua, no entanto, a desempenhar um papel importante no quotidiano das pessoas. Há mais espaço político, embora com fronteiras muito definidas. Pisar o risco é um risco grande.