O meu dia em Riga começou antes das 05:00 e está a terminar agora, por volta das 23:00 horas. Antes de ir para o descanso, ainda vejo uma ou duas mensagens loucas, vindas de Portugal, sobre o Aberto fora-da-lei e mais umas desculpas patéticas de quem não tem a coragem política que o caso pede.
A semana que se avizinha vai revelar, infelizmente, que a Europa não está pronta para o segundo pacote grego. O dinheiro não será desbloqueado. Mostrará, infelizmente também, que a Grécia não quer reconhecer que vive num beco sem saída.
O que sempre fora evidente vai agora entrar-nos pelos olhos dentro: a Grécia não reune as condições políticas necessárias para levar a cabo as reformas que lhe são exigidas - e que são indispensáveis, tendo em conta o ponto a que a situação chegou. E a UE também não tem as condições políticas para executar o que prometera fazer a 21 de Julho.
Estamos nas vésperas de um choque entre duas placas telúricas profundas que vão alterar profundamente a paisagem política e financeira da Europa. A Grécia não tem mais opções: quer o faça quer não, a miséria generalizada do seu povo é inevitável. Só que, se o fizer, se cumprir o programa, ficará no Euro, e talvez consiga, num horizonte distante, voltar a recuperar economicamente. A UE ainda tem uma opção: chegar a um acordo, nos próximos dias, e dar mais um balão de oxigénio ao povo grego. Não creio que isso venha a acontecer. Até por que muitos se interrogam sobre a utilidade desse balão.
Portugal tem que aprender com a experiência dos outros. Claramente, a lição vinda da Grécia é que ninguém ajuda ninguém, a não ser que nos ajudemos a nós próprios primeiro. Convém ter isso presente. E não deixar que o caso da Madeira, por exemplo, ponha em dúvida a nossa determinação em sairmos do buraco. Um tratamento exemplar das irregularidades do governo regional é, agora, uma componente essencial da nossa salvação nacional.
O senhor Alberto proferiu umas ameaças, do género, "se nos continuam a chatear, com essas ninharias de uns dinheiros gastos sem cabimento nem autorização, cada lado vai à sua vida, separa-se a trouxa".
O Senhor Alberto ainda não percebeu que a conversa de uma possível independência não aquece nem arrefece, nem lá nem cá. São ameaças vazias, de um irresponsável que não vê dois palmos para além das suas conveniências pessoais. E a sua conveniência mais pessoal é a de estar no centro das atenções e nos veludos do poder.
O Alberto já mostrara repetidas vezes ser um trapalhão de primeira apanha. E, também, um demagogo. Só que isto de ser demagogo com o dinheiro dos outros tem um preço muito elevado, nos dias de hoje. Vem complicar a vida de todos nós. Mas, acima de tudo, agrava um problema que precisava, aliás, de ser aliviado: a imagem trapalhona, pouco séria, de Portugal, nalguns círculos internacionais. O Alberto veio dar argumentos a quem nos quer afundar. O Alberto é um político suicida. Só que, quando rebenta, leva muita coisa com ele.
Existem aqui várias questões. Por um lado, a experiência já nos havia ensinado, noutros cantos do mundo, que um idiota que fica muitos anos no poder acaba por praticar a idiotice fatal, que acarreta grandes consequências, que tem um impacto de longo prazo, que traz a desgraça. Em seguida, a demagogia é útil aos clientes e fiéis do demagogo. O demagogo sabe que tem que deixar o seu círculo de seguidores aproveitar-se da situação, que isso o ajudará a guardar o poder. Em terceiro lugar, uma situação como a que o Alberto criou é um teste litmus para a liderança do seu partido e para a Presidência da República. O líder do partido do Alberto vai ter que tomar posição. Não se pode refugiar por detrás do mar que nos separa da terra do Alberto. Tem que mostrar que está à altura. O Presidente, enquanto garante dos interesses nacionais, e do bom funcionamento das instituições da República, incluindo dos governos regionais, vai ter que se pronunciar.
O último dia de Agosto fica marcado por um tempo de inverno e mais austeridade. Chuva e novas cargas fiscais, numa altura em que se esperava Sol e um plano que trouxesse alguma esperança aos portugueses.
Sem esquecer que o ministro e o seu chefe continuam a não dizer nada que se oiça sobre o escândalo que é o governo da Madeira.
Uma vez mais, ninguém tem a coragem política de olhar para as muito sérias irregularidades que se praticam na governação da responsabilidade de Alberto João Jardim. O ministro volta, novamente, a "aconselhar" o Alberto João a pensar num programa de ajustamento, com o FMI, como se a Madeira fosse um estado vizinho, ao qual se daria uma conselho de boa vizinhança. E nada mais.
Só há uma palavra para resumir tudo isto: inaceitável.
O retrato que El Pais fez, na edição de Domingo, do senhor Alberto João, do jardim que e' a Madeira, revela muitas coisas: que o número de funcionários públicos na Madeira e' desproporcionado e que o exagero só se justifica por razões políticas, com o fim de ganhar votos; quem vive 'a custa do Estado, vota pela continuidade; que as subvenções do governo central e da Comissão Europeia são excelentes meios para lançar projectos vistosos, para conseguir eleicoes de sucesso; que o défice e a divida da região ultrapassam largamente o que e' aceitável, sendo praticamente igual ao PIB anual da Madeira; que as derrapagens orçamentais, feitas por razoes partidárias, são ilegais; e mais, e mais...
Mas revela também que o poder central, em Lisboa, tem medo do Alberto João, não faz cumprir a lei, prefere fechar os olhos ao que se passa no arquipélago.
Os nossos vizinhos devem ter ficado com uma ideia pouco lisonjeira da política portuguesa.
Mas haja alegria, que passar uns dias de Agosto no Porto Santo da' a oportunidade, a alguns dos nossos políticos de segunda linha, de um encontro com o chefe madeirão e arranjar uns negócios, umas consultorias, uns apoios políticos. Tudo isto, enquanto se apanham banhos de Sol. Nada mal. E' o proprio da saloiada esperta. Que sabe viver...
Ontem fechei o país para descanso, mas o Alberto João aproveitou o feriado para classificar, por portaria transparente e verdadeiramente publicada no jornaleco local, os professores a leccionar na Madeira. Todos levaram pela mesma tabela, um Bom democrático.
A Madeira deu mais uma vez o exemplo da governação de portas escancaradas e mentes arejadas que gosta de praticar, brincalhona e inspirada pelo socialismo jardinês em que todos são iguais perante as portarias e as avaliações.