Às portas de Biarritz, para o G7
Estamos nas vésperas da cimeira de 2019 do G7. A burguesa cidade litoral que é Biarritz deve estar em pé de guerra, com seguranças por toda a parte. Vai ser um fim de semana infernal, para as gentes locais, que os banhistas já devem ter deixado as praias, e as ondas do surf, bem conhecidas que são, e voltado para as suas terras de origem.
Uma das perguntas que mais surge, nos meios que analisam estas reuniões de alto nível, é se o G7 ainda serve para alguma coisa.
O encontro do ano passado, que teve lugar no Canadá, foi um desastre. Tudo se resumiu a uma questão: o comunicado final fora ou não aprovado pelo Presidente Trump? Este é aliás um dos problemas destas reuniões. Depois de meses de preparação, o resumo que fica é uma linha ou duas, um cabeçalho na comunicação social e pouco mais.
Agora, com o Presidente dos EUA a jogar num campo com balizas que mudam de um momento para o outro, o valor destas cimeiras é ainda mais contestado.
O anfitrião deste ano diz que sim, que vale a pena, como seria de esperar. Acrescenta, todavia, que não haverá um comunicado final, para que se não perca tempo a discutir vírgulas e a rasurar certas palavras. Não me parece mal, como ideia, embora fosse importante ouvir uma declaração conjunta sobre dois ou três temas quentes, como por exemplo, o que se passa na Amazónia.
Também sou dos que pensam que, sem esperar muito destas cimeiras, elas são importantes. Os líderes que estarão à mesa, com excepção dos que estão em fim de percurso, como é o caso de Giuseppe Conte ou talvez de Justin Trudeau, são gente com muito poder. Nos seus países e nas relações internacionais. Parece-me melhor que se encontrem e confrontem à volta de uns acepipes, que partilhem tempo e momentos, que isto das relações entre as pessoas tem muito que ver com o estar-se junto, do que deixar cada um no seu canto, sem um mínimo de diálogo com os seus pares.
A Rússia não estará representada, mas o tema ocupará um lugar importante nas conversas. Há quem pense que é altura de voltar a trazer Vladimir Putin para a mesa do G7, de fazer renascer das cinzas o G8. Creio que uma decisão dessas enviaria uma mensagem negativa. O G7 pode não ter grande impacto, mas é, apesar de tudo, uma reunião das democracias mais ricas. Vladimir Putin não é um democrata, não respeita as regras da liberdade de expressão e de oposição. Por isso, ressuscitar o G8 seria uma afronta que se faria aos que lutam pela liberdade na Rússia.
Há, no entanto, o risco que no próximo ano, o Presidente Putin possa ser convidado. O anfitrião da cimeira de 2020 é um admirador do autocrata de Moscovo. Ou não fosse o anfitrião o sempre em pé Donald Trump.