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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

As amizades e a timidez da realidade

Estive ontem no almoço anual dos Antigos Alunos do Liceu Nacional de Évora. Foi a primeira vez que participei, cinquenta anos depois de haver terminado o antigo sétimo ano. Claro que achei que estavam todos um bocado mais velhos. Mas gostei de estar presente. Apesar da reunião ter posto à prova a realidade das minhas amizades “facebuquianas”. Um bom número dos presentes no almoço é meu no Facebook. Mas não se notou. A culpa terá sido minha, que não tive a presença de espírito de ir de mesa em mesa para me apresentar aos meus “amigos virtuais”. Tive, depois, muita pena.

 

Um recomeço

 
Copyright V. Ângelo
 
 
A vida é feita de ciclos. Os meus mais ou menos 32 anos de trabalho ao serviço da ONU terminam hoje. Amanhã, e não é mentira, apesar de ser 1 de Abril, passo à situação de reformado das Nações Unidas. Entro pelo meu pé, porque quero e por achar que é altura de o fazer. É um ponto importante. Alguns dos meus colegas ficaram pelo caminho. Situações de perigo exigem sorte, muita. É o momento de os recordar, com a mágoa de quem perde um companheiro. Outros, saíram, porque foram empurrados. Acontece muitas vezes, neste tipo de instituições. Entra-se com dificuldade, sai-se, tantas vezes, quando menos se espera. Pelo pontapé dos outros. São muitas as ratoeiras, complexa a política entre Estados, a trama internacional e o jogo dos seus interesses.
 
Sobrevivi e cheguei ao topo. Não me posso queixar.
 
Falando agora desta janela que tentei abrir todos os dias. O blog. Durante cerca de dois anos, este blog procurou ligar as terras, as gentes de África e de outras paragens ... com o leitor. Foram tempos de grande complexidade, de vivências intensas, de múltiplas descobertas, de encontros com pessoas simples e, também, com outras um pouco mais complicadas...Mas que me deixaram alegrias, experiências inesquecíveis, me ensinaram a ser modesto e a ter uma visão ampla da vida.
 
Gerou-se à volta deste blog um círculo de leitores. Fiéis, generosos, atentos e vivos de espírito. Encontrei nos comentários apoio, força, carinho e amizade, que me ajudaram a ultrapassar os dias mais cinzentos. Obrigado a todos. Aos amigos que conheço, aos que não conheço, mas que considero como parte integrante da lista. Descobri, desta maneira, uma nova avenida para a beleza e a felicidade.
 
Chegou o momento de fechar uma etapa. O passado já foi.
 
Sinto-me como o escritor que termina o seu livro.
 
Mas vejo-me, igualmente, na imagem de um jovem principiante, que ousa abrir um caderno de páginas em branco, a pensar no futuro...
 
Espero escrever muitas páginas nesta nova etapa, talvez diferentes. O desafio continua a ser o mesmo: contribuir para que as vistas sejam o mais largas possível. A vida não pára. A experiência só serve se for partilhada. Talvez agora possa aprofundar certos temas, sobre os quais passei de fugida, tantas vezes escritos em condições que os leitores não podem imaginar, calor, poeira, isolamento, stress, falta de tempo, viagens sem fim, cansaço, ligações complicadas com a net, um gerador a funcionar como se estivesse dentro da minha cabeça, e muito mais. Dizer o que ainda precisa de ser dito, acrescentar a cor que dá uma nova perspectiva à viagem da vida.
 
Chega de conversas. Está na hora de seguir em frente.
 
Queria convidar cada um de vós a acompanhar-me nesta nova etapa, porque afinal só faz sentido escrever as páginas que ainda estão em branco se tiverem a bondade de me ler, de me deixar os vossos comentários, de responder que sim ou que não. Creio que ainda tenho algumas palavras por alinhavar, historietas e outras fábulas por narrar, uma opinião ou outra por partilhar. Conto convosco.
 
Amanhã, ao fim e ao cabo, será apenas um recomeço...

A minha política

 

Vários amigos me têm falado de uma possível entrada na política, em Portugal, agora que saio de trinta e picos anos de trabalho com as Nações Unidas. Ainda hoje, um dos comentários ao meu blog, feito por uma pessoa que muito aprecio, conclui que a política portuguesa teria a ganhar, se eu resolvesse entrar. É uma opinião que respeito.

 

A verdade é que a minha escrita, quando me libertar das cargas que ainda mantenho, se tornará cada vez mais intervencionista. Mas sem enveredar por ataques pessoais, nem procurar fulanizar a vida pública de Portugal. Nessa frente, o que está a acontecer já chega. Temos que ir direito às questões, não às pessoas. Há muita questão por resolver. Muito contributo por mobilizar.

 

Com toda a objectividade, para que se possa ultrapassar os clubismos doentios actuais. Participar é unir, não é excluir.

De volta, na linha da frente

 

Aos meus queridos amigos e fiéis leitores, aqui fica o anúncio que estou de volta. Fui libertado do hospital hoje de manhã. Estou fino, dizem os que me guardaram nestes últimos dias. Sinto-me, na verdade, bem. Vou ficar uns dias em casa. Num combate diferente, que eu não gosto de parar, mas com mais conforto. A minha vida é, sempre foi, e sempre será um combate. Vale a pena.

 

Mas acima de tudo, quero agradecer a todos os que me deixaram mensagens de simpatia e carinho, aqui no blog, bem como aos que me escreveram, enviaram SMS e me telefonaram. A vossa amizade, o vosso amor, o vosso cuidado, foram-me direitos ao coração. As imagens nas máquinas mostraram que o meu ritmo cardíaco ficava mais sereno cada vez que eu recebia uma mensagem vossa.

 

É que a amizade dá vida ao coração.

Férias forçadas

 

 

O meu blog fecha hoje para umas "férias forçadas". Estou desde esta manhã inetrnado num hospital miltar francês, com o coração aos pulos. Viajo, a título de evacuação médica, para Paris durante toda a noite. A minha entrada na cidade das luzes, será de ambulância, a caminho de Val de Grâce, o famoso hospital miltar. Lá ficarei, não sei por quanto tempo. Sabem. Quando se entra num hospital, nunca se sabe por quanto tempo será.

 

Os meus amigos já começaram a sua mobilização. Veja-se o comentário do André. Ter amigos assim faz bem ao coração.

 

Voltem a ler-me logo que eu esteja de volta. Não se esqueçam de mim.

 

E paciência, para todos.

 

 

Um combatente

 

Começar o dia com o chefe do Estado-Maior da Força Aérea, o General Orozi, é um prazer. Orozi, um jovem, 43 anos, três estrelas, é uma das pessoas mais inteligentes das muitas que encontrei nas minhas peregrinações. Conhece cantos de Lisboa que eu nem sonho que existam. Vem muitas vezes a Portugal. As Oficinas Gerais de Material Aeronáutico fazem a manutenção do seu C-130. É um homem do deserto, nascido a cerca de 250 quilómetros a Sul da fronteira com a Líbia, em pleno Sahara. Um homem de palavra. Quando diz que faz, faz. Quando diz que não, é não mesmo.

 

Pertence a uma tribo de pastores de camelos. Os miúdos saem para o deserto com os animais, e por aí ficam meses sem fim. Além da companhia dos camelos e do silêncio que os torna homens grandes, cada miúdo tem a sua pistola-metralhadora, uma kalashnikov. Mais tarde na vida, os mais aguerridos tornam-se soldados, ou rebeldes, ou ambas as coisas. Não têm medo da morte, que morrer é o que acontece a muitos.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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