Aqui, neste espaço, a amizade verdadeira conta mais do que as divergências políticas. A amizade dura mais. As opiniões políticas, ou mudam com o tempo, ou são cegas, e nessa altura não vale a pena estar a insistir.
Também aqui, a força do argumento pesa mais do que a berraria descabelada. Berra-se muito, na nossa cena política. Mas isso não leva água a nenhum moinho. É, pelo contrário, sinal de fraqueza, sobretudo da mente.
Foi um tempo complicado. Há anos assim. Apesar de tudo, termino a coisa com calma, lendo umas notas sobre o taoísmo. Que se podem resumir muito simplesmente em três pequenas frases: continuar a viver os dias que passam; manter uma conexão positiva com as pessoas que contam; procurar sorrir perante o que a vida nos vai trazendo.
Hoje não é dia para grandes escritas. Será certamente dia para dizer muito obrigado aos que se lembraram de expressar um voto. Nestas coisas, e com o passar dos anos, o que vai ficando é o que é verdadeiro. Conta. O resto são coisas que o tempo acabou por fechar. E quando se andou por muitos montes e vales, acaba-se por se ter muitas caixas onde se foram arrumando as lembranças. Umas estão ainda abertas e bem vivaças, outras já têm a tampa a cobri-las.
Também não é altura para expressar grandes preocupações. Mas não posso deixar de mencionar que este serão segui o que os vários dirigentes políticos franceses foram dizendo, perante os resultados das eleições regionais de hoje. Dei atenção porque no jogo das coisas europeias, a França pesa. E o que resultou desta primeira volta deixará certamente os que acreditam na Europa ainda mais preocupados. A Europa anda mal e ficou agora ainda mais ameaçada. Os extremismos, e todos os radicalismos, todos, incluindo os dos presunçosos, fazem-nos tanta falta como a fome e a miséria. E, se não forem combatidos, acabam sempre por nos trazer fome, miséria e outros problemas.
Este blog fechou para férias de Ano Novo. Num ano em que o trabalho é o único valor seguro, embora incerto, convém não fechar para férias durante muito tempo.
Não há nenhuma altura do ano que seja boa para tomar uma decisão sobre a vida. Mas, este período, de Natal e Ano Novo, torna esse género de decisões ainda mais difícil e acrescenta ondas de tristeza a uma situação já por si muito chocante.
Uma das minhas amigas mais próximas, da minha geração, está em coma profundo há quase duas semanas. Com várias lesões cerebrais. Estava bem, sem problemas, e agora está assim. O filho, que está a consultar os familiares e os amigos mais chegados, depois de ter ouvido o último relatório médico, vai ter que tomar uma decisão nos dias que se aproximam.
Aos meus queridos amigos e fiéis leitores, aqui fica o anúncio que estou de volta. Fui libertado do hospital hoje de manhã. Estou fino, dizem os que me guardaram nestes últimos dias. Sinto-me, na verdade, bem. Vou ficar uns dias em casa. Num combate diferente, que eu não gosto de parar, mas com mais conforto. A minha vida é, sempre foi, e sempre será um combate. Vale a pena.
Mas acima de tudo, quero agradecer a todos os que me deixaram mensagens de simpatia e carinho, aqui no blog, bem como aos que me escreveram, enviaram SMS e me telefonaram. A vossa amizade, o vosso amor, o vosso cuidado, foram-me direitos ao coração. As imagens nas máquinas mostraram que o meu ritmo cardíaco ficava mais sereno cada vez que eu recebia uma mensagem vossa.
Da minha varanda, neste serão fresco de Domingo, o Tejo parece correr com tranquilidade. Não há grande movimento. Mesmo as ruas, entre o grande rio e a minha casa, estão relativamente silenciosas.
É altura de escrever a minha peça regular, para a revista que me acolhe. Depois de um fim-de-semana de férias em família, coisa rara, as palavras escritas têm dificuldades em encontrar o caudal habitual. As frases, depois das pessoas, parecem coisa vagas, pesadas e impenetráveis.
Tudo muito a contrastar com a calma das águas e deste lado da cidade.
Estou numa fase em que o tempo é pouco para fazer o que há que fazer.
Ainda hoje, lá fui novamente a Bangui. Tinha lá estado na Sexta. Fui falar com o Presidente e o Ministro da Defesa. No seguimento das confrontações bem violentas de ontem, em Birao. Que se seguiram a outras que haviam ocorrido a 6 de Junho. Os grupos armados estão cada vez mais equipados, metralhadoras ligeiras e morteiros. Gente rural pobre, mas armada até aos dentes. E que não dá tréguas ao inimigo. Inimigo apanhado, gente com quem viveram lado a lado durante décadas, é inimigo executado. No local. Sem perder tempo. Alguns são decapitados.
O leitor talvez até nem saiba onde fica Birao. Esse é outro dos problemas. É um conflito que não aparece nos ecrãs. Por isso, ignorado. Morre-se em silêncio, em Birao.
Quando voltei de Bangui, tinha uma pasta de rumores, boatos, em cima da mesa, dizendo que os rebeldes chadianos estavam a dois passos de lançar uma nova ofensiva. Tudo sem fundamento. Mas o suficiente para alarmar o pessoal. O pânico é uma moeda barata, que circula muito rapidamente. Tudo muito vago. Mas suficiente, também, para exigir que se mobilizem meios para apurar a veracidade da "informação". Amanhã lá vão todos os meus agentes de informação para o terreno, que é bem vasto, para tentar perceber o que se passa.
Tudo isto não dá muito tempo para pensar na praia, no Sol, nos simples prazeres da vida.
Há por aí alguém que queira trocar de funções comigo, nem que seja só pelo tempo suficiente que me permita ir esticar as pernas à beira-mar?
Escrevi sobre o Islão, na edição da semana passada da Visão. Era um texto político. Mas para certos leitores, o que ficou foi a leitura religiosa do Islão. E têm trocado comentários bem vivos sobre a questão da fé islâmica e das fés, em geral. Uma demonstração de que a religião continua a acender os ânimos.
Mas as palavras ficam dentro dos limites da elegância. É uma guerra com alguma tranquilidade e combatida no sítio on-line da revista. Tudo muito ao estilo do que deve ser o Século XXI.
Mas é curioso notar como a religião continua a atrair opiniões bem marcadas, e trocas de palavras acesas. Mas não incendiárias.