Para reflectir
Copyright V. Ângelo
No que faz pensar este belo monstro?
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Copyright V. Ângelo
No que faz pensar este belo monstro?
Copyright V.Ângelo
A última missão que fiz no Chade levou-me ao deserto de Ouara, nas terras do Sultão de Ouaddai. Encontrei alguns dos habitantes. Sim, aqui vivem pessoas.
É uma zona de rara beleza, onde nos sentimos bem, mas com uma noção mais clara da nossa pequena dimensão. O deserto ensina-nos a o valor da modéstia.
Sábado de Páscoa é um dia de transição, na cultura que nos rodeia. De um lado, uma Sexta-feira em que a esperança é crucificada. Do outro, um Domingo que nos desperta uma nova luz, nos abre horizontes, nos faz acreditar na vida.
É preciso saber esperar. Ter coragem. Ultrapassar os momentos difíceis. Acreditar no futuro.
Andar perdido num labirinto, para trás e para a frente, com uma ânsia cada vez maior, a expressão de uma fera perdida. Assim anda o homem, ferido de morte, que não doido de amor. Conseguirá encontrar a saída?
Copyright V.Ângelo
Por detrás desta fotografia, tirada há uns dias, no deserto do Ennedi, esconde-se alguém que se define como um arrumador de esperanças. Uma profissão ambígua, confesso. Pertence ao grupo genérico dos arrumadores.
Passei algum tempo, esta tarde, a falar ao telefone com o A. Guterres. A determinada altura disse-lhe que, se ele vier em Março à África Central, como está a planear, será muito provável que eu já não esteja nas paragens. Reformado. Sim, sentado num banco de jardim, no Restelo. Sem estar a olhar para Belém, não hajam equívocos.
Não queria acreditar. Como seria possível deixar um emprego como o meu? Depois percebeu que as minhas décadas com a ONU não foram passadas a resolver a crise da Islândia ou o separatismo no Québec. Nem a partição de Chipre, acrescentei eu. Foram vividos no meio de conflitos mais ferozes, vidas mais ásperas, ambientes de grande tensão. Ou seja, talvez já seja tempo de procurar climas mais amenos e passar o tempo com disputas mais caseiras, do género dos sucateiros da nossa terra.
Entretanto o meu amigo Staffan de Mistura, um homem mais velho do que eu, foi nomeado como representante especial para o Afeganistão. Tenho amigos que não conseguem parar, sair desta vida de homens dos sítios impossíveis. Cada um sabe de si. É verdade que o Afeganistão é um desafio muito tentador. Mas há outros, bem mais perto de casa. Basta pensar nos "afeganistães" que são certos bairros da periferia de Lisboa.
Hoje a minha net não quer que eu tenha ligações. Acha melhor que eu fique sózinho na vida.
Quem vive no deserto arrisca-se a ter ligações muito ténues. Espero que amanhã as telecomunicações me permitam reforçar a ligação.
A minha fotografia à porta da tenda onde me albergo, quando estou em Birao, causou algum interesse entre os meus leitores. Por isso, publico hoje a vista completa da habitação, bem como o canto de alguma das necessidades.
O canto chichi não é muito friendly para o sexo feminino. Vejam bem a fotografia que se segue. É um canto precioso, no entanto.
Fotos copyright V. Ângelo
O dia primeiro do ano novo acabou mal. Estava a entrar no cerne da questão, numa matéria de muita importância nesta nova vida, quando todos os sistemas de comunicação se foram abaixo. Deixou de haver net, a rede telefónica de segurança desapareceu, fiquei com aquele sentimento que os galãs dos filmes de outrora deverão ter sentido, quando, prestes a beijar a donzela, depois de uma cena de grande intensidade dramática, acontece uma catástrofe qualquer e tudo fica de pantanas. E não há beijo.
Neste caso, não houve muita coisa, inclusive blog. Começar o ano assim é de ficar com os ossos todos frustrados.
O plano era partilhar estas flores de uma zona árida. Flores que encontrei à saída de Guéréda, uma terra de muita violência, num sítio onde o Sahel se finda e surge a paisagem do Sahara.
Aqui estão as flores:
Copyright V. Ângelo
Com estes arbustos e pedregulhos, mesmo à beira da picada que sai da localidade para o Oeste, a área tem sido local de muitas emboscadas e ataques contra os trabalhadores humanitários e os funcionários internacionais. O último caso foi o de delegado do governo para a ligação com os refugiados. Foi assassinado a uns metros desta árvore tão linda.
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À porta de casa, a minha tenda em Birao, capital da Vakaga, uma residência de luxo, com internet e tudo, a badalar o sino de um ano que será um tempo de grandes mudanças. Há que ter a coragem de enfrentar novos desafios, abrir outros horizontes, começar uma vida diferente. Não é apenas renovação. 2010 é um ano novo.
Um bom Ano de 2010 para todos os que seguem o meu blog.
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