Até da minha janela se nota que este monumento, emblemático como é, está sujo e pouco cuidado. Ora, todos os que visitam Lisboa são levados a ver esta obra e depois ficam sem perceber que país é este.
Em seguida, atravessam o túnel, para o jardim em frente dos Jerónimos e ficam a perceber melhor. As escadas que conduzem ao túnel e o corredor estão sujos e manchados de porcaria. A única consolação é o cantor ceguinho que aí passa os dias e a quem se daria uma fortuna para que deixasse de cantar. Tem, no entanto, bons pulmões, que a sujidade que o rodeia não é tóxica.
Chegados ao jardim, os nossos visitantes podem constatar que os "jardineiros" que se ocupam de o manter não sabem o que é jardinagem. Mas devem ter umas cunhas boas, o que lhes permitiu arranjar emprego na Câmara de Lisboa, que é, por si mesma, diz-se e fala-se, será verdade?, um porto de abrigo de dirigentes incompetentes, desleixados e sem espírito de missão.
Mais, o lago dos nenúfares parece um tanque velho de uma quinta meio abandonada. Será que as plantas aquáticas precisam de lixo para ganhar mais vigor?
O Pinho dos Chifres, segundo diz o Joe Berardo e outros intelectuais e líderes portugueses do mesmo calibre e nível cívico , é um génio.
A verdade é que os seus feitos, à altura da dignidade que a Assembleia da República inspira, foram objecto de narrativa e comentário um pouco por toda a parte. Mesmo no muito circunspecto e sisudo Financial Times. Este diário teve, no entanto, que explicar aos leitores anglo-saxónicos o significado do gesto altamente político-popular do nosso Pinho bravo. Para o fazer, recorreu às peças de William Shakespeare. O tema dos cornos era muito popular nessa época, quatrocentos anos atrás.
Certos intelectuais dos nossos continuam a atacar o neoliberalismo, como o mal de todos os pecados. Para eles, neoliberalismo é sinónimo de capitalismo desencabrestado.
A pergunta é então: Onde está a resposta? No neosocialismo? Outra pergunta: Que significa neosocialismo? Obamismo à europeia, a ver o entusiasmo que agora impera?
Ou talvez uma outra pergunta seja apenas: palavras, palavras, e frases bombásticas, meus senhores, mas que alternativa de sistema apresentam?
A produção de ideias em Portugal vem da tradição bombista dos anarco-sindicalistas. Lançam-se umas pastilhas para o ar e espera-se pelo estrondo. Depois, confunde-se barulho com inteligência.
O chefe primeiro disse que os números do desemprego em Portugal são "animadores".
Será que os que os desempregados, que todos os dias são mais numerosos, sentem o mesmo tipo de optimismo? Sobretudo os que sabem que procurar emprego é uma tarefa vã, e que por isso, decidiram baixar os braços e desaparecer das estatísticas?
Ver, nos ecrãs comprados das nossas televisões, o nosso primeiro-arrogante em acção, faz-me sempre pensar que num país com a situação social do nosso, com as dificuldades que temos, a pobreza que se arrasta, a economia que se atrasa, o fundamental e' a humildade política.
Com humildade, os nossos líderes estariam mais próximos das preocupações dos Portugueses, e mais dispostos a ouvir as opiniões dos outros. Que falta faz!
PS: O corrector quer que eu substitua "primeiro-arrogante" por "primeiro-sargento". Não aceitei. Não quero ofender a classe dos primeiros-sargentos, que muita gente brilhante tem.
O insuspeito Financial Times, um dos melhores órgãos de comunicação social, ousou dizer, uns dias atrás, que o ministro das finanças de Portugal é o pior da zona euro.
Como o melhor é o senhor das finanças da Finlândia, e como estamos a chegar ao Natal, a solução seria a de enviar o nosso homem pouco-sorrisos fazer um estágio em Helsínquia e ao mesmo tempo ir pedir a bênção do Pai Natal. Talvez o PN -- não confundir com o PM -- lhe ponha um pouco de habilidade política no sapatinho.