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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

O serviço urbano de limpeza

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 Animal muito visível nas localidades de menor dimensão,na Índia, este tipo de porco é uma espécie de "empregado" municipal de limpeza, poder-se-ia dizer com alguma graça. Limpa tudo o que aparece nas ruas. E as varas são compostas por vários indivíduos.

São peritos em termos de trânsito, um feito enorme nas urbes indianas, que têm veículos por todos os lados e de todas as espécies. Nunca se deixam apanhar por um carro ou uma mota. E ninguém se mete com eles. Não são considerados como próprios para o consumo.

Fotos de Viagem: Animais selvagens

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Um dos primeiros animais vistos no Parque de Ranthambhore, a cinco horas de comboio a sul de Nova Deli.

O parque é um centro de atração famoso, por causa dos tigres. Mas ver os ditos é quase um milagre. A maior parte dos visitantes vai e volta sem ver nenhum tigre. Vê, isso sim, muitos turistas, incluindo muitos turistas indianos, que as classes com posses e mais jovens viajam imenso, por todos os cantos do seu país.

Fiquei três dias inteiros no parque. Ao segundo dia já pensava que o tigre é como um deus: acredita-se que existe mas ninguém o vê. E nesse dia, ao acaso de muitas voltas e de muito sofrimento no mato, que as pistas de Ranthambhore são umas quebra-costas dos diabos, acabei por estar lado a lado com uma mãe tigre e as suas duas crias, já de um ano de idade. Com dois anos, separar-se-ão da mãe e cada uma irá constituir um novo território exclusivo e solitário.

 

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Ilusões animais

 

No dia em que o rato subiu ao poder, devido ao acaso das circunstâncias, começou a comportar-se como um leão. Ou pelo menos, a pensar que estava a agir como um verdadeiro rei da selva. Cada palavra que resmungava soava-lhe como um rugido, quando na realidade era a apenas uma irritação verbal para os outros animais das redondezas. Cada exigência que berrava, e que lhe parecia ser um direito decorrente da posição agora ocupada, era vista como mais um indicador que um roedor nunca se poderá medir com um felino puro sangue. Acentuava o ridículo da situação. E para que todas se convencessem da sua real importância, passava horas a discursar palavras impossíveis de penetrar.

A zebra, na sua sabedoria de animal que já havia escapado a leões de verdade, passava-lhe ao lado, com a calma de quem sabe que um rato, por mais ratão que queira ser, não é mais do que um pobre diabo que gostaria de ser levado a sério.

Rapinas

 

As aves de rapina planam a grande altitude. Uma vez o meu jet quase que chocou com uma águia de grande porte, a cerca de 3 500 metros acima do solo. Uma cena que se mantém viva, na memória que muito esquece.

 

São passarões pacientes, silenciosos nos seus voos, muito focalizados, certeiros quando atacam.

 

Lembro-me de certas águias do Zimbabwe, que vivem à custa dos babuínos. Quando os macacos se sentam nos rochedos, ao fim da tarde, para aproveitar os últimos raios solares e descansar, os rapináceos mergulham a toda a velocidade, caiem dos céus com as garras fechadas, e dão um violento soco na cabeça da vítima. O voo seguinte é para levar o corpo assim atordoado, ou mesmo, já morto, por motivo de traumatismo craniano.

 

Quando se vive em terras destas, é melhor andar com os olhos sempre bem abertos. E não se deixar levar pela quietude dos dias que se esgotam. Caso contrário, teremos uma oportunidade única de ser o macaco de uma história triste.

Enxurradas

 

Depois de passar o dia no Leste do Chade, nos castanhos, tons tão variados, a encher os olhos e a dar cor às terras duras que são a minha vida de agora, voltei a casa e encontrei o meu quarto invadido. A gatinha preta, que fora adoptada durante a minha ausência em Paris, resolveu aproveitar a minha saída, sabendo-me perdido no deserto, para passar o dia deitada na minha cama, mesmo debaixo da ventoinha. Um luxo. Uma gatinha que sabe apreciar os pequenos prazeres da vida. Pequenos, porque no meu quarto, com a ventoinha a todo o valor, a temperatura nunca desce abaixo de 39 graus. 39, sim! Centígrados, meus senhores e minhas senhoras. Andar de calções, no quarto, é expor as pernas ao ar quente e sentir a carne a cozer em lume brando. Um pequeno luxo, de facto, essa ventoinha feita por um chinês do século passado.

 

A malandreca aproveitou bem o seu dia ao fresco. Nem para fazer as necessidades mais primárias saiu do quarto. Só que os meus polícias pensam que a gatinha é um elemento das Operações Especiais e alimentam-na bem. A produção foi em grande quantidade. Uma enxurrada. Tive que pedir a ajuda da turma de prevenção. A nossa polícia é de uma valia a toda a prova.

 

Foi um incidente que me fez bem. Permitiu que me esquecesse da " outra produção", a que sai da política portuguesa, com uma evacuação diária. Uma outra enxurrada, nos jornais e nas televisões. O PGR, por exemplo, um assunto actualmente muito na moda em Portugal, faz pensar numa lagartixa mansa, ao lado da nossa gatinha. Talvez a única coisa que tenham em comum é o oportunismo ocasional, o aproveitar o ar fresco, quando ninguém está a olhar. Só que, mais tarde ou mais cedo, chega a guarda e é um fugir a quatro patas.

 

Permitiu também esquecer que o investimento feito pelas Nações Unidas, no Leste do Chade e na RCA, está em riscos de ir por água abaixo. O que é uma maneira de dizer, pois na secura destas paragens, poucas águas existem. Todavia, esta enxurrada vai deixar muita coisa por fazer. E muita gente por proteger.

 

Não estou a fazer o elogio do cócó da gatinha que partilha as penas do nosso calor.  Entendam bem, que há que ter respeito por estas matérias. Mas a verdade é, que no meio de tanta merdice, há porcarias que não fazem mal ao coração.

Entre as dunas da memória

 

Estou de regresso aos meus desertos.

 

Havia, outrora, um cão perdido no deserto. Não era da variedade local, um tipo de galgos esbeltos, castanhos e dourados, de orelhas atentas e ponteagudas -- tive um desses exemplares quando estive na RCA, levei-o para a Gâmbia, quando fui enviado para essa terra, era um animal de uma inteligência rara, Rex de seu nome, e de facto tinha a postura. Mas o bicho desta historieta não era nem nunca havia sido um galgo das areias do Sahel. Era um animal como todos os outros, rafeiro vagabundo nos calores das miragens. Um pobre diabo a viver no meio de paisagens de muitas cores e de tons fortes.

 

Sentia-se tão perdido que cada vez que via passar uma caravana de homens tentava aproximar-se, passar a fazer parte da trupe. Mas os homens, quando o enxergavam ao longe, viam uma fera das dunas, não o miserável cachorro que o bicho era. Disparavam sua direcção, afugentando assim o infeliz solitário.

 

Acabou por perecer num dia em que a tempestade de areia foi ainda mais severa. Mas, na memória dos caravaneiros e dos que andam em fila indiana, ficou a imagem de uma besta feroz, caçador implacável e arguto, que só podia viver no meio das pedras secas.

 

O sapo e o elefante viajam de helicóptero

 

Entre uma viagem até à fronteira, com uma mão mal cheia de embaixadores importantes, uma entrevista à BBC (Língua Portuguesa) e outra, bem longa, à Radio France Internationale, umas reuniões com trabalhadores humanitários, e outras com autoridades da administração local, pensei numa historieta que poria um sapo e um elefante juntos, à volta da mesma poça de água. Uma lenda como muitas, em que o gigante vive sem atender aos pormenores da vida, cortando sempre a direito, e o pequenino, quando se vê ao espelho, imagina-se tão poderoso como o elefante que lhe é vizinho. Passei algum tempo a pôr contornos nesta relação estranha. Neste drama, vivido à beira da frescura da água que dá vida ao mato.

 

A historieta ficaria, no entanto, por contar. O barulho dos motores do último helicóptero do dia, o terceiro, já por volta das cinco da tarde -- "eran las cinco en punto de la tarde", escreveu Federico García Lorca, há tantos anos -- pareceu-me fora do normal. O engenho voava baixo, a cem metros do solo. Parecia que tinha dificuldades em avançar. Várias toneladas de aço soviético, produzido há tanto tempo, talvez nos momentos áureos da guerra fria. O vento, que soprava de lado, fazia-o dar golpes da cauda. Passei uma boa parte do tempo a olhar desesperadamente pela janela, a medir cada pedregulho, a estimar o diâmetro de cada clareira. Cheguei a pensar que teríamos que aterrar de emergência, no meio da desolação. Preocupei-me, então, com uma coisa estúpida: o embaixador francês havia-me dito que tinha uma jantar na sua residência, este serão, e eu comecei a pensar que o homem teria que passar a noite nestes ermos, longe dos seus convivas, que, ainda por cima, eram gente de artes e letras, de cinema e folhetins, todos muito bonitos e elegantes, e o pobre do embaixador, de botas, cheio de pó, esfomeado, a viver o frio da noite que seria passada no deserto.

 

Com tudo isto, o sapo e o elefante fugiram da minha mente. A própria poça de água, uma visão tão frequente nos desertos que me rodeiam, deixou de me parecer real. E agora, quando voltar a tentar escrever esta narração, o enredo terá sofrido e o conto será outro. É que esta vida que me ocupa não deixa grandes espaços para a imaginação.

 

 

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