Sobre as eleições checas
Os resultados das eleições gerais na Chéquia deixaram muita gente boquiaberta. E alguns, preocupados. À volta de 60% dos eleitores votaram por partidos não-convencionais, estranhos, uns, extremistas, outros. A xenofobia ganhou uma boa parte do voto. O fascismo e o ultranacionalismo saíram reforçados. E a UE ficou a perder, já que uma boa fatia dos partidos oscila entre o eurocepticismo e o ataque frontal.
O que agora aconteceu na República Checa vai no mesmo sentido da política que se pratica nas vizinhas Hungria e Polónia, e, em certa medida, na Eslováquia. E não é muito diferente da mensagem política que uma parte do eleitorado austríaco fez ouvir uma semana antes.
Como explicar estas trajectórias políticas, tão presentes na Europa Central?
Primeiro, nota-se que o nacionalismo é um estandarte que mobiliza. E dá votos. É verdade que a Europa Central – não incluo a Áustria, que sempre pertenceu ao espaço geopolítico da Europa Ocidental – viveu durante décadas debaixo de uma soberania limitada, subordinada que estava aos interesses soviéticos. O nacionalismo militante conjuga-se, assim, com libertação. Ou seja, não tem a mesma conotação que lhe damos deste lado da União.
Por outro lado, os eleitores sentem-se frustrados e enganados pelas elites políticas tradicionais. Estão dispostos, por isso, a votar em outsiders, em gente antissistema, em candidatos que falam uma linguagem directa, por vezes, muito simplificada e próxima da maneira carroceira de se dizer as coisas da política.
Mais ainda, criou-se nessa região da Europa o mito que as instituições europeias e os seus líderes olham para os cidadãos da Europa Central como gente de segunda. É uma fábula política inventada por pessoas como Viktor Orban. Paga, no entanto, dividendos.
A resposta estratégica a estas preocupações não se pode fazer esperar. É fundamental contrariar a tendência e rebater os argumentos. A UE não pode deixar os Estados Membros que estão na Europa Central fora do jogo comum.
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