Enquanto decorre a contraofensiva ucraniana contra os ocupantes russos, assistimos a uma intensificação das iniciativas diplomáticas em apoio à Ucrânia. Em Londres teve lugar uma conferência de doadores sobre a reconstrução do país, uma vez terminada a agressão. A União Europeia parece estar destinada a ser o maior financiador dessa fase. Entretanto, o Primeiro-ministro Narendra Modi esteve em Washington. E durante o fim de semana terá lugar uma iniciativa diplomática em Copenhaga, que reunirá os ocidentais com países do Sul, com base numa agenda que continua por revelar. No início da semana, Antony Blinken tinha discutido a questão ucraniana com a direcção chinesa.
Estas acções diplomáticas são importantes. A pressão da comunidade internacional conta muito. O próprio Secretário-geral tem um relatório pronto para ser divulgado, sobre os ataques russos contra escolas ucranianas. Esse relatório vai certamente colocar os russos na defensiva diplomática, tendo em conta que a questão das crianças é muito sensível. E toca directamente em Vladimir Putin.
E o 11º pacote de sanções contra a Rússia foi agora aprovado pelos países da UE, sem grandes divergências entre eles.
A comunidade internacional dá sinais de que considera que é altura de colocar um ponto final a este enredo e crime decidido por Putin. Putin pensava que a coisa se resolveria em poucos dias e por isso concentrou o seu esforço inicial em Kyiv. Errou. E a cobertura mediática da guerra tornou-a insuportável. Por isso, a pressão sobre ele está a crescer.
Antony Blinken e o seu homólogo chinês, Wang Yi, estiveram reunidos em Bali, no seguimento do encontro de ministros dos Negócios Estrangeiros do G20, durante cinco horas. Ambas as partes consideraram a reunião como positiva e encorajadora. E as primeiras informações disponíveis, após a reunião, são na verdade bastante construtivas. A China quer, ao fim e ao cabo, manter um relacionamento mutuamente benéfico. E os EUA não estão em condições de abrir uma nova frente de conflito, depois de verificarem que a Rússia está disposta a apostar na confrontação armada.
Antony Blinken lembrou hoje que a rivalidade que conta é a que existe entre os EUA e a China. As suas palavras, pronunciadas num discurso formal na George Washington University, revelam qual é a política da Administração Biden em relação à China. E que esta é a prioridade absoluta em matéria de política externa.
O lema é que a China se tornou “mais repressiva na cena doméstica e mais agressiva na internacional”.
A questão uigure ocupa uma posição central, quando se fala da repressão interna. Ainda esta semana foi objecto de revelações que mostram a extensão e a violência do problema. Mas não se trata apenas da violação dos direitos humanos dessa etnia. Hong Kong, a vigilância apertada dos cidadãos chineses, são dois outros exemplos.
Em matéria externa, uma das grandes preocupações diz respeito ao controlo e ocupação do Mar do Sul da China. A outra é a aliança com o regime de Vladimir Putin.
Mas a política americana em relação à China tem vários pontos fracos. É fundamental que Washington os reconheça e corrija. Só assim estará numa posição mais firme.
Este é o link para a minha coluna de hoje no Diário de Notícias. Não podia deixar de falar de Davos, cuja reunião anual (virtual) terminou hoje. Como também não podia deixar de referir o encontro, em Genebra, entre os americanos e os russos, ao nível dos responsáveis máximos dos Negócios Estrangeiros.
Agora que já se conhecem as grandes linhas que sairam desse encontro, voltarei ao assunto, num post seguinte.
Na véspera do encontro entre Antony Blinken e Sergey Lavrov, vive-se um elevado nível de preocupação, quer na Ucrânia quer na nossa parte do continente europeu.
As movimentações observadas nos últimos dias só podem levar à conclusão que Vladimir Putin está a preparar uma operação militar de grande envergadura. Mesmo que acabe por não a levar a cabo, as manobras actuais são um exercício de intimidação e de instabilidade inaceitável nos dias de hoje na Europa.
Essa é, para já, uma das grandes conclusões que convém tirar. Não podemos aceitar, em 2022, que uma superpotência europeia ameace os seus vizinhos. Só isso já nos deve fazer reflectir sobre que tipo de resposta se deverá dar a essa intimidação.
Toda a narrativa propalada por Putin é uma simples fabricação, criando uma falsa realidade para depois poder justificar as suas intenções bélicas. Nenhum país europeu, a começar pela Ucrânia, tem qualquer plano de agressão contra a Rússia. Essa é verdade. Ninguém, no interior da NATO, pensa invadir um milímetro que seja do território russo. Quando Putin diz o contrário, sabe que está a mentir ao seu povo para poder justificar o seu poder absoluto e as muitas perdas que uma ação militar russa acabaria por acarretar. Em caso de conflito, provocado por Putin, seria sempre o povo russo o grande perdedor. E ninguém do lado europeu quer que isso aconteça
A geopolítica continua a ter como preocupação número um a situação à volta da Ucrânia. A reunião prevista para sexta-feira, em Genebra, entre Antony Blinken e Sergey Lavrov, é esperada com alguma ansiedade. É difícil, neste momento, prever o que poderá resultar desse encontro. Creio saber, no entanto, que não há muito optimismo do lado americano.
Entretanto, os mercados bolsistas parecem ignorar este risco geopolítico. Estão sobretudo preocupados com os níveis de inflação, em particular nos Estados Unidos, e com os aumentos das taxas de juro. Vivem numa outra realidade. Também é verdade que tem havido um fluxo de desinvestimento nos mercados russos. E quem ainda lá está investido está agora preocupado em sair. Não se nota, no entanto, um movimento de pânico.
O encontro de hoje entre os chefes das diplomacias americana e russa foi um passo positivo no sentido do abrandamento das tensões existentes à volta da Ucrânia.
O antagonismo entre o ocidente e a Rússia conhece agora um pico por causa da concentração de um elevado número tropas russas junto da fronteira oriental da Ucrânia. Um destacamento dessa magnitude pode ser interpretado de duas maneiras. Ou se trata de fazer pressão política sobre os adversários, neste caso sobre o governo da Ucrânia e os países da NATO, para conseguir determinadas concessões – por exemplo impedir o aprofundamento das relações político-militares entre a Ucrânia e o Ocidente – ou então, como segunda hipótese, para preparar uma operação militar de grande envergadura.
De qualquer modo, estamos perante uma situação muito grave, com acusações mútuas e uma margem de manobra muito estreita. Se houver um erro de cálculo, de um lado do outro, a possibilidade de uma confrontação armada é real e poderá acarretar enormes consequências. É isso que se tem de evitar.
Blinken e Lavrov são dois excelentes diplomatas, pessoas muito experientes e com uma grande inteligência. A sua reunião foi profissional e abriu uma janela de diálogo.
É agora fundamental que os dois presidentes se falem directamente E assumam a responsabilidade de desanuviar a questão ucraniana.
A única via para um futuro de paz naquela região é o reconhecimento por todos que Ucrânia é um país independente, cujas fronteiras e política interna devem ser respeitadas, mas que terá de optar por uma situação de neutralidade, tendo em conta a sua geografia e a história.
Quando se trata de vizinhos, a geografia e a história pesam imenso e têm de ser tidas em conta. A sabedoria dos líderes políticos passa por esse tipo de reconhecimento. Uma ruptura brusca com o passado pode acarretar reacções muito fortes, sobretudo se um dos vizinhos for a Rússia. Esse país tem uma ligação sentimental muito profunda com a sua história e ao mesmo tempo uma leitura das relações internacionais que vê ameaças que são mais imaginárias do que reais.
As coisas sendo assim é preciso aceitar esse comportamento político como um factor importante e fazer tudo o que for possível para evitar mal-entendidos. Por outro lado, a Rússia enquanto Estado moderno tem de compreender que a independência nacional é uma questão essencial de soberania que deve ser escrupulosamente respeitada.
Este é o link para o meu texto desta semana -- de hoje -- no Diário de Notícias.
Cito o último parágrafo dessa crónica de opinião.
"O secretário de Estado americano foi a Londres propor um novo prisma de abordagem estratégica. Antony Blinken defende que o grupo não pode ser apenas um mecanismo de coordenação das grandes economias capitalistas. Deve transformar-se numa plataforma de intervenção política das democracias mais influentes. Isto é a expressão de uma crença prevalecente na atual administração americana de que os EUA têm uma missão – a de salvar as democracias. Para alguns de nós, aqui na Europa, uma proposição desse tipo gera três tipos de inquietações. Uma, relacionada com a crescente marginalização do papel político da ONU. A outra, com o agravamento da polarização das relações internacionais. A terceira, com o peso que um fantasma chamado Trump ainda poderá vir a exercer na política americana."