Dizem-me que, num país em crise profunda, os deputados se entretiveram a votar uma recomendação sobre a grelha de programas da TV pública. Parece que aconselharam o governo a incluir no canal televisivo oficial uma série semanal sobre batatas e cebolas, couves-galegas e animais de capoeira, e por aí fora, tudo numa perspectiva indefinida e abstracta de uma TV Rural.
A razão deve ser, imagina-se, porque muitos dos habitantes desse país distante estão a voltar a viver ao nível de uma economia de subsistência. Sem contar, claro, que este tipo de resoluções mantém os deputados entretidos, sem que ninguém se lembre de os mandar às favas.
No reino político dos Yes-men, os senhores deputados são, na maioria dos casos, escolhidos por razões de fidelidade absoluta ao líder do partido. As eleições legislativas são apenas uma oportunidade para se mostrar uma preferência por um partido, ou o desagrado por uma liderança. Não têm nada que ver com a qualidade dos candidatos a deputados.
Com uma assembleia formada assim, que esperar?
Sobretudo às Sextas-feiras, nas vésperas de uma ponte de feriados importante?
Esta é a grande falha do nosso sistema democrático. Os partidos políticos não só sofrem de uma défice de democracia interna, mas acabam por promover apenas os mais alinhados com a direcção do momento. Isto favorece a carreira dos oportunistas, espertalhaços e que sabem como o sistema partidário e de poder funcionam, bem como o aparecimento de toda uma classe política de medíocres, mas profundamente fiéis, não ao clube, mas ao patrão que está em Lisboa, à frente da máquina, do aparelho do partido.