Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias. É uma escrita com várias mensagens, mas quero aqui destacar duas. Primeiro, que a cooperação entre as grandes potências é fundamental para o futuro da humanidade. Segundo, que existem meios para acelerar a transição climática, como existem meios para investir em todo o tipo de armamentos sofisticados. É tudo uma questão de confiança entre os grandes e de vontade política.
O assassinato do cérebro da energia nuclear iraniana foi executado de um modo profissional. Li várias descrições do que poderá ter acontecido porque existem diferentes versões da maneira como a emboscada foi executada. E de quantos veículos, motas e agentes estariam envolvidos. Mas não tenho dúvidas que foi uma operação de forças especiais. Exigiu meios, informações e executantes bastante sofisticados e perfeitamente treinados. Daqui é fácil de concluir que o assassinato foi planeado, organizado e levado a cabo por um Estado hostil ao Irão.
O principal motivo poderá ser distinto daquele que é mais óbvio, o de desferir um golpe importante que atrase o avanço do programa nuclear iraniano. Esse programa está numa fase que já não depende apenas de um cientista-chefe. O Irão tem várias equipas especializadas em matéria nuclear, incluindo no domínio da transformação do nuclear para fins bélicos. O verdadeiro motivo será outro. O estado promotor deste acto sabe o que pretende. O assassinato foi uma aposta muito grande, feita na esperança de atingir o objectivo principal.
A edição de 2019 da Conferência de Munique sobre a Segurança começou hoje e decorre até domingo. Este encontro é um dos momentos altos do calendário anual das grandes conferências internacionais.
Assistimos, nesta década, a uma proliferação de conferências de todo o tipo e sobre os mais variados temas, nas diversas regiões do globo. A maioria dessas iniciativas passa despercebida e não tem qualquer tipo de impacto na tomada de decisões estratégicas ou no diálogo internacional. Tal não é o caso de Munique. Munique tornou-se no Davos das questões de segurança, conflito e paz. Pesa e conta.
Este ano, como já é hábito, terão lugar uma série de encontros bilaterais entre os Estados Unidos, a Rússia e a China, bem como outros.
A situação na Síria, no Sahel, a questão do armamento nuclear e as dimensões de segurança que possam resultar das alterações climáticas estão na agenda. Como continua na agenda a crise na Ucrânia. Fora da agenda, como sempre, estará o conflito israelo-palestiniano. É de demasiado melindroso, para uns, insolúvel, na opinião de outros. Acho bem.
"As declarações políticas mais recentes e as subsequentes decisões do governo em matéria de equipamentos e gastos militares mostram claramente quais são as prioridades de defesa do Japão atual. Revelam, igualmente, a complexidade do xadrez geopolítico em que o Japão se insere. A curto termo, trata-se de reforçar o sistema antimísseis, tendo presente os riscos e a imprevisibilidade da liderança da Coreia do Norte. A médio prazo, a intenção é a de aprofundar a cooperação económica com a vizinha Rússia, especialmente à volta do Ártico. Uma cooperação que possa levar, finalmente, à assinatura de um acordo de paz entre ambos. A outra faceta, no mesmo horizonte temporal, tem que ver com a expansão hegemónica da China, nos mares e nos céus que rodeiam o Japão. Essa é a ameaça fundamental, estratégica, na ótica de Tóquio", afirma Victor Ângelo, antigo alto quadro da ONU, onde chegou a ser equiparado a secretário-geral adjunto."Entretanto, agora e no futuro previsível, os líderes japoneses sabem que continua a ser absolutamente indispensável privilegiar a relação de defesa com Washington", acrescenta Victor Ângelo, notando que demorará anos a completar-se o reforço militar japonês.
Extracto do artigo que Leonído Paulo Ferreira publicou no DN sobre as novas opções militares do Japão. Esta foi a minha contribuição.
Ontem o mundo teve oportunidade de ouvir duas declarações preocupantes.
Por um lado, tivemos Vladimir Putin a discursar sobre os novos tipos de armamentos que a Rússia diz ter desenvolvido. Falou, nomeadamente, de mísseis nucleares. E mostrou-se muito beligerante, sempre a pôr o acento na força militar, como meio de ganhar espaço geopolítico e credibilidade na cena internacional. A conversa não era bluff. É para levar a sério.
Do outro lado do mundo, mas tão perto dos nossos interesses como Putin, falou Donald Trump. Também ele usou um tom conflituoso, ofensivo e provocador. Abriu as portas a um outro tipo de crise, à espiral das disputas comerciais. Num mundo que está hoje mais globalizado que nunca, um discurso desse tipo é muito perigoso. Para todos, incluindo para os concidadãos de Trump.
O mês de março começou assim com muita violência. Marcadamente, pela negativa. Quem analisa as relações internacionais não pode deixar de sublinhar que este tipo de declarações não têm nada de positivo nem de encorajante. Antes pelo contrário. E lembram-nos que é a jogar com o fogo que muitos incêndios começam.
Sou um telespectador acidental, no que respeita aos canais de televisão portugueses. Por várias razões, mas sobretudo pela má qualidade do que se mostra nos nossos ecrãs. Assim, mesmo quando me encontro em Portugal, passo ao lado.
Ontem, num momento de acaso, caí no debate que a RTP 1 chama “Prós e Contras”. Discutia-se Tancos, as Forças Armadas e os diferentes níveis de responsabilidade.
Dos presentes, apenas os dois generais sabiam da poda. O resto era conversa, académica, livresca ou simplesmente fora da substância. Confrangedor. Metiam-se os pés pelas mãos e confundiam-se conceitos básicos. Incluindo, como já vem sendo costume, defesa como se fosse segurança e vice-versa.
Para cúmulo, a moderadora mostrou uma vez mais o pouco jeito que tem para animar discussões que ultrapassem os temas de lana-caprina.
Os meus comentários esta semana. Magazine Europa é um programa da Rádio TDM de Macau sobre questões europeias. Sou o comentador residente do programa.
Os comentários centram-se nas relações entre a Europa e a China, o papel que podem desempenhar na liderança das questões climáticas, no futuro das relações europeias com os Estados Unidos, incluindo os aspectos de defesa, e ainda sobre os principais traços do orçamento europeu para 2018.
Estamos nas vésperas de mais uma cimeira UE-China, desta vez em Beijing. Creio que será a primeira cimeira da humildade europeia. Até agora, os dirigentes da União olhavam para a China com algum desdém, com um ar de superioridade mal contida. Desta vez, será diferente. A Europa está mergulhada numa crise estrutural profunda, sente-se, de certo modo, à deriva, enquanto a China continua a ter uma visão expansionista e optimista da sua economia e da sociedade.
Estamos a assistir um processo de reequilibragem das relações internacionais que é apenas natural. O que não era normal era ter um cantinho do mundo, meia dúzia de estados da Europa Ocidental, numa posição de domínio das relações económicas e políticas internacionais. Assim aconteceu durante séculos. Temos que aceitar a realidade e não cair na tentação racista, retrógrada, de diminuir ou ridiculizar o que é chinês.
Entretanto, nem tudo são rosas, do lado chinês. Soube hoje que as despesas militares da China, que atingiram cerca de 120 mil milhões de dólares em 2011, vão chegar aos 238 mil milhões em 2015. Este acréscimo é enorme, fora de proporção, num espaço de tempo bem curto. Revela o peso político dos militares chineses, bem como os receios extremos que os animam, sobretudo em relação ao Japão e aos EUA. Vão levar a uma corrida aos armamentos, quando o que todos precisamos é de uma verdadeira corrida contra a pobreza.
Com o mundo cada vez mais computorizado, uma situação que torna a vida moderna totalmente dependente do bom funcionamento dos sistemas informáticos, as guerras do futuro passar-se-ão nas salas de programação software, com centenas de jovens na casa dos vinte anos a desenhar emaranhados complexos de vírus destinados a atacar os sistemas informáticos inimigos.
É a guerra cibernética. Uma guerra sem uniformes, de gente vestida com jeans e t-shirts, alimentada a hambúrgueres e coca-colas. Estas serão as rações dos combatentes dos tempos que se aproximam. As trincheiras serão as mesas dos computadores, as armas, a matemática, a programação, a engenharia de sistemas, as ligações em rede, os fire walls e a sofisticação das senhas de acesso aos programas. Os novos combatentes não vão precisar de se ausentar de casa. Continuarão a ter uma vida de família normal, a entrar para o emprego a horas regulares, a ir ao cinema à noite e aos dancings ao fim-de-semana. Saem da guerra a horas certas e desligam, psicologicamente falando.
Esta nova frente de conflito, este novo tipo de ataques preventivos, defensivos ou malignos obrigará a repensar por completo os sistemas de defesa. Os meios clássicos passarão a ter menos peso. Serão ainda necessários, como é óbvio. Mas estarão, muito provavelmente, mais voltados para o combate contra as rebeliões e os grupos terroristas ou piratas. Para fazer frente às ameaças assimétricas, ou seja, provenientes de combatentes irregulares, estruturados de maneira simples e constituídos em pequeno grupos. No entanto, mesmo este tipo de intervenções estará cada vez mais informatizado. Basta ver o que se passa com os pequenos aviões sem piloto - os UAV - para entender que se pode ter um centro de comando dessas máquinas no Algarve, à beira da praia, e fazer voar os ditos objectos, mesmo se estacionados no pólo oposto. E, assim, atacar com uma precisão cada vez maior os alvos seleccionados.
Bombardear uma central nuclear, num país hostil, por exemplo, terá um outro significado. Não serão mobilizados aviões e mísseis. Nem comandos especiais. Serão bombardeados com programas de computação que criem o caos nos sistemas de gestão informática da central.
Dizem que é o que já está a acontecer no caso concreto do Irão. Penso que é cedo para tirar conclusões sobre o que se está a passar numa das centrais desse país. Mas a notícia mostra claramente que já estivemos mais longe de uma ofensiva desse tipo.
As informações parecem revelar que os senhores armados se preparam para uma ofensiva diferente. Não aqui. Do outro lado da linha de fronteira, na região mais a Norte do Darfur, em aliança com as tropas de Khartoum. Contra os homens do Justice and Equality Movement (JEM).
Lutar pelo controlo das areias. É uma maneira de marcar pontos, tendo em vista as negociações de paz que decorrem em Doha. De um lado, o governo do Sudão. Do outro, o JEM.
É normal lançar ofensivas guerreiras quando se está a negociar a paz. Faz aumentar a parada. Um período de maior perigo é exactamente quando a paz começa a ser possível. Às armas, cidadãos!
Assim se faz diplomacia. Embora me pareça triste morrer quando se está à beira de acordo de paz.