Esta semana, Vladimir Putin pareceu mostrar alguma confusão estratégica. Um dia disse uma coisa, no seguinte afirmou o contrário. Tudo à volta do uso de armas nucleares e de alta tecnologia. Parece confusão, mas não é. É um jogo para desnortear o inimigo.
Ele está a trazer o tema para cima da mesa, com a clara intenção de fazer uso desse tipo de armamento, se se achar ameaçado. Uma utilização preventiva, acabou por dizê-lo. Mas a noção de agir antes dos outros, por parecer que há uma ameaça que está prestes a ser concretizada, é altamente perigosa. Por isso continuo a dizer que estamos agora num momento particularmente arriscado do conflito.
A leitura que faço das suas palavras e das imagens públicas que vão aparecendo, retratando-o aqui e acolá, confiante e bem-disposto, fazem-me temer que Putin esteja convencido que chegou o momento de alargar o conflito. E que tenha feito a avaliação que poderá sair desta confrontação vitorioso. Ora, um conflito desse tipo, com armas nucleares e ultra-sónicas, não acaba com vitórias. Acaba, isso sim, com um grau impensável de destruição.
Este é o link para a minha crónica de hoje no Diário de Notícias. Cito, de seguida, umas linhas desse meu texto.
"Mais ainda, escrevi que se fosse disparado um primeiro tiro, por muito tático, local e limitado que fosse, seria sempre o ponto de partida para uma grande guerra.
Assim continuo a pensar e julgo que estou na mesma onda de pensamento de Vladimir Putin. Dito de modo mais claro, não creio que, neste momento, o presidente russo esteja pronto para recorrer ao armamento nuclear, mesmo quando faz cara de mau e jura que não é bluff. Sublinho, note-se, neste momento."
As sanções económicas e financeiras que foram decididas este fim de semana contra a Rússia terão um impacto muito profundo.
A questão do SWIFT é particularmente importante. A experiência com casos passados – Coreia do Norte e Irão – revela que uma grande parte do comércio externo do país sancionado fica suspensa. O sistema de pagamentos internacionais deixa de funcionar e as alternativas são escassas e complexas. A Rússia criou no passado recente um sistema independente do SWIFT, mas o número de bancos aderentes não ultrapassa as duas dezenas. E esses bancos, ao ter em conta as medidas de exclusão agora decididas, irão certamente hesitar no que respeita a transacções com a Rússia, com receio das penalidades e repercussões secundárias.
Mas ainda mais importante é a decisão de bloquear muitas das operações do Banco Central da Rússia. Vladimir Putin contava com os 630 mil milhões de dólares que esse banco tem como reservas em divisas e em barras de ouro. O problema é que uma boa parte dessas reservas se encontra depositada noutros bancos centrais, em países que agora adoptaram o regime de sanções. Assim, vai ser muito difícil ter acesso a esses depósitos. Isto vai levar a uma crise profunda da moeda nacional, o rublo, bem como a dificuldades de financiamento dos bancos comerciais russos.
A extrema gravidade destas medidas punitivas poderá explicar a decisão tomada hoje por Vladimir Putin de ameaçar os países da NATO, ao decretar o alerta máximo das forças russas de dissuasão nuclear.
Estamos num processo de agravamento sucessivo e acelerado da confrontação entre as partes.