Está a decorrer na Cordoaria Nacional, em Lisboa, uma exposição de trabalhos de Ai Weiwei. Vale a pena visitar.
Ai é um artista multifacetado e, ao mesmo tempo, um militante por uma China democrática. Uma boa parte das suas obras tem um profundo significado político. Um segmento da exposição é constituído por caixas totalmente fechadas, que ilustram várias cenas da sua detenção pela polícia chinesa. Cada caixa tem apenas duas pequenas janelas, que permitem visualizar o que acontece a um preso político no regime comunista chinês. O realismo desses trabalhos é absoluto. E a originalidade está garantida.
Alguns dos meus amigos artistas portugueses não conseguem digerir a mensagem política que a criatividade de Ai Weiwei transmite. Apesar de serem artistas plásticos, são acima de tudo umas pessoas obcecadas ideologicamente. E a sua obsessão ideológica fá-los dizer cobras e lagartos sobre o trabalho do colega chinês. Vejo essa atitude como uma burrice intelectual, que seria um perigo, se alguma vez as ideias e as organizações que esses portugueses defendem chegassem ao controlo do poder.
Na minha visão, um dos papéis da arte é ser um desafio. Ai Weiwei é certamente um desafio para os líderes chineses e para os nossos ditadorezinhos de ideias fechadas.
Passo estes dias, até sexta-feira, no ventre de uma montanha, na costa oeste da Noruega. As salas de reunião e os gabinetes de trabalho foram construídas recentemente. Os corredores que nos levam aos diversos compartimentos do “ventre” têm decorações pintadas nas paredes, obras dos artistas da região. Como se trata de uma construção recente, a regra, nesta terra, é que 2% do valor total da obra sejam destinados ao enriquecimento artístico do edifício. À compra de expressões artísticas locais. Boa ideia. Apoia a criação e humaniza o cimento, sobretudo este, muito especial e bem dentro de uma montanha que, vista de fora, é simplesmente como muitas outras.
Julie-Anne Nungarrayi Turner, nascida em 1975 no Território do Norte, Austrália, é uma das pintoras Aborígenes que mais tem chamado a atenção dos colecionadores. Os seus quadros descrevem, de uma maneira idealizada, a vida das mulheres da sua tribo, cujas terras ancestrais se situam a cerca de 300 quilómetros a noroeste da pequena mas agradável cidade de Alice Springs.
Hoje foi dia grande aqui em casa. Um quadro de Julie-Anne, pintado em Setembro de 2013, foi pendurado no corredor da entrada e passou a fazer parte das cores por onde se admiram os meus olhos.
Lembra-me, também, o lado mais colorido da vida aborígene, que, em geral, é muito difícil e marginalizada.
Também me lembra a mulher portuguesa que estava de serviço como agente de segurança no aeroporto de Alice Springs, quando por lá passei recentemente. Natural da região de Viseu, há vinte e tal anos no meio do nada e do Sol que é Alice Springs, ficou contente por ter que revistar um português e aproveitou para me dizer que as filhas foram uma ou duas vezes a Portugal, do outro lado do mundo, para que não esquecessem onde estão as suas raízes.
Julie-Anne pinta também para não esquecer onde estão as suas.
Actualmente vive em Adelaide, no Sul da Austrália.
Aconselho vivamente que passem pela exposição de Joana Vasconcelos. Oferece um excelente pretexto para visitar um palácio que vale a pena ver com cuidado, o Palácio da Ajuda. E para apreciar as maravilhosas peças de arte que o decoram, desde a segunda metade do século XIX.
Existem salas de concerto e teatro em vários sítios e estão sempre cheias.
O guitarrista Jesse Cook e a sua banda deram hoje um grande espectáculo de rumba flamengo, como eles dizem, no auditório da Sala dos Congressos de Riga. Lotação esgotada, uma vez mais, num anfiteatro com mais de dois milhares de assentos. Os espectadores seguiram o concerto com grande interesse, mas, habituados ao respeito, não pulavam nem dançavam nos seus lugares. Tiveram que ser chamados à pedra, várias vezes, por Jesse. Então a calma do Norte transformou-se numa euforia do Sul. Embora mais contida.
Já antes do espectáculo me havia sido dito que em 2008 o governo havia cortado os salários da função pública em cerca de 30%. A reacção foi a de aceitar sem fazer ondas, que por estes lados da Europa a disciplina cívica é entendida de outra maneira.
Quando perguntei se já estão a sair da crise, quatro anos depois, a resposta também foi muito comedida. Sair, sair, talvez ainda não...
A Casa da Opera, no centro de Riga, estava, este serão, mais uma vez a abarrotar, para uma representação do ballet Gisela. Nestas paragens, a ópera, a dança clássica, a música erudita são actividades consideradas fundamentais para a cultura do povo. Os bilhetes de entrada são, por isso, muito acessíveis. O mais caro custava, hoje, menos de 25 euros.
São também encenados com muita beleza e elegância. Que a beleza e elegância elevam o carácter dos cidadãos e fazem bem ao estado de espírito.
Visitei o museu Magritte, em Bruxelas. Lá estava o célebre quadro que diz que "isto não é um cachimbo"... De facto, não é. É uma representação, apenas, uma ilusão a cores, sobre tela, uma invenção artística, um rasgo de génio sem consequências práticas.
Fiquei depois a pensar que talvez também haja um país ou outro, lá longe, que quando se olha para ele se tenha que dizer, de igual modo, "isto não é um país..."
É de mencionar, como uma excelente iniciativa, a exposição de trabalhos artísticos promovida pela Divisão da PSP de Oeiras e que pode ser vista no Centro Comercial Alegro de Alfragide. Crianças, algumas delas em idade de infantário, de várias escolas do concelho, foram convidadas a utilizar materiais reciclados, como caixas de ovos, embalagens de leite, recipientes de todo o género, cartão de recuperação, e criar obras de arte sobre a tolerância, a diversidade étnica, a escola segura, o meio ambiente, a violência entre os alunos.
Alguns dos trabalhos revelam uma grande potencialidade artística. O conjunto é atraente e vale a visita.
A iniciativa permite ainda uma maior aproximação entre a Polícia e as crianças, sem excluir os pais e todos os que, vindo de fora de Portugal, vivem em condições precárias na zona de Oeiras.