Hoje queria apresentar-vos o Alexandre. Quase todos os dias o vejo, na passagem subterrânea que liga o Centro Cultural de Belém à esplanada do Padrão dos Descobrimentos. É aí que vive uma parte do dia, a tocar a sua gaita-de-beiços e à espera da gratidão alheia. Tem 60 anos e mora numa casa de acolhimento, longe de Belém, nos arredores da Praça do Chile.
Agora, não há turistas, a passagem está praticamente deserta, mas o Alexandre é um lutador, não desiste e continua a tocar, no vazio enorme que é aquele corredor.
Perguntei-lhe esta manhã se continuaria a vir durante o período do confinamento. Disse-me que sim. E acrescentou que o fará, mesmo se a música for apenas para fazer eco nas paredes da passagem. A verdade é que ele, além de necessitar do que lhe possam dar – que agora é nada – também precisa de estar ali a tocar, a sentir-se livre e artista de rua. E ocupado. É uma questão mental, segundo percebo.
Quando as vacas eram mais gordas, noutros tempos, as pessoas passavam por ali aos magotes. Muitos não o viam, que este tipo de pobres é invisível para muita gente. Mas atravessavam ao som da sua música.
Ele não saberá muito de música, porque os tons são quase sempre os mesmos. Mas sabe que estar por ali, nestes tempos difíceis, o mantém em equilíbrio. E isso é mais importante que o euro que possa ser depositado no seu chapéu.
Quando lá passarem, cumprimentem-no e digam-lhe que são amigos do Victor. Ele ficará muito contente. Sentir-se-á menos isolado.
Para além de tudo o que tem sido dito de bem sobre Manoel de Oliveira, que hoje completou uma vida extraordinária, só quero acrescentar que ele deu o exemplo de como se pode ser português e universal, ao mesmo tempo, como é possível ser-se reconhecido dentro de portas e também por muitos cantos do mundo. Esta é a vocação dos grandes: ser grande em toda a parte.
Julie-Anne Nungarrayi Turner, nascida em 1975 no Território do Norte, Austrália, é uma das pintoras Aborígenes que mais tem chamado a atenção dos colecionadores. Os seus quadros descrevem, de uma maneira idealizada, a vida das mulheres da sua tribo, cujas terras ancestrais se situam a cerca de 300 quilómetros a noroeste da pequena mas agradável cidade de Alice Springs.
Hoje foi dia grande aqui em casa. Um quadro de Julie-Anne, pintado em Setembro de 2013, foi pendurado no corredor da entrada e passou a fazer parte das cores por onde se admiram os meus olhos.
Lembra-me, também, o lado mais colorido da vida aborígene, que, em geral, é muito difícil e marginalizada.
Também me lembra a mulher portuguesa que estava de serviço como agente de segurança no aeroporto de Alice Springs, quando por lá passei recentemente. Natural da região de Viseu, há vinte e tal anos no meio do nada e do Sol que é Alice Springs, ficou contente por ter que revistar um português e aproveitou para me dizer que as filhas foram uma ou duas vezes a Portugal, do outro lado do mundo, para que não esquecessem onde estão as suas raízes.
Julie-Anne pinta também para não esquecer onde estão as suas.
Actualmente vive em Adelaide, no Sul da Austrália.
Aconselho vivamente que passem pela exposição de Joana Vasconcelos. Oferece um excelente pretexto para visitar um palácio que vale a pena ver com cuidado, o Palácio da Ajuda. E para apreciar as maravilhosas peças de arte que o decoram, desde a segunda metade do século XIX.
É de mencionar, como uma excelente iniciativa, a exposição de trabalhos artísticos promovida pela Divisão da PSP de Oeiras e que pode ser vista no Centro Comercial Alegro de Alfragide. Crianças, algumas delas em idade de infantário, de várias escolas do concelho, foram convidadas a utilizar materiais reciclados, como caixas de ovos, embalagens de leite, recipientes de todo o género, cartão de recuperação, e criar obras de arte sobre a tolerância, a diversidade étnica, a escola segura, o meio ambiente, a violência entre os alunos.
Alguns dos trabalhos revelam uma grande potencialidade artística. O conjunto é atraente e vale a visita.
A iniciativa permite ainda uma maior aproximação entre a Polícia e as crianças, sem excluir os pais e todos os que, vindo de fora de Portugal, vivem em condições precárias na zona de Oeiras.