Aung San Suu Kyi, a líder birmanesa que ganhou as eleições legislativas em finais do ano passado e que foi derrubada por um golpe de estado militar em Fevereiro deste ano, foi hoje condenada por um tribunal fantoche do seu país a 4 anos de prisão.
Depois de conhecida a sentença, os militares no poder reduziram-na de dois anos. Mas existem ainda várias outras acusações poderão significar, efectivamente, uma condenação perpétua. Suu Kyi tem agora 76 anos e, aparentemente, os generais querem que passe o resto da sua vida na prisão.
Esta condenação foi título de primeira página nos meios de comunicação social internacionais. Suu Kyi continua a atrair atenção dos defensores dos direitos humanos, para além de ser uma presença elegante e determinada na cena internacional. Por outro lado, é uma líder muito popular no seu país, um símbolo da liberdade contra a ditadura cruel dos militares. A única mancha no seu currículo político relaciona-se com a defesa que fez dos militares, quando estes resolveram expulsar as populações Rohingya do território nacional.
O que os meios de comunicação social não disseram é que a Junta Militar tem o apoio directo de Vladimir Putin. Enquanto os chineses se mantêm distantes em relação aos golpistas, a Rússia fornece ajuda militar e solidariedade diplomática. Essa é mais uma razão para dizer que Vladimir Putin não tem qualquer tipo de dificuldades em sustentar um regime ilegítimo, violento e corrupto. Um regime que é unanimemente condenado e ostracizado pelos países da região e também pela comunidade internacional.
A situação em Myanmar piorou bastante nestes últimos dias. Agora, a polícia e os militares atiram a matar. E publicam vídeos nas plataformas sociais com ameaças de morte contra os manifestantes. Apesar disso, a população continua a vir para as ruas e a expressar a sua oposição ao golpe militar. A coragem que mostram é exemplar. Merecem todo o apoio que lhes possa ser dado. Por isso, sugiro que a União Europeia se reúna com os líderes da região (ASEAN) e procure saber qual é a sua opinião sobre as acções que os europeus poderão tomar, em concerto com esses países, para aumentar a pressão sobre os generais golpistas. Esta é uma oportunidade que temos de mostrar que não agimos sem consultar os países da região.
Singapura, que é o maior investidor estrangeiro em Myanmar, já disse claramente que o golpe é inaceitável. É uma posição clara e muito importante.
Entretanto, a China está a perder terreno em Myanmar. Uma grande parte dos manifestantes considera que Beijing apoia os militares. Essa percepção não ajuda em nada os interesses chineses. Anteriormente já havia bastante relutância em aceitar os colossais investimentos vindos da China. No futuro, a relutância passará a ser resistência. Uma das dimensões que está a resultar da presente situação é um enorme desenvolvimento do orgulho nacionalista birmanês. Ora, um dos alvos tradicionais do nacionalismo nesse país é a China.
Estive ontem numa reunião sobre ASEAN, a Associação dos Estados da Ásia do Sudeste, uma comunidade que reúne 10 países, num total de 600 milhões de habitantes.
Timor é candidato a membro, mas tem encontrado a oposição de Singapura, que considera a antiga colónia portuguesa como demasiado subdesenvolvida para poder ser admitida. Curiosamente, o grande aliado de Timor é o governo de Jacarta. Assim, com o apoio explícito da Indonésia é muito provável que Timor consiga entrar para a ASEAN em breve.
A UE é um grande parceiro comercial destes estados. Existem acordos privilegiados de comércio com Singapura, a Malásia e o Vietname. Outros países deverão seguir o mesmo exemplo, se Bruxelas souber jogar bem as cartas. Mas a região privilegia, acima de tudo, as relações económicas com a China, a Coreia do Sul, o Japão, a Austrália e a Nova Zelândia, por razões de proximidade. A Índia é, também, um parceiro cada vez mais presente na região.
Com uma taxa de crescimento económico de 8,2% em 2011 e de 7.3% (prevista) em 2012, ASEAN tem um dinamismo que faz inveja a muitos. Mas também tem muitos problemas por resolver. Certos estados membros têm um nível de desenvolvimento relativamente baixo - o Camboja e Myanmar são dois exemplos - e existem problemas de governação, transparência das contas publicas e de direitos humanos. Como existem, igualmente, algumas tensões militares, quer internas quer com a China, e problemas de pirataria no estreito de Malaca.
É, no entanto, uma região que vale a pena acompanhar com atenção. A UE precisa de reconhecer a importância económica e estratégica desta região da Ásia. E deve definir uma política comum para a região.