Este é o link para o meu texto desta semana, hoje publicado no Diário de Notícias.
Trata-se de reflexão prospectiva sobre o futuro a curto prazo do regime talibã. Abordo a urgência humanitária, a situação económica e a questão do reconhecimento diplomático do novo regime.
"O reconhecimento do novo regime, incluindo a sua representação na ONU, vai depender da posição que cada membro do G20 vier a adoptar. Acontecimentos recentes mostram uma tendência para o estabelecimento de contactos pontuais, enquanto ao nível político se continuará a falar de valores, de direitos humanos, da inclusão nacional ou do combate ao terrorismo. E a mostrar muita desconfiança para com a governação talibã. Com o passar do tempo, se não surgir uma crise migratória extrema ou um atentado terrorista que afecte o mundo ocidental, o novo regime afegão, reconhecido ou não, poderá ser apenas mais um a engrossar a lista dos estados repressivos, falhados e esquecidos." Este parágrafo fecha o meu texto.
O 75º aniversário das Nações Unidas celebra-se hoje. Tenho visto, por toda a parte, manifestações de apreço pelo trabalho da organização. Ainda bem, pois a ONU é um actor indispensável nos domínios da procura da paz, do desenvolvimento, dos direitos humanos e da assistência humanitária. Estes são os quatro pilares do sistema, que é igualmente formado por toda uma série de agências especializadas, que tratam de todas as facetas das relações internacionais.
Pessoalmente, tive a sorte de trabalhar 32 anos na ONU, nos campos do desenvolvimento, da coordenação humanitária e da paz e segurança. Como fui representante da ONU durante uma boa parte dos meus anos de serviço, acabei por trabalhar com a grande maioria das agências, ao nível político e da coordenação, embora não ao nível técnico. Foi uma experiência profissional única. Encontrei, ao longo dos anos, algumas das melhores inteligências bem como estrategas excepcionais.
Queria deixar aqui uma homenagem aos seis jovens trabalhadores humanitários, membros da ACTED, uma ONG francesa que opera em vários países em crise, e aos dois acompanhantes nigerianos (Niger) que este domingo foram barbaramente assassinados por terroristas islamistas, a cerca de uma hora de carro de Niamey. Infelizmente, esta zona do Sahel, que compreende vários países, está cada vez mais ameaçada pelo terrorismo. As forças armadas e de segurança desses países não conseguem assegurar a segurança dessa vasta área, apesar da assistência militar francesa, norte-americana e de outros países europeus. A execução destas oito pessoas a sangue-frio veio tornar ainda mais difícil a presença de organizações internacionais na região. A pobreza e a falta de perspectivas são cada vez mais reais. Sem apoio externo, sem economia, sem segurança, o Sahel só pode ir de mal a pior.