Nos Estados Unidos, apenas três tipos de vacinas receberam a luz verde que se designa por Emergency Use Authorization (EUA), a autorização que é dada pela U.S. Food and Drug Administration (FDA): trata-se das vacinas da Pfizer, da Moderna e da Janssen (Johnson & Johnson).
As outras ainda não completaram – ou mesmo, ainda não iniciaram – o processo de aprovação. É o caso da AstraZeneca. Mas isso não quer dizer que a vacina da AstraZeneca não seja eficaz.
Os Estados Unidos não estão a importar vacinas europeias. Também não estão a exportar para a Europa.
A campanha de vacinação americana é muito eficiente. O Presidente Biden tem dado uma atenção prioritária ao assunto. Como aliás outros também o deveriam fazer. Neste momento, não há nada mais político que o sucesso de uma boa campanha de vacinação.
A confusão destes dias sobre a vacina da Astrazeneca mostra, uma vez mais, a importância de uma comunicação clara e directa sobre as campanhas de vacinação. Essa deve ser a responsabilidade dos dirigentes políticos. O sucesso das campanhas é essencial. Por isso, a maneira de falar sobre o assunto tem de responder às interrogações que os cidadãos possam ter e levá-los a aceitar as vacinas existentes e reconhecidas pelos cientistas. A impressão que fica é que os políticos não têm sabido comunicar sobre o assunto. Essa falha abre a porta aos promotores de teorias da conspiração. Ou, pelo menos, ao cepticismo e à irritação popular.
O ritmo de vacinação dos cidadãos é uma questão altamente política. Vai directamente ao centro de duas questões particularmente importantes: a da preservação da vida de cada um e a ética. As demoras, a má organização, a politização de certas vacinas, por virem da China ou da Rússia, ou de outro sítio qualquer, a falta de diálogo com esses países, para que o processo de aprovação das suas vacinas possa começar ao nível da Agência Europeia do Medicamento, a confusão que certos governantes europeus criaram à volta da AstraZeneca, tudo isso tem um impacto imediato e directo sobre a vida das pessoas, o seu confinamento prolongado, o contágio e, infelizmente para muitos, a perda de vida. A questão é de tal maneira multidimensional no seu impacto, incluindo na economia e nas relações sociais, que não poderá haver nenhuma outra matéria que deva merecer mais atenção, por parte das autoridades políticas, nacionais e europeias. A imagem que sobressai é que essa prioridade absoluta não está a ser reconhecida. E que as lideranças não conseguem sair do quadro rotineiro a que estão habituadas.
Por outro lado, as reportagens de líderes a serem vacinados antes da grande maioria dos mais frágeis também levantam interrogações políticas e de ética. Têm de se explicar melhor a razão que leva os políticos a passar à frente, a furar a fila de espera. Caso contrário, fica a impressão amarga de que, uma vez mais, a política é exercida para benefício pessoal.
Admira-me que os populistas que por aí andam não tenham ainda tentado tirar proveito destas falhas. Temos aqui temáticas que poderão facilmente ser exploradas politicamente. E, com jeito, dariam lume para muita agitação social.
Os líderes da União Europeia reuniram-se hoje por videoconferência. A principal conclusão que tiro da reunião é que eles compreendem que a campanha de vacinação não está a avançar ao ritmo que deveria. Uma das razões é certamente a falta de vacinas. As farmacêuticas ainda não têm capacidade para produzir vacinas em quantidades que correspondam à procura. Mas há outras questões. E não são apenas relativas ao atraso nas encomendas feitas por Bruxelas. Estão relacionadas com a fraca aceitação da vacina produzida por AstraZeneca – os governos criaram confusão nas cabeças dos europeus sobre a eficácia desta vacina –, bem como com questões políticas. Os europeus deveriam encomendar as versões russas e chinesas. É uma decisão de saúde pública. Não o querem fazer, não querem dar o braço a torcer, o que é um erro. A política não deve ser mais importante do que a vida das pessoas. A Hungria está a aplicar a vacina chinesa, à revelia da política europeia em relação ao assunto. Desta vez, tenho de dar razão a Viktor Orbán.