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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Prevenir e estar atento

Paris lembra hoje os atentados terroristas que sofreu há um ano atrás. Ao mesmo tempo, os expoentes mais significativos da sua classe política continuam a interrogar-se sobre as maneiras mais eficazes de proteger os cidadãos e impedir novos ataques.

É um debate sem fim. Mas muito útil.

Infelizmente para nós, é uma discussão que tem estado ausente em Portugal. Teríamos muito a ganhar se houvesse uma reflexão a sério sobre a nossa segurança interna. Nestas coisas, não é prova de boa inteligência política pensar que estes atentados só acontecem noutros sítios.

Vésperas de férias

Começou na Europa o fim-de-semana mais movimentado do ano. É a altura de partida de férias de muitos milhões de cidadãos europeus. E os próximos quinze dias são um período de afrouxamento da actividade económica. Esta é a normalidade de agora. E que não deverá ser destruída. Está profundamente enraizada na Europa, ao fim de cinco ou seis décadas de prática generalizada das férias pagas.

O Papa Francisco também anda em viagem. Por terras da Polónia. Mostra um ar muito cansado e preocupado. Os últimos tempos parecem ter pesado muito. Precisaria também de parar um pouco.

Quem deveria também ir de férias é quem anda a escrever asneiras sobre asneiras sobre as ameaças à nossa civilização ocidental. Não é um tresloucado de faca na mão que porá em causa a nossa maneira de viver, marcadamente laica e que não aceita que a política e a religião se misturem.

Aliás, depois das férias, talvez fosse bom voltar ao velho debate sobre a vocação ateísta e temporal de uma boa parte das populações europeias do presente. É uma tema que perdera a importância de outrora. Mas penso que está a necessitar de voltar à discussão pública.

Entretanto, boas férias…

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Os temores e a normalidade

Bruxelas, uma cidade cosmopolita, que mistura nacionais com gentes das mais diversas origens e crenças, foi alvo de atentados terroristas a 22 de março. Desde então, os seus residentes têm assistido a toda uma série de operações de polícia, algumas bastantes espectaculares e susceptíveis de criar medo, de detenções e mesmo de falsos alertas, como aconteceu hoje na zona comercial mais importante do centro da cidade.

Perante tudo isto, perguntam-me frequentemente, quando me desloco ao estrangeiro, se os residentes de Bruxelas vivem na ansiedade de novos atentados. A minha resposta habitual é clara. Refiro que a vida voltou às rotinas habituais, que as pessoas não passam o tempo a olhar por cima dos ombros, numa atitude de desconfiança de tudo e de todos. Mais ainda. Quem costumava andar de lenço atado à volta da cabeça e com indumentária associada à religião que alguns praticam – são aliás muitos os que seguem essa prática, nesta terra tão diversa – continua a fazê-lo, sem hesitações e também sem sofrer qualquer tipo de intimidação ou de comentário mal-intencionado.

Hoje o diário La Libre, um dos grandes jornais de Bruxelas, inquiriu os seus leitores sobre se “as ameaças terroristas provocam angústias no nosso quotidiano”. Curiosamente, cerca de 1 em cada 4 respondeu que sim. Que se sente menos seguro, quando se encontra em lugares públicos.

Afinal, estas coisas deixam traumas e marcas na população. E será por isso que certos partidos e movimentos de opinião procuram aproveitar esses temores colectivos em benefício das suas causas. O medo tem um valor político. Tal como a normalidade. Mas são valores de tipo diferente.

 

 

O exagero é mau remédio

Ao chegar esta manhã a Addis Ababa tive tempo para ver o que se escreveu nos jornais portugueses, como comentário e opinião, sobre Paris e os crimes brutais e cegos de sexta-feira. E tempo também para concluir que a opinião de certas figuras públicas portuguesas está cada vez mais a percorrer as ruas da amargura. Num dos exemplos, o opinante, autor de uma extensa página, achava que era altura de convocar uma reunião da NATO sobre os atentados, a pedido da França e com base no Artigo 5º do Tratado do Atlântico Norte.

Um exagero.

O Artigo 5º só se aplica no caso de uma ameaça exterior, de natureza militar, contra um Estado membro da Aliança. Em princípio, destina-se a preparar uma resposta de defesa colectiva quando a soberania nacional de um dos Estados está ameaçada.

Certos países da Aliança Atlântica já desempenham um papel na Síria e no Iraque. Em coligação com Estados da região. Isso deve continuar, sem que seja necessário dramatizar com o recurso incorrecto ao dito Artigo.

O que se passou em Paris e o seguimento desses dramáticos acontecimentos exigem, isso sim, respostas que pertencem às polícias e às autoridades judiciais, bem como soluções políticas. E tudo isto deve ser feito em coordenação com as autoridades dos países vizinhos e de outros, segundo as necessidades das investigações e as conclusões políticas que venham a ser tiradas. Mas, como dizia ontem aqui mesmo, o que tiver que ser feito deve ser feito num quadro que combine o nacional com o europeu, com serenidade, para não dar lugar a histerias políticas, a medos colectivos, para que o nosso espaço de direito e de tolerância possa ser salvaguardado.

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