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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Notas optimistas

Creio que dentro de dias iremos começar a ver os números das infecções ligadas à Páscoa. Infelizmente. Voltei a ter notícias que no Porto a máscara é algo que se usa no braço. Entretanto, ao longo do rio, em Lisboa, a manhã esteve calma e eram poucos os que por ali faziam exercício.

Curiosamente, na zona dos Jerónimos vi duas famílias de turistas estrangeiros. Há muito que esse tipo de humanos haviam desaparecido da zona.

Ao falar com os meus amigos no Algarve fiquei a saber que reservas vindas de fora, nada ou quase nada. Ninguém quer reservar com três ou quatro meses de antecedência, quando tudo é incerto, nos países que tradicionalmente nos enviam turistas.

Veremos se a fronteira com a Espanha abre ainda este mês. Existe todo um debate sobre os benefícios e os inconvenientes do fecho das fronteiras Schengen. É importante que sejam reabertas tão cedo quanto possível. O nacionalismo sanitário não faz bem à ideia europeia.

Entretanto, começam esta semana as reuniões da Primavera do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Um relatório que será discutido diz que os países mais pobres não terão ganho a imunidade de grupo antes de 2023. Ou seja, estamos a falar de um longo período até ver de novo esses países integrados plenamente na economia mundial. Uma das consequências será o agravamento da pobreza nessas terras, algo que já vem a acontecer desde o início da pandemia.

No meio de tudo isto, há que manter um certo optimismo. O problema é que não é fácil ser-se optimista a curto prazo. Mas convém tentar.

Três grandes conclusões

Ontem ao serão e hoje durante o dia, falei com antigos colegas e outros, espalhados por vários pontos do mundo. Esta é a vantagem da era digital e das aplicações de comunicação entre as pessoas. Fala-se para toda a parte, a custo zero, basta haver internet. Para mim é importante manter o contacto com gentes de outros horizontes, que fui conhecendo ao longo do meu percurso pelo mundo.

Das conversas, saíram três conclusões, partilhadas por todos.

Estamos mais pobres. Nalguns países, a pobreza atingiu níveis que nos fazem lembrar a miséria em que essas populações viviam há trinta e tal anos, na década de 80 do século passado. Noutros, são os esquemas de financiamento do desemprego e do subemprego que disfarçam a coisa. A França, por exemplo, adoptou hoje um sistema de financiamento do desemprego parcial que irá durar dois anos e custará vários milhares de milhões. Ou seja, um mecanismo que esconde a crise e que procura dar uma prancha de salvação às famílias que se encontram perdidas no alto mar de um profundo choque estrutural. Ao aprovar uma duração de dois anos, o governo francês mostrou que isto está para durar.

Estamos mais provincianos. Cada povo fecha-se dentro das suas fronteiras, reais ou imaginárias. Os outros representam uma ameaça de contágio. Não há ligações aéreas ou de outro tipo, só aparecem voos de emergência ou de repatriamento, como a Índia fez este fim de semana, ao fretar, uma vez mais, um avião entre Nairobi e o regresso à terra. Até as rotas de navegação comercial estão ameaçadas, porque as companhias de frete marítimo não conseguem fazer a substituição das tripulações e os navios vão ter que deixar de navegar, por razões de regras, de seguros, que não podem ser renovados se não houver uma tripulação fresca a bordo. Voltámos ao vício dos controlos alfandegários, por tudo e por nada. Os exportadores chineses, por exemplo, têm milhões de pacotes acumulados nas alfândegas nacionais do seu país à espera de ser inspeccionados, uma inspecção sanitária sem critérios definidos mas que justifica todo um novo corpo de inspectores do empata o jogo. Mais perto de nós, ali para os lados da nossa fronteira com a vizinha, temos gente nas aldeias que fica nervosa quando vê um carro espanhol passar.

Estamos a assistir ao estado de coma das instituições internacionais. As Nações Unidas e outros actores globais perderam a voz e a iniciativa. Não há nenhuma tentativa de governação internacional. A um problema que é de todos, global, responde-se com o silêncio das agências da globalidade. Aceita-se o princípio do salve-se quem puder. As missões de paz não recebem direcção política de Nova Iorque e as agências do desenvolvimento, nomeadamente o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), foram enfraquecidas por tudo, por todos e por reformas inspiradas por quem não conhecia o funcionamento do sistema. O Banco Mundial e o FMI também não aparecem na praça pública.

Não quero ver estas conclusões com pessimismo. Mas que são um grande desafio de liderança, isso são.

 

Um futuro que não se quer ver

Estes encontros anuais dos ministros das Finanças, que têm sempre lugar nesta altura do calendário em Washington, no FMI, são conhecidos com as Reuniões da Primavera. A de 2015 terminou hoje. E pelo que sei, com três grandes preocupações globais, a esconderem-se por detrás das palavras dos comunicados oficiais: a fragilidade da recuperação económica, após a crise que vem de 2007-8; os grandes desequilíbrios de crescimento, ou seja, a desigualdade em termos de performance económica, quando se compara as diferentes regiões do globo; e as altas taxas de desemprego, em muitas e variadas partes do mundo.

A estas três inquietações junta-se, na nossa velha Europa, a questão da Grécia. As negociações com o governo grego estão praticamente num ponto morto. A UE, o Banco Central Europeu, o FMI e os principais credores repetiram, ainda hoje, que a bola está no campo grego. Que cabe ao governo de Atenas propor um programa que possa ser considerado credível. E acrescentam que uma declaração de insolvência teria consequências imprevisíveis.

Não será bem assim. Nestas coisas, é sempre possível desenhar um modelo que extrapole e clarifique as consequências mais prováveis. E esse modelo já existe. Tem-se uma ideia clara do que poderá acontecer se a insolvência vier a acontecer. Não se tem é coragem de olhar a sério para o futuro que o modelo nos deixa antever. Ora, governar passa por se ter a coragem de preparar os riscos futuros.

 

Londres sem senso nem seriedade

 

O meu artigo de hoje na VISÃO centra-se na reunião do G20, que terá lugar na próxima semana em Londres. Também há 76 anos, em plena Depressão, Londres foi o palco de um encontro internacional, com o objectivo de encontrar soluções para a crise de então. Os Estados Unidos, que tinha acabado de eleger Franklin D. Roosevelt como Presidente, adoptaram uma atitude pouco construtiva durante a Conferência de 1933. Uma posição marcadamente nacionalista, que acabou por levar a reunião ao fracasso.

 

Em 2009, o nacionalismo chama-se proteccionismo. E é praticado por quase todos os participantes no encontro de agora. Embora o neguem a pés juntos. Mais ainda, vão para Londres sem terem passado por consultas prévias, por discussões de preparação. É tudo para Inglês ver, e não só. Para lançar poeira noutros olhos também.

 

As medidas que vierem a ser tomadas carecerão de seriedade. Para já não falar na falta de capacidade das instituições existentes par pôr em execução e levar a cabo os enormes pacotes que são prometidos todos os dias.

 

 

Crise económica e política nas relações internacionais

 

‘A Margem do G8
Victor Ângelo
 
 
Esquecendo o espectáculo e as manifestações habituais, as promessas que se repetem sobre a luta contra a pobreza ou as alterações climáticas, a cimeira anual do G8, que este ano decorreu no Japão, convida-nos a reflectir sobre quatro questões que não podem ficar esquecidas.
 
Em primeiro lugar, temos que reconhecer que a economia internacional esta’ a viver um processo acelerado de mudança estrutural, que se tornou particularmente nítido nos últimos dois anos. O exemplo mais flagrante tem que ver com os aumentos muito significativos dos preços das matérias-primas, sobretudo do petróleo, e dos cereais. Os níveis actuais de preços, que subiram nos meses recentes com uma rapidez nunca vista em períodos de paz, vão manter-se. A tendência e’, aliás, para que continuem a aumentar. Este facto exige ajustamentos de fundo, sobretudo nas economias mais desenvolvidas, que são a espinha dorsal do G8. Já não se trata de um puro problema inflacionário, mas sim de um fenómeno com implicações sistémicas, que necessita de transformações de longo fôlego. No curto prazo, será necessário fazer frente a situações sociais de grande gravidade, e não apenas nos países menos desenvolvidos. A própria Europa, sobretudo a periferia pouco sofisticada a que Portugal pertence, vai conhecer um novo tipo de pobreza. Para muitos de nós, cheira a crise.
 
Temos, em seguida, a questão das economias emergentes e do peso que passaram a representar nas relações económicas internacionais. Não são apenas os casos mais falados da China, que se tornou a terceira potência económica mundial, e da Índia, que se esta’ assentar a sua transformação no conhecimento tecnológico e na formação cientifica. Há todo um conjunto de novos actores económicos, alguns dos quais foram convidados para almoçar em Hokkaido. Para se perceber melhor a sua importância crescente, basta ter presente que nos últimos dezoito meses houve uma transferência adicional de recursos financeiros dos países consumidores de petróleo para os produtores na ordem dos quatro triliões de dólares. Pode dizer-se, simplificando, que a capacidade produtiva e comercial está de um lado e o poder de compra está do outro.
 
Em terceiro lugar, as economias, e por isso, também as políticas, estão hoje mais interdependentes. Mas a globalização tem novos contornos. Significa, por exemplo, que a economia americana se encontra dependente, de um modo vital, da importação de capitais estrangeiros, que compensem a falta de poupança interna. Ou ainda, que a Europa já não consegue crescer se não houver prosperidade e estabilidade nos países para onde exporta uma parte importante da sua produção. Ou que a China entraria em contracção se as barreiras alfandegárias nos mercados de destino se tornassem intransponíveis. Com a interdependência está a aparecer, nas populações dos países mais desenvolvidos, um clima de receio. As pessoas, habituadas a um nível de vida que agora parece estar ameaçado, têm medo do futuro, da globalização, do resto do mundo, dos grandes espaços económicos e políticos, da emigração. Dos outros, simplesmente. Há, cada vez mais, um fechar-se sobre si próprio, ao nível nacional ou local.
 
Finalmente, todas estas questões levantam o problema fundamental do funcionamento desajustado das instituições internacionais. A reforma das estruturas que gerem as relações entre os estados e’ cada vez mais urgente, para que se tenham em conta as novas realidades. O Conselho de Segurança das Nações Unidas, os organismos financeiros globais, em especial o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comercio, as estruturas ‘a volta da União Europeia, as agências de ajuda ao desenvolvimento, são elementos de uma rede institucional internacional que não consegue encontrar respostas para os desafios que o mundo do Século XXI enfrenta.
 
 
 
 
 
 
 
 

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