Entretanto, o meu sobrinho Jorge, que comanda a Pégaso, um barco patrulha da Marinha, interceptou, ao largo de Vila Real de Santo António, uma lancha rápida, com dois poderosos motores de 200 cavalos cada, que vinha, aparentemente, de Marrocos. Com dois tripulantes, transportava, de modo dissimulado, 1,5 toneladas de haxixe.
Estas lanchas, difíceis de apanhar, por causa da força dos seus motores, são, actualmente, um dos meios preferidos dos traficantes de droga. E Portugal está na rota dos traficantes, quer eles venham do Norte de África quer da América do Sul. Neste último caso, os fora-de-bordo vão ao encontro dos navios provenientes da América do Sul, fazem o transbordo no alto mar e regressam, a toda a velocidade, a pontos isolados da nossa costa.
O peso do tráfico de droga na economia clandestina do nosso país está por determinar. Quer o trânsito da mercadoria para outros destinos europeus quer o mercado interno alimentam, em Portugal, uma economia paralela, criminosa, cuja dimensão me parece cada vez mais importante.
A poeira entrou no nosso quotidiano. Vive-se com a obsessão do pó. A vida sabe a areia. O cheiro, é como um perfume seco que nos fecha as narinas e nos impede de respirar. Está tudo seco e meio parado, que este clima não dá para grandes saídas.
Entretanto, perto da minha residência, pelas 19:00, uma das nossas funcionárias foi bloqueada por um veículo de salteadores armados. Para roubar o carro, propriedade da ONU. Um todo-o-terreno, muito procurado, fácil de vender. Mais um veículo que se foi. Os bandidos começaram agora a perceber que é fácil atacar em N'Djaména e não se ser apanhado. É uma cidade com milhares de cantos, impossível de controlar. Um labirinto de areias deslizantes. Um pesadelo, em matéria de segurança.
As forças de reacção rápida da minha Missão chegaram ao local uns minutos depois. Mas o que a colega queria era apoio psicológico. Foi uma experiência de meter medo.
A visita de Luís Amado ao Chade, prevista para amanhã e Segunda-feira, incluía uma volta por um campo de refugiados, o maior e numa zona perto da fronteira com El Geneina, um importante centro urbano, no Sudão.
Por razões de última hora, completamente justificadas, o Ministro não pode fazer a viagem. Terá que ser em Janeiro.
Entretanto, está em preparação a minha viagem a Sam Ouandja, uma localidade 200 quilómetros ao Sul de Birao. É a ponta Sul da área de intervenção das tropas da MINURCAT. Uma região de refugiados sudaneses e de homens armados, pertencentes ao grupo rebelde centro-africano conhecido como UFDR. As duas partes estão em conflito. Com violência e com casos de morte. É uma terra com diamantes e caça grossa. São dois recursos naturais que levam a grandes disputas. Não há segredo. Trata-se de ver quem controla as riquezas. Lá como por cá.
O tema do meu escrito de hoje na revista Visão centra-se nas questões de segurança nas terras hostis do Sahel, incluindo na fronteira com o Darfur.
A minha tese é que certas organizações não-governamentais não estão a perceber a natureza dos riscos que existem nessa região. Agem como se a insegurança tivesse motivação política. E falam, a torto e a direito, da neutralidade que é preciso manter.
Mas a verdade é que não se trata de conflitos políticos. São actos de banditismo, de criminalidade pura e dura. Ameaças concretas contra as populações e contra os agentes humanitários. As Nações Unidas têm duas grandes operações de segurança na zona, a MINUAD. no Darfur, e a MINURCAT, no Chade e na República Centro-africana. Ambas têm como mandato proteger as organizações humanitárias, os refugiados e deslocados, bem como as populações locais, que são presas fáceis dos homens armados.
Ser protegido pela ONU não faz perder a neutralidade nem a independência das organizações. E permite continuar o trabalho de assistência, salvando muitas vidas em perigo.