Não resisti à tentação do Banif
Nestes últimos dias, todo o gato-sapato e os seus parentes mais próximos têm escrito sobre o Banif, o banco que foi ao ar. Por isso, hesitei em pegar no assunto, ontem. Achei que não valeria a pena acrescentar mais nada. Esta página ficou em branco, que é muitas vezes a tradução da vontade que tenho de tratar a nossa absurdidade quotidiana.
Mas este meu blog tem uma vocação muito marcada para pregar no deserto. Não resiste durante muito tempo. Por isso, cá estou hoje a escrever sobre a questão.
A verdade é que o enredo do Banif mostra, uma vez mais, várias coisas.
Ao nível macroeconómico, que temos bancos a mais e economia a menos. Existem demasiados bancos na nossa praça para uma economia fraca das canetas e incapaz de se equilibrar e começar a andar com as duas pernas no mundo moderno.
Ao nível da supervisão, que o Banco de Portugal não tem a independência necessária. A Europa de agora quer bancos centrais independentes do poder político. Não será o caso em Lisboa. Não precisamos de uma agência de supervisão paralela, a ideia que anda agora por aí no ar. Queremos, isso sim, um Banco de Portugal à altura das suas responsabilidades institucionais. Objectivo e corajoso. Tenho cada vez mais dúvidas, no nosso caso.
Ao nível da actividade bancária, o colapso mostra que os bancos comerciais portugueses são em geral mal geridos. A incompetência está nos conselhos de administração e nas direcções executivas. O princípio em que se baseiam não é o da rentabilidade dos projectos que financiam, mas sim o do compadrio. Se o compadre, ou o amigo desse compadre, pede um empréstimo, a direcção do banco fecha os olhos à viabilidade da coisa e avança com o crédito. Saem uns milhões. É uma situação própria de um país subdesenvolvido. Vi isso em vários cantos do mundo. E depois, com o passar dos tempos, o crédito fica malparado e vai juntar-se aos milhões de euros que já estão nessa gaveta de incobráveis.
E ao nível político, é a irresponsabilidade saloia que domina. A classe política respira esperteza bacoca. Neste caso, foi a manha do governo de Passos Coelho que preferiu ir adiando o problema. Uma crise anunciada mas adiada é, na nossa maneira caseira de ver a política, melhor do que uma crise de facto. Praticamos a política do pau. Enquanto ele vai e vem, folgam as costas.
Quem não folga agora é o Costa. Nem os portugueses.