Na Europa a que também pertencemos, o dia 9 de Novembro é uma data especial. Marca o fim do Muro de Berlim, o início da queda dos regimes comunistas ditatoriais do Leste da Europa, a libertação dos povos, bem como o ponto de arranque do processo que levaria à unificação da Alemanha e, mais tarde, ao aprofundamento do projecto europeu.
Talvez não tenha, para muitos dos portugueses, um significado especial – já passaram trinta anos e uma boa parte da nossa população é demasiado jovem para poder ter vivido, ou lembrar, esse período da história europeia. Mas no centro do nosso Continente, em especial nos países que outrora se situavam para além da Cortina de Ferro, a data tem um significado muito especial. Soa a liberdade, que é uma das aspirações mais nobres das pessoas.
O atentado de Berlim veio uma vez mais lembrar-nos que é preciso encarar a questão das câmaras de captação de imagens com outros olhos. Temos que nos adaptar às circunstâncias actuais, às novas ameaças, e aceitar que os poderes públicos instalem as câmaras que forem necessárias, sobretudo nas ruas e nas praças de maior concentração de pessoas.
Londres e muitas outras cidades europeias já estão equipadas para recolher imagens de tudo o que se passa nos lugares públicos. O mesmo acontece nos Estados Unidos. Cheguei a ver, nesse país, mais de uma dezena de câmaras de vigilância focalizadas num mesmo espaço, sob vários ângulos, tendo em conta a natureza particularmente sensível do local.
No caso de um incidente grave, a exploração posterior das imagens permite compreender o acontecido e identificar os responsáveis. E daí não advém nenhuma ameaça à vida privada dos cidadãos. Nem nenhum cerceamento das liberdades e dos direitos das pessoas.
Na Alemanha tem existido alguma resistência à recolha de imagens. Penso que o drama de Berlim vai alterar a maneira de ver o assunto.
Como também o deveria fazer em Portugal. Temos aqui, mais uma vez, uma oportunidade de aprender com as hesitações e as dificuldades dos outros. Não podemos pensar que estas coisas do terrorismo só ocorrem noutras paragens, longe das nossas santas tranquilidades.
Na altura em que se celebra e bem, a queda do Muro de Berlim, parece-me haver um outro muro que está em derrocada, um pouco por toda a parte, incluindo em Portugal. Trata-se do muro em que tem assentado a política tradicional, os partidos do costume, os políticos que há décadas fazem parte da nossa vida.
Dir-se-ia que estamos numa fase de grandes mudanças na opinião pública. Há um descrédito generalizado no que respeita à actividade política. As pessoas, hoje mais informadas que nunca, e também mais impacientes que noutras épocas, não ouvem, por parte dos líderes políticos qualquer tipo de resposta credível perante as grandes interrogações do momento: o desemprego, a incerteza em relação ao futuro, a competição vinda de fora, a globalização, as ameaças globais, o empobrecimento, etc, etc. As palavras ditas soam a falso. A impreparação. A ignorância. Ora um líder tem que saber dar respostas convincentes. É isso que se espera da liderança.
O muro da política, mesmo quando sustenta um novo nome, como aconteceu com Obama, ou como será o caso, à nossa dimensão, no que diz respeito a António Costa, desmorona-se muito rapidamente. Um ar de esperança transforma-se, em pouco tempo, numa nova desilusão. As expectativas nascem e morrem como as borboletas. O que ontem nos parecia sangue novo, hoje parece-nos mais do mesmo, da mesma indecisão, tantas vezes presa a redes de interesses que nem sempre se confessam. O que ontem soava a alternativa hoje dá a imagem de falta de imaginação e de coragem, de ausência de dedicação à causa pública, de sinceridade, que são as pedras basilares do muro que sustenta a verdadeira vontade de transformar a vida de todos nós.