O Magazine Europa da Rádio Macau desta semana debruçou-se sobre a recente cimeira informal do Conselho Europeu, em especial sobre as questões orçamentais e fez a análise da campanha eleitoral na Itália e das amizades que Sílvio Berlusconi continua a manter nas altas esferas de Bruxelas. No programa, tratámos ainda da situação dos direitos humanos na China, uma questão muito delicada naquela parte do mundo, e também da detenção, em condições pouco claras, do livreiro Gui Minhai, uma personalidade muito conhecida em Hong Kong e que tem dupla nacionalidade, chinesa e sueca.
Os meus comentários sobre estes temas podem ser ouvidos no link seguinte:
Os meus comentários desta semana, para os ouvintes da Rádio Macau, incidiram sobre a recente visita de Teresa May à China, sobre a Polónia e os campos da morte nazis, as eleições que irão ter lugar em breve na Itália e ainda sobre a vitória de Anastasiades nas presidenciais de Chipre.
Os círculos políticos e financeiros europeus, os que estão habituados a definir a agenda, estão hoje muito confusos e ansiosos, face aos resultados eleitorais na Itália. Para estes líderes, que são na sua grande maioria de direita, o resultado ideal teria sido uma vitória do centro-esquerda italiano – uma contradição interessante. No melhor dos mundos, o centro-esquerda aliar-se-ia ao partido de Mario Monti e continuaria a política que este levou a cabo nos últimos 15 meses.
A realidade dos resultados é diferente. Os votos obtidos pelo partido de Berlusconi deixam muitos destes círculos a pensar que o eleitor italiano é um oportunista com memória curta. Nem todos, claro, mas quase um em cada três. Se a estes se juntar quem votou pelo Movimento 5 Estrelas, fica-se a pensar que praticamente 1 em cada 2 italianos ou é tapado da cabeça ou é ingénuo.
Perante tudo isto, creio que é importante dizer que, por mais caótica que esteja a cena política, haverá uma solução. O pior cenário seria um governo minoritário do Partido Democrático. Teria imensas dificuldades em governar e acabaria por cair dentro de meses. Nessa altura, Berlusconi e Grillo estariam numa posição eleitoral ainda mais forte. Assim, a via a seguir nos próximos dias é a de tentar criar uma grande coligação do centro-esquerda com o centro-direita. Será uma coligação frágil. Tem, todavia, a vantagem de comprometer ambos os lados numa política que não irá ser muito diferente do que Monti tem estado a fazer.
Com Berlusconi uma vez mais a definir a agenda, a Itália está embrenhada numa nova corrida para a confusão. Reina a demagogia. Até Monti já faz promessas eleitorais irrealistas, ao revés da orientação que seguiu enquanto chefe de governo. Uma parte significativa do eleitorado irá votar, sem grande fé no prometido, mas com base no “nunca se sabe”.
De manhã, passei pela exposição que está patente na Fábrica Nacional de Cordoaria, na Junqueira. Os dinossauros são o tema. A média de idades dos visitantes de hoje, fora o meu caso e outras poucas excepções, deveria situar-se nos quatro anos. Mas não me senti parte da família dos ditos bichos.
Por falar em dinossauros, Berlusconi parece estar finalmente de partida. A Itália e a UE bem precisam que isso aconteça.
Entretanto, convém lembrar que a única publicação séria que, desde sempre, disse que Silvio não tinha condições para dirigir um país como a Itália foi TheEconomist. Merece que se mencione. É que, nestas coisas, é preciso tomar posições claras desde o início. O passar do tempo só agrava a situação.