O Presidente da França, Emmanuel Macron, jogou hoje uma carta inesperada. Convidou Mohammad Javad Zarif, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão, a deslocar-se a Biarritz, onde está a decorrer a cimeira do G7, para conversações com o seu homólogo francês. Ao jogar assim, apanhou os outros líderes de surpresa. Na minha opinião, cometeu um erro político que se poderá revelar como grave.
A questão do Irão – chamemos-lhe assim – estava em cima da mesa, mas ninguém esperava que Zarif aparecesse na cidade, nas proximidades de uma cimeira extremamente sensível. Ao convidá-lo para andar por ali, de surpresa, o Presidente francês mostrou uma grande falta de respeito pelos outros líderes. Ou seja, pode ter contribuído para agravar as tensões, quando as discussões já tinham muito por onde dividir os chefes de Estado e de governo participantes.
Estamos nas vésperas da cimeira de 2019 do G7. A burguesa cidade litoral que é Biarritz deve estar em pé de guerra, com seguranças por toda a parte. Vai ser um fim de semana infernal, para as gentes locais, que os banhistas já devem ter deixado as praias, e as ondas do surf, bem conhecidas que são, e voltado para as suas terras de origem.
Uma das perguntas que mais surge, nos meios que analisam estas reuniões de alto nível, é se o G7 ainda serve para alguma coisa.
O encontro do ano passado, que teve lugar no Canadá, foi um desastre. Tudo se resumiu a uma questão: o comunicado final fora ou não aprovado pelo Presidente Trump? Este é aliás um dos problemas destas reuniões. Depois de meses de preparação, o resumo que fica é uma linha ou duas, um cabeçalho na comunicação social e pouco mais.
Agora, com o Presidente dos EUA a jogar num campo com balizas que mudam de um momento para o outro, o valor destas cimeiras é ainda mais contestado.
O anfitrião deste ano diz que sim, que vale a pena, como seria de esperar. Acrescenta, todavia, que não haverá um comunicado final, para que se não perca tempo a discutir vírgulas e a rasurar certas palavras. Não me parece mal, como ideia, embora fosse importante ouvir uma declaração conjunta sobre dois ou três temas quentes, como por exemplo, o que se passa na Amazónia.
Também sou dos que pensam que, sem esperar muito destas cimeiras, elas são importantes. Os líderes que estarão à mesa, com excepção dos que estão em fim de percurso, como é o caso de Giuseppe Conte ou talvez de Justin Trudeau, são gente com muito poder. Nos seus países e nas relações internacionais. Parece-me melhor que se encontrem e confrontem à volta de uns acepipes, que partilhem tempo e momentos, que isto das relações entre as pessoas tem muito que ver com o estar-se junto, do que deixar cada um no seu canto, sem um mínimo de diálogo com os seus pares.
A Rússia não estará representada, mas o tema ocupará um lugar importante nas conversas. Há quem pense que é altura de voltar a trazer Vladimir Putin para a mesa do G7, de fazer renascer das cinzas o G8. Creio que uma decisão dessas enviaria uma mensagem negativa. O G7 pode não ter grande impacto, mas é, apesar de tudo, uma reunião das democracias mais ricas. Vladimir Putin não é um democrata, não respeita as regras da liberdade de expressão e de oposição. Por isso, ressuscitar o G8 seria uma afronta que se faria aos que lutam pela liberdade na Rússia.
Há, no entanto, o risco que no próximo ano, o Presidente Putin possa ser convidado. O anfitrião da cimeira de 2020 é um admirador do autocrata de Moscovo. Ou não fosse o anfitrião o sempre em pé Donald Trump.