Hoje expliquei a um amigo que não ando por aqui para ganhar batalhas. A escrita é um compromisso que tenho comigo, por razões que não são para aqui chamadas. Mas é igualmente uma oportunidade para ir além do meu espaço pessoal e partilhar algumas ideias com que tem a bondade de me ler. Vistas largas, abertura de espírito e coragem opinativa são as linhas orientadoras. E, que na minha opinião, são matérias raras no mercado de opinião que são as redes sociais
Quando se procura fazer intervenção social, a mensagem com 140 ou menos caracteres é a maneira de comunicar que mais impacto tem. Nestes tempos de abundância de informação ninguém tem tempo e paciência para ler longos textos. Os nossos jornais ainda não o perceberam. O mesmo acontece com vários blogs de autores muito sérios. Continua a publicar-se escritos cheios de floreados e de meandros infindáveis. Muita conversa e pouca carne.
Donald Trump foi dos que já percebeu a força que um tweet pode ter.
A minha própria conta no Twitter tem milhares de leitores diários, algo que não acontece, nem de muito longe, no que respeita aos meus blogs. Assim, pouco a pouco, o meu investimento vai ser sobretudo ao nível dessa conta. Seria um erro não reconhecer as mudanças que estão a ocorrer em matéria de comunicação social.
Entretanto, ficam aqui os votos de um bom ano de 2017. Um ano que irá certamente ser um desafio muito interessante em termos de intervenção social. O meu papel será o de alimentar a crítica construtiva.
A quem me pergunta, respondo que escrever sobre coisas pequenas, de somenos importância ou triviais, acaba por nos condicionar o pensamento. Começamos, então, a dar relevância ao que não deveríamos. A perder tempo com pormenores, exagerando-lhe o valor. É verdade que por vezes é bom falar da árvore. Mas, na maioria dos casos, há que ir mais longe e ter a floresta como centro da atenção.
Dizem-me, como resposta, que a malta gosta dos pormenores e compreende melhor a árvore que o bosque. Talvez assim seja. Talvez assim se ganhe ou perca audiência. E os números da audiência é que contam, acrescentam.
Verdade, claro que sim.
Mas a minha opção continua a ser a outra. Sem, no entanto, chegar à ideia absurda de um personagem que conheci, que escrevia para um leitor apenas: para ele!
A minha crítica da realidade política focaliza-se na análise das ideias, dos factos, das consequências e das omissões. Não é inspirada por ódios pessoais, por aversões a tudo o que não pertença à minha esfera ideológica, por sectarismo perante quem não seja do meu partido -- sou, aliás, independente! Quando escrevo sobre o político A ou B, penso acima de tudo no que está a fazer, ou no que deveria estar, nas intenções que revela, na honestidade que o anima --ou não.
Aqui há opinião, não há inimizades. Esta é uma das vantagens de estar longe do dia-a-dia da nossa elite.
O SAPO, que aloja este blogue desde o início, faz hoje 18 anos. É dia de parabéns! Pelo que é – uma plataforma multifacetada e um grande sucesso informático – e também por mostrar que em Portugal existem pessoas com ideias e conhecimentos modernos, que lhes permitem competir com o resto do mundo.
Trata-se, na verdade, de um exemplo de excelência num sector de ponta. Este é o tipo de Portugal que queremos ver.
A maioria dos blogs "políticos" portugueses acrescenta zero ao que vem na imprensa. Os autores limitam-se a pegar num dos títulos do dia, que aproveitam para dar uma facada pessoal à notícia e a um ou outro sujeito. Não trazem nada de novo, não acrescentam grande coisa à reflexão nem ao conhecimento. Ou seja, acabam por quase não ter impacto na cena política nacional e na elaboração de uma opinião pública alternativa. Sem contar que uma grande maioria desses blogs mostra um alinhamento cego com um ou outro partido, sem independência de espírito. Ora, a independência que a blogosfera oferece é a sua principal vantagem, que no nosso caso, não é aproveitada.
O blogosfera política portuguesa é um saco de gatos assanhados. Diz quem sabe que o cérebro destes animais apresenta estruturas complexas que lhes possibilita expressarem-se numa espécie de linguagem, em que dominam os miados, os ronronares, os bufos ou sopros fortes, os gritos e certas linguagens corporais, com um simbolismo simples e auto-centrado.
Acima de tudo, substituem a discussão de ideias por arranhadelas e sapatadas à esquerda e à direita.