O escândalo BPN continua na ordem do dia, apesar de se arrastar, sem solução, há seis anos. Visto de fora, através dos olhos das embaixadas estrangeiras em Portugal e dos grandes grupos económicos e de segurança que observam o que se passa no nosso país, a incapacidade de solucionar esta falência fradulenta aparece como um indicador do subdesenvolvimento institucional do nosso país, que permite que interferências políticas impeçam a resolução de um problema de grande gravidade.
Num outro país da UE, há muito que haveria gente a cumprir penas efectivas de prisão. E outros que se teriam demitido das funções oficiais ou públicas que exercem.
A cena de ontem na Assembleia da República, com uns senhores muito importantes totalmente descontrolados, continuou a encher as casas dos portugueses, ao longo do dia de hoje. É a política espectáculo, na sua dimensão mais patética.
Foram imagens que vieram acrescentar mais uma pedra ao edifício do descrédito da política em Portugal.
Entretanto, ficamos à espera. Será que os larápios que estiveram à frente do BPN serão um dia chamados a prestar contas à Justiça?
É que junto do descrédito da política vive a irmã que dá pelo nome de descrédito da justiça. Andam ambas à solta.
O Diário de Noticias de hoje pensa que faz um grande favor ao senhor Conselheiro de Estado Manuel Dias Loureiro, ao dar-lhe a palavra e também ao escrever umas coisas bonitas sobre a sua carreira. Que simpatia de jornal, que retrato tão bem retocado! Até de gestos "calmos" e "suaves" reza esta crónica...
Os amigos são para as ocasiões, e o senhor precisa actualmente de muitas manifestações de amizade, para que se acredite no que diz. Aliás, na entrevista, Dias Loureiro acaba por duvidar de si próprio ao perguntar: " Achou-me sincero?
Nem o Padrinho, a que tanto o liga, o achara´, desta vez. Mas, continuara´ a usar a máscara de Estado que lhe é habitual...E a fechar os olhos, à espera que a tempestade passe, como é hábito em Portugal...As coisas são importantes uns tempos e depois desaparecem do ecrã e da atenção geral, numa amnésia colectiva, que nos é tão própria.
Diz a autora da peça, com admiração, que o personagem chegou à riqueza " com passagem pelo governo." Na realidade, o homem aproveitou-se, com os escrúpulos que lhe são conhecidos, dos tempos no governo e das relações que conseguiu estabelecer, aqui e no estrangeiro, para enriquecer. A "passagem" pelo poder executivo foi apenas parte de uma estratégia de aproveitamento pessoal. Que começara antes e que ganhou asas depois. São estas as razões, para muitos dos nossos dirigentes, que levam ao chamado "serviço público", que é afinal "um serviço pessoal".
Muita gente na política, no PSD de Cavaco sobretudo, e nos negócios, lhe devera´ favores. Não será o caso, imagina-se, meus amigos, imagina-se, na área do encobrimento das coscuvilhices, das fofocas, dos comportamentos fora de jogo, apesar de ter sido durante vários anos patrão-mor das secretas e outras polícias.
Só que o homem anda "preocupado", como diz a jornalista.
O Banco Português de Negócios (BPN) , negócios legalmente obtusos e fechados em gabinetes fora das vistas, forrados com madeiras preciosas, surgiu no seguimento do fim do Cavaquismo, na segunda metade dos anos noventa.
Desde o início que apareceu ligado e próximo de certos quadros dirigentes do PSD. O homem forte do banco, o agora detido Oliveira e Costa, fora um senhor nas finanças do ministério e um homem de confiança do então primeiro dos ministros, Cavaco Silva.
Por detrás do painel da frente, neste banco de aparências e de colarinhos brancos, estaria um cavalheiro público bem mais inteligente, que hoje é, ainda, Conselheiro de Estado do Senhor Presidente.
Talvez tudo isto explique um certo mal-estar que se passeia agora pela Lapa, como fantasmas à volta da Velha Senhora Sem Jeito Para Estas Coisas. Um incómodo. A política é de facto mais fácil quando se suspende a democracia.
E o maroto do Portas, o Paulinho Mal-humorado e de dedo terrivelmente ameaçador, a espreitar a oportunidade, que ele vive dos restos mortais do PSD. Uma verdadeira ave da família muito variada e ilustre dos abutres. Pediu logo um inquérito ao pobre, porque falido, do BPN.