O atentado suicida junto a uma das entradas do aeroporto de Cabul mostra, uma vez mais, que para certos fanáticos não existem limites. A sua leitura extremista da religião, do inimigo e da política leva-os a praticar verdadeiras chacinas, como aconteceu esta tarde. É uma leitura incompreensível para quem acredita no valor da vida. Também é um comportamento muito difícil de combater, porque esses indivíduos estão dispostos a tudo, inclusive a sacrificar a sua própria vida.
Não é ainda claro que grupo levou a cabo este acto inumano. Terá sido uma facção ligada ao Estado Islâmico, que é profundamente inimigo não apenas dos ocidentais, mas também dos talibãs.
De qualquer modo, este crime abominável veio complicar ainda mais uma situação que já era altamente complicada. E dar uma indicação do que poderá ser o Afeganistão dos próximos tempos, em termos de lutas entre grupos rivais, de viveiro de extremismos e de perigos para o cidadão comum.
As imagens de hoje, que mostram centenas de afegãos agarrados a um avião militar norte-americano prestes a levantar voo, não serão jamais esquecidas. Resumem, no seu dramatismo, o que ficará para a História, quando se falar das duas décadas de intervenção ocidental no Afeganistão. Os sacrifícios de muitos militares, o sofrimento de milhares de famílias, os biliões gastos, a incompetência e a corrupção de muitos políticos não serão nunca minimizados. Não será possível varrer tudo isso para debaixo do tapete da memória. Mas, o desespero de quem se agarrou ao avião diz tudo, passado, presente e futuro.
Voltei a escrever sobre o Afeganistão, na Visão desta semana. Contra a política do modelo único, importado do Ocidente. Contra a filosofia da força e da confrontação. A favor da mediação, dos acordos políticos, de um outro tipo de legitimidade em matéria de governação.
O meu texto desta semana, na VISÃO impressa (revista), reflecte sobre a crise afegã.
Foi escrito antes da divulgação oficial dos resultados das eleições presidenciais. Os resultados deveriam ter sido anunciados, estava previsto, na véspera da saída da revista. Mas a complexidade da situação e o nível de fraude é tal, que não foi possível chegar a um acordo sobre os valores oficiais. Ainda há muito que analisar. Uma excelente equipa de peritos das Nações Unidas está em Cabul, para proceder a essa análise.
Entretanto, o artigo saiu e traz uma certo número de ideias sobre a estratégia futura.