Hoje passei uma hora a ouvir cantar o mesmo fado. Ou seja, fiquei por três ou quatro vezes à espera de ser atendido por diversos serviços da empresa de telecomunicações NOS. Enquanto aguardava era brindado com uma gravação de uma fadista que me lembrava, a mim que não gosto desse tipo de canções, que temos muitas razões para lamúrias.
Um dia de Outono, em Lisboa, nestes 99 aniversários da República.
O cinzento do comentário maldoso foi da autoria do Chefe Primeiro, que espetou uma farpa azeda no homem de Belém, ao dizer que a tradição exige que se vá aos Paços do Concelho, quando se comemora a implantação.
Os políticos grandes têm grandeza de espírito. Os boxistas da política, por seu lado, tentam aproveitar todas as oportunidades para dar uns murros. O povo, por sua vez, confunde murros com agilidade e argúcia. Gosta do espectáculo da porrada. Apoia.
Estamos no mau tempo de uma maralhada pequenina. Ou, como diria o outro, há tempestade no Mar da Palha.
Em tempos de Páscoa, é bom esquecer a política. É que a política, tal como a praticamos nesta terra, precisa de pausas sanitárias, de vez em quando. Sobretudo quando o país está de dar em doido.
Pausa. Que viva o sonho das cores que alimentam a esperança.
Certos dirigentes da coisa política têm tendência para confundir movimento com liderança. Pensam que por se mexerem muito estão a marcar a agenda. Confundem agitação e frenesim com dinamismo e resultados. Protagonismo com uma linha de actuação clara. A tudo isso, acrescentam uma garganta cheia de voz grossa, para que se confunda ruído com autoridade.
Em Portugal, começou hoje o XVI Congresso do PS. Com os repórteres a perguntar se o alegre destes tempos, e poeta de sempre, estaria ou não presente, como um espinho em Espinho.
E falou a Senhora Chefe do PSD sobre as habituais coisas sem importância, mas com aquele ar zangado de quem esta' a ser confrontado com o anunciado fim do mundo. E com um estilo que faz inveja a um cangalheiro profissional.
Houve mais sobre o Freeport, com três senhores da judiciária a dizer que o processo que não andou quase nada em quatro anos de investigação afinal fartou-se de andar. Deve ter sido um movimento do tipo parado, para não fazer enjoar o Chefe.
Por aqui, e' tudo mais simples. Por volta das cinco da tarde levantou-se um pó fino -- não o Fino a quem a Caixa Geral de Depósitos gosta de fazer favores-- que fechou os céus e nos entrou na boca, no nariz, nos secou a respiração e deixou a língua a saber a sujo. Uma irritação.
Felizmente que houve, ao cair da noite, a bela festa de condecoração dos 18 oficiais de polícia de Madagascar que comigo trabalham. Apresentaram-se no seu melhor uniforme, explicaram-nos um pouco da vida da ilha, com orgulho e esperança que a crise política actual se resolva rapidamente. Um deles tem um apelido com mais de trinta letras. Foi um divertimento amistoso tentar pronunciar esse nome de família.