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O Níger e a situação no Sahel

O golpe no Níger agrava a fragilidade do Sahel (dn.pt)

Este é o link para o texto que ontem publiquei no Diário de Notícias. É o último texto antes das férias. O próximo deverá ser publicado na edição de 1 de Setembro.

Cito, como é hábito, umas linhas da minha crónica: "Falando da Rússia, Vladimir Putin deve ter aprendido durante a reunião de S. Petersburgo que não é boa política amparar quem organiza golpes de Estado em África. A maioria dos dirigentes africanos não vê com bons olhos os golpistas. A Rússia, ao respaldar os jovens golpistas do Mali e do Burkina Faso, como já havia apoiado o golpe em Conakry em 2021, está a criar anticorpos nos outros países africanos. Putin parece ter percebido essa verdade: no Conselho de Segurança da ONU condenou de modo unânime o golpe no Níger. Mas essa compreensão é insuficiente enquanto continuar a ajuda russa a outros golpistas."

Mais um drama na Guiné-Conacri

A Guiné-Conacri é um país de grande beleza natural. As terras altas da região do Fouta Djallon são de uma grandiosidade natural que deixa todos os visitantes deslumbrados. É nessa região que nascem alguns dos rios mais importantes da África Ocidental – o Rio Gâmbia, o Senegal e um dos principais afluentes do Rio Níger, para além de muitos outros.

O xadrez humano é também bastante diverso.

O país tem no seu subsolo vários minerais de grande valor, diamantes, ouro e vastíssimas reservas de bauxite. Mas continua a ser um país essencialmente agrícola, produzindo o que necessita para subsistir. Subsistência é a palavra exacta, porque a maioria dos seus habitantes vive numa situação de pobreza, ao nível da simples sobrevivência.

Quando trabalhei na Serra Leoa, país que partilha uma longa fronteira com a Guiné, ia frequentemente a Conacri e às localidades guineenses nas zonas fronteiriças. Tinha assim oportunidade de contactar as autoridades nacionais e locais e de perceber melhor os problemas de um país que uma longa experiência política marxista havia arruinado a economia e criado uma função pública enorme e pouco ou nada eficiente. As próprias forças armadas eram pouco mais que um exército de maltrapilhos.

Essa situação mudou muito a partir de 2010, com a chegada ao poder de Alpha Condé. A economia cresceu, formou-se uma elite de administradores civis e as forças armadas foram modernizadas. Alpha Condé deveria ter terminado o seu último mandato em Novembro de 2020. Por razões constitucionais e de idade (82 anos). Cometeu o erro de mudar a constituição, para poder continuar no poder. E, com a idade, passou a ter um estilo de governação do tipo microgestão, em que tudo tinha que passar por ele. Muitas vezes, nos últimos tempos, deslocava-se aos ministérios para ver se os ministros estavam de facto a trabalhar.

Foi hoje derrubado por um golpe militar. E sai de cena pela porta das traseiras, quando em 2020 poderia ter saído pela porta grande.

A ambição africana de Espanha

https://www.dn.pt/opiniao/a-espanha-quer-correr-em-africa-em-pista-propria-13573789.html

O link acima abre o meu texto de hoje no Diário de Notícias. Nessa crónica faço uma breve análise da ambição espanhola relativa a África. 

Cito, de seguida, um parágrafo desse texto, como sendo um convite à leitura completa da crónica.

"A visita a Angola deixou claro que se trata de ocupar o maior espaço económico possível, da agricultura e pescas aos transportes e à energia. Existem mais de 80 projetos de investimento espanhol já em curso ou em fase de arranque. Parece haver igualmente a intenção de contar com Luanda para ajudar Madrid na normalização das relações com a Guiné Equatorial, que foi a única colónia que Espanha teve ao sul do Saará e que agora faz parte da CPLP. À primeira vista, estas diligências parecem estar em competição direta com os interesses de Portugal. Ora, o conhecimento das complexidades de Angola e da Guiné Equatorial aconselhariam a um esforço conjunto por parte dos dois Estados ibéricos."

Guiné-Bissau

A situação política na Guiné-Bissau está muito complicada e tensa. Parece-me fundamental – e urgente – organizar uma mediação exterior que possa ajudar os dirigentes políticos nacionais na procura de uma solução negociada. A resolução do confronto em curso pode ser facilitada por quem venha de fora e não tenha nenhuma sardinha no lume. Quem vai tomar a iniciativa?

Ainda sobre a Guiné-Bissau

A posição intransigente de Portugal em relação ao chamado governo de transição na Guiné-Bissau está a criar um sério clima de tensão entre o nosso país e a CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental. Esta situação precisa de ser resolvida ao mais alto nível da política externa portuguesa, pelas consequências negativas que tem no que respeita aos nossos interesses naquela região de África. 

 

Mais ainda, dentro da CPLP, Portugal deve trabalhar no sentido de fazer com que o Brasil assuma um papel mais activo na resolução da crise guineense. Uma linha de actuação desse tipo será coerente com o facto do Brasil ter, ao nível da ONU, um papel de liderança nas matérias relativas à Guiné-Bissau, enquanto chefe de fila do grupo de nações que apoiam a consolidação da paz em Bissau. 

A Guiné-Bissau: um caso esquecido

Ao fim do dia, a Rádio Renascença telefonou-me, por causa de um programa que está a ser preparado sobre a situação na Guiné-Bissau. A verdade, respondi-lhes, é que não tenho acompanhado a evolução recente do caos em que se encontra esse país. A Guiné-Bissau saiu do mapa estratégico internacional. Mesmo do regional, pois na África Ocidental o que conta, neste momento, é o caso do Mali bem como a proliferação dos grupos ligados, de modo mais ou menos real, à al-Qaeda. Quem se interessa ainda pela Guiné? Quem está disposto a perder mais tempo com esse poço sem fundo? 

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