Voltando ao escândalo que é a Caixa Geral de Depósitos, qual é a justificação para que a anunciada “auditoria forense”, decidida pelo governo há mais de dois meses, ainda não tenha sido iniciada? Quem tem aconselhado o governo a não andar para a frente com a auditoria, dizendo que uma investigação judicial dos actos praticados nos últimos mais ou menos dez anos não seria politicamente oportuna, por poder vir a mexer em gente com muitos poderes?
Não houve actos ilícitos? Não há responsáveis? Ninguém tem culpa?
É só fechar os olhos, toca a roda e mais do mesmo?
É por estas que eu penso que a política e os negócios devem ser mantidos em esferas separadas. Cada um no seu domínio, com regras claras e supervisão a sério. O resto é conversa, é ideologia barata, é abrir as portas à corrupção e ao roubo organizado e impune.
Este blog foi dos primeiros a escrever sobre a catastrófica situação a que sucessivos governos e interesses partidários do chamado “centrão” conduziram a Caixa Geral de Depósitos. Os anos da governação Sócrates foram particularmente desastrosos para a Caixa, que foi emprestando dinheiro a torto e a direito, sem qualquer outro critério que não fosse o da roubalheira e da negligência criminosa. Os de Passos Coelho foram anos de empurrar o problema para a frente, a fingir que este não existia.
Agora o cidadão vai pagar uma vez mais a conta. Trata-se de pôr o banco de pé, dizem. Eu acrescento que se trata acima de tudo de criar as condições para que a interferência política volte a acontecer. Não houve vergonha no passado. Seria ingénuo pensar que a haverá agora e nos próximos anos.
Os partidos querem controlar os bancos para poderem satisfazer as suas clientelas. É o saque organizado sob o lema do banco público.
António Costa fez um discurso de encerramento do Congresso do Partido Socialista mais equilibrado do que a maioria das intervenções dos principais dirigentes, feitas ao longo dos últimos três dias. Os outros oradores falavam para dentro do partido e não se privaram de mostrar as suas preferências por políticas mais próximas do simplismo extremado. Costa falava para fora. Tinha necessariamente que transmitir um conjunto de mensagens mais conciliatórias, nomeadamente em relação à Europa. Creio que o conseguiu.
Entretanto, talvez fosse útil repensar na imagem que a decisão de aumentar o número de administradores da Caixa Geral de Depósitos projecta. Passar de 14 membros do Conselho de Administração para 19, como agora foi decidido, é um erro de palmatória. A Caixa não tem uma dimensão que justifique tanta gente à sua frente. Só irão aumentar a confusão reinante na instituição, quando esta precisa de uma direcção clara, homogénea e mais competente. E por falar em competência, alguns dos novos nomes são de gente que já andou por estas andanças, no passado, e que deu provas de pouca objectividade profissional. Exactamente o contrário do que é preciso nesta fase.
O primeiro-ministro tem agora mais tempo livre para rever esta decisão. E tomar posição.
Afinal o mamarracho "vale" 251,8 milhões de euros. É o valor que vai sair das pensões dos funcionários da CGD para "comprar" o monstro que é a sede da CGD. É um incesto financeiro, pago a preço de ouro, com uma mais-valia de 103,7 milhões -- mais-valia, que anedota tão cara! --, por um edifício que apenas vale o muito que simboliza: a loucura das grandezas dos nossos bacocos, gente pequenina, de rabo entre as pernas, mas verdadeiros artistas, enquanto saltimbancos da finança e da política.
Voltando à minha questão de ontem, sobre a CGD, alguém sabe qual é o valor da "venda" da sede? E qual vai ser o montante da renda mensal que a Caixa vai pagar ao novo "senhorio", ou seja, ao Fundo de Pensões dos Funcionários da CGD?