O Pinho dos Chifres, segundo diz o Joe Berardo e outros intelectuais e líderes portugueses do mesmo calibre e nível cívico , é um génio.
A verdade é que os seus feitos, à altura da dignidade que a Assembleia da República inspira, foram objecto de narrativa e comentário um pouco por toda a parte. Mesmo no muito circunspecto e sisudo Financial Times. Este diário teve, no entanto, que explicar aos leitores anglo-saxónicos o significado do gesto altamente político-popular do nosso Pinho bravo. Para o fazer, recorreu às peças de William Shakespeare. O tema dos cornos era muito popular nessa época, quatrocentos anos atrás.
Agora que os chifres já entraram para a história do parlamento português, queria contar-vos uma estória de chavelhos. Dos verdadeiros. Aqui não se desce ao nível do figurado.
Em Janeiro um bovino vivo, de carne e osso, valia, no mercado de N' Djaména, quase 200 Euros. Havia erva, a estação das chuvas tinha terminado três ou quatro meses antes. Os animais apresentavam um ar farto e saudável.
Hoje, com o início das chuvas muito atrasado, os animais não têm que comer. Estão esqueléticos e sem forças. A minha base é no caminho para o matadouro, na entrada Norte da cidade. É frequente ver os animais a comer lixo, papel e plástico. As estrumeiras são agora as terras de pasto. Muitos dos animais não tem a energia suficiente para chegar à zona do abate. Morrem pelo caminho. Quem quiser pagar 15 Euros, compra uma vaca. De pele e ossos.
É um tempo de fome e de miséria para os animais e para os donos. São populações nómadas, tão magras como as suas vacas. E tão pobres que nem se atrevem a abrir a boca, para contar as suas mágoas. Morre-se em silêncio, que assim é a vida de quem anda nas terras das areias sem fim.