Dez minutos de televisão, às 20:00 horas, valem uma fortuna. Em todos os sentidos. É horário nobre. A televisão oficial portuguesa, a RTP1, passou os primeiros 10 minutos do telejornal da noite, a falar do novo treinador de um clube de futebol de Madrid.
No mesmo dia em que os soldados de Israel tomaram de assalto um barco de ajuda humanitária, em águas internacionais. Uma acção militar contra civis que causou a morte de pelo menos 9 pessoas. Um incidente que motivou uma reunião de urgência do Conselho de Segurança, em Nova Iorque, num dia em que a ONU estava encerrada por motivo de feriado americano. Que fez reagir as principais chancelarias da UE, sem mencionar os países fora da União.
O acontecimento foi notícia de abertura em todos os telejornais da Europa que consegui monitorizar.
Num artigo recente, na Visão, afirmei que a Grécia estava mais perto da insolvência do que muita gente pensava.
Agora, com as obrigações do tesouro grego a serem classificadas como de alto risco, o que dissera há umas semanas, e que poderá ter parecido despropositado para alguns, tornou-se uma hipótese plausível. De facto, a cessação de pagamentos da dívida pública, por parte de Atenas, no curto prazo, não é de excluir.
A ajuda europeia vai tardar, receio, em virtude das eleições regionais alemãs, que terão lugar no segundo fim-de-semana de Maio. A Alemanha é o motor deste processo e, igualmente, o principal financiador do pacote. Terá que disponibilizar mais de 8 mil milhões de euros. O eleitor médio alemão, e não só este, mas também muitos cidadãos de países do Norte da Europa, não entende as razões nem aprova um apoio financeiro excepcional à Grécia. Existem velhos preconceitos em relação aos países do Sul. Essas imagens voltaram à tona de água, à medida que a crise se foi tornando clara e que outros estados meridionais passaram a ser citados como estando na fila dos devedores precários.
Para Portugal, a evolução dos acontecimentos de hoje, incluindo a baixa do nível de notação da nossa dívida pública, é preocupante. O relatório da agência de rating Standard and Poors diz, no essencial, que as chances de crescimento da nossa economia, nos próximos dois a três anos, não se vislumbram. Acrescenta, ainda, que os cortes nas despesas do Estado não serão fáceis de concretizar.
As greves em curso mostram, em grande medida, que a capacidade de manobra no domínio do trabalho é muito reduzida.
Entretanto, milhares de portugueses da zona da grande Lisboa aproveitaram bem a falta de transportes. Ficaram nas praias da Costa do Sol, que a Linha de Cascais não tinha combóios que os trouxesse para os empregos.
Escrevo no TGV, entre Paris e Bruxelas, ao fim de um dia, muito longo, de discussões sobre a política de segurança e defesa da Europa. Vim falar sobre a experiência das Nações Unidas. Da cooperação entre a ONU e a UE na área da manutenção da paz.
Talvez fosse necessário começar por falar sobre a segurança na Gare du Nord, em Paris. Os roubos nos TGVs são frequentes. Ao entrar na carruagem dei com uma mulher jovem numa desesperada procura do seu computador portátil. Desaparecera num abrir e fechar de olhos. O revisor disse-lhe que não havia nada a fazer. Que, por vezes, os larápios chegam a levar malas de viagem, das grandes. Pegam nelas e vão andando, na confusão das multidões que percorrem os cais.
As grandes cidades, os espaços públicos por onde passam milhares de pessoas, são terrenos de caça. É fácil ser presa, quando as aves de rapina andam de olho atento.
Mas a conferência não foi sobre esse tema. Reuniu dezenas de intelectuais, diplomatas, militares e peritos de segurança. E chegou á conclusão que, nas questões militares, são as agendas de dois ou três grandes países da UE que contam. Não é novidade. Também aí, há quem ande com os olhos distraídos e não queira ver.
Mulheres e crianças de Birao, acampadas no sector mais protegido da localidade, depois do seu bairro, noutro canto da cidade, ter sido atacado por rebeldes, pilhado e queimado. São refugiadas na sua própria cidade.
As mulheres e as crianças são as principais vítimas dos conflitos armados. A violência é um prato quotidiano, um risco sempre presente.
A estupidez humana não tem limites. As provas desta verdade são visíveis todos os dias.
A falta de previsão e de capacidade de antecipação também não conhecem linhas de demarcação. Tudo é possível.
Hoje, por exemplo, o avião que tínhamos de prevenção em Abéché, estava com o depósito vazio. Em plena zona operacional, muito longe da capital. Como era urgente, perderam-se duas horas, até que estivesse pronto para voar. Quando o estava, já não era preciso. A oportunidade tinha sido perdida.
Ontem, uma das nossas colunas, no deserto do Norte, bem junto à fronteira com o Sudão, viajava do campo de refugiados de Oure Cassoni para Bahai. Vejam no Google. Várias viaturas de agências humanitárias. A viatura da frente fazia a protecção armada. Como já haviam feito o trajecto umas quinze vezes sem que houvesse qualquer ataque, iam descontraídos. Não havia viatura de protecção armada no final da coluna.
Ora, o local é uma zona de movimentação das guerrilhas sudanesas. Ontem, a décima sexta vez, os rebeldes atacaram. Concentraram-se, evidentemente, na última viatura da coluna. Um 4X4 do Comité Internacional da Cruz Vermelha. Adeus, carro meu.
A escolta, na primeira viatura, ainda tentou uma perseguição. Inútil. Os rebeldes entraram imediatamente em território sudanês. No passado, a escolta teria ido no seu encalço, independentemente da linha de fronteira. Mas comigo, não. Imaginem que eram interceptados pelos guardas fronteiriços do Sudão...
Ouvir atentamente. Refugiado sudanês com quem me encontrei hoje em Goz Beida, 200 quilómetros a Sudeste de Abeche, durante a visita que Bernard Kouchner, Alain Le Roy e eu fizemos 'a localidade.
As consequências da expulsão de 13 ONGs do Sudão sobre os parentes destes homens foi um dos temas que mais preocupou a assembleia. Que vai acontecer aos familiares que ainda se encontram no Darfur e que dependiam das ONGs humanitárias no que respeita a necessidades básicas, como água, alimentação , saúde e escolas?
A sina do Presidente Al-Bashir atraiu as atenções de todos. Os refugiados apoiam freneticamente a decisão do Tribunal Penal Internacional.
Vítima de ataque dos cavaleiros Jenjawid, aliados armados e organizados sob a forma de milícias, do Presidente do Sudão. Certos Jenjawid, palavra local que inicialmente queria dizer "homem a cavalo", tornaram-se os principais actores dos crimes de guerra.
A manutencao da segurança e ordem internas é uma das funções essenciais do Estado. Quando os cidadãos têm o sentimento de que o desempenho dessa função está a falhar, há que tirar todas as consequências políticas e ter a coragem de tomar as medidas que se impõem.
Neste momento, em Portugal, falta a coragem política bem como percepção, o entendimento, da gravidade da situação de segurança, tal como é vista pelo cidadão comum. A responsabilidade primeira recai sobre o chefe do governo. Duas medidas de resposta imediata seriam a substituição do Ministro da Administração Interna e a execução de patrulhas conjuntas entre a PSP e a GNR. A médio prazo, a resposta passa pela reorganização das forcas policiais, incluindo a progressiva fusão da PSP e da GNR.