Este é o link para o meu texto de hoje no Diário de Notícias.
"No caso português, foi aprovada a Lei de Bases do Clima (Lei nº 98/2021, de 31 de dezembro), mas falta lançar um debate nacional sobre o problema. Ora, em virtude da sua localização geográfica, todo virado para o Atlântico e a dois passos do Sahel, Portugal é um dos países europeus mais vulneráveis em matéria de alterações climáticas. Está sujeito a longos períodos de seca, à contínua desertificação de partes do território nacional, incluindo às poeiras vindas do Norte de África, à erosão e a tempestades marítimas, à ocorrência de incêndios de grande envergadura, bem como a um caótico, primitivo e ganancioso desordenamento do território. No seu conjunto, este é um tema que por sistema não aparece nas discussões que têm lugar na nossa praça pública. Por que será?"
A COP27, como as anteriores, é uma feira de promessas. Os países mais desenvolvidos prometem dinheiro e os outros ficam à espera desses fundos, que só aparecem lentamente. Entretanto, as florestas vão desaparecendo, as reservas piscatórias vão sendo esgotadas por certos países da União Europeia, pela China e a Coreia do Sul, entre outros, e os fenómenos meteorológicos são cada vez mais frequentes e intensos.
António Guterres fez um bom discurso de abertura. Foi ouvido por todos, mas ninguém põe em prática aquilo que ouve. Uns porque não querem fazer diminuir o nível de consumo dos seus cidadãos, outros porque são tão pobres que não têm outro recurso senão consumir até à exaustão o pouco que têm.
A responsabilidade pela questão do clima é, acima de tudo, dos países mais ricos, que poluem muitas vezes mais do que os mais pobres.
O relatório das Nações Unidas – Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) – que acaba de ser publicado mostra claramente que estamos numa situação de grande crise climática. A comunicação social deveria organizar um debate regular sobre as principais conclusões do relatório. É verdade que lhe deu a relevância que merece. Mas a partir de agora e até à COP26 em Novembro, que decorrerá em Glasgow, é fundamental que as atenções continuem focalizadas nas questões do clima, do ambiente e do que é preciso fazer para evitar uma catástrofe de enormes consequências.
O dia esteve de tempestade. Chamaram-lhe Dennis. Há dias tinha sido a Ciara. São nomes bonitos, mas dias feios e perigosos. Com a Ciara, uma árvore do meu vizinho caiu no meu jardim. No dia seguinte, já estava tudo tratado, a árvore cortada e o jardim pronto para a tempestade de agora.
Por outro lado, tivemos um mês de Janeiro seco e com temperaturas acima do que é normal. O mesmo está a acontecer com Fevereiro. Os arbustos aqui de casa já estão a desabrochar, coisa que normalmente só acontece na segunda quinzena de Março.
Tudo isto nos lembra que o clima está a mudar e que é preciso responder a esse desafio sem demoras. António Guterres lembrou hoje, a partir de Islamabad, que esse é o desafio mais importante que temos pela frente. Ao dizer isso, referia-se às consequências que resultarão do aquecimento global, da subida das águas dos oceanos, das intempéries de grande dimensão e frequentes, bem como à perda da diversidade natural.
É certamente um desafio maior. O problema é que os discursos dos dirigentes políticos não são seguidos por factos, por mudanças profundas e estruturantes. É verdade que não é fácil alterar todo um modo de produção e de vida. Mas tratando-se de uma questão global, é essencial que as medidas sejam tomadas em concerto, que haja uma resposta global e harmonizada.
E já agora, como Guterres se encontra no Paquistão, quero lembrar que outro problema maior é do poder político ser usurpado, em várias partes do mundo, por elites entranhadamente corruptas.
Na altura em que se tenta concluir a conferência da ONU sobre o clima, que está a decorrer em Madrid há duas semanas, convém lembrar que os três bancos gigantes japoneses – Mizuho, Mitsubishi UFJ Financial Group e o Sumitomo Mitsui Banking Corporation – ocupam os primeiros lugares no que respeita ao financiamento de novas centrais a carvão. Sim, a carvão. Em quarto lugar, está o banco americano Citigroup. O muito europeu e certinho BNP Paribas ocupa a quinta posição.
Portugal é um dos Estados europeus que ainda não ratificou a convenção de Paris sobre as mudanças climáticas.
Andamos perdidos noutras discussões, de lana-caprina, ou à procura das melhores mensagens simbólicas que mostrem o nosso radicalismo simplório e que afastem os investidores das nossas terras.
As questões estratégicas não fazem parte do nosso ecrã político quotidiano.
Na altura de decidir que meio de transporte iria utilizar para me deslocar ao hospital, do outro lado da cidade, lembrei-me da publicação, nesta segunda-feira, do quinto relatório da Painel Intergovernamental da ONU sobre as Mudanças Climáticas. O relatório, que resulta do trabalho colectivo de 837 cientistas de renome, espalhados pelo mundo, é bem claro sobre a necessidade de mudar de vida, tão depressa quanto possível, para que se possa ainda evitar o pior cenário, em termos de aquecimento global.
Vale a pena ler o relatório. Como também seria útil que a comunicação social aproveitasse melhor as principais conclusões que dele constam e as divulgasse. É um assunto muito sério, com consequências globais. Precisa de entrar na agenda da opinião pública e fazer parte integrante das preocupações das forças políticas.
Mas voltando à decisão que tinha que tomar, e por ter acabado de folhear o relatório em questão, acabei por me descobrir a comparar custos. Não apenas os custos monetários -2,20 euros de elétrico, quase 20 euros, se fosse de carro, adicionando o valor da gasolina ao do estacionamento – nem tão pouco os custos em termos de tempo de trajecto: 41 minutos de eléctrico, um pouco mais de 30, indo de carro. Pensei nos custos ecológicos: 264 gramas de emissões CO2, no transporte público, contra 1391 gramas, caso utilizasse o meu veículo.
No caso dos Estados Unidos, nem quero acreditar que um fulano como o ultra-reaccionário NewtGingrich poderá estar, dentro de um ano, a semanas de ser investido como Presidente. Se isso vier a acontecer, e a possibilidade existe, a política internacional dos EUA será extremamente negativa no que respeita às Nações Unidas, à Palestina, África e a certas questões globais, como por exemplo, as alterações climáticas e a cooperação internacional. Internamente, haverá um retrocesso em termos sociais, de valores e de tolerância.
Gingrich é mais um pesadelo num horizonte já bastante carregado.
Ainda há quem não acredite no aquecimento global. Veja-se a tendência que este gráfico revela. Que não é só de agora, que remonta aos anos 20 do século passado e acelerou a partir da década de 80.
E pense-se nas consequências deste aumento da temperatura média da terra sobre o meio ambiente, a biodiversidade e a vida de muitas pessoas.
N'Djaména está sem ligações aéreas com o resto mundo desde Quinta-feira. Completamente isolada. Sucessivas tempestades de areia e de pó fino fecham o horizonte e paralisam a vida quotidiana. As casas, as máquinas, as pessoas, está tudo com uma camada de pó, como se fosse uma nova pele, bem espessa, que se viesse sobrepor ao coiro duro que a natureza nos deu. O pó não pede licença para entrar no íntimo das nossas vidas. Penetra por todos os orifícios, enche-nos a boca e a os miolos, fica tudo emperrado, com o sabor da terra seca a dominar-nos o pensamento.
Só quem tenha experimentado este tipo de fenómenos climáticos pode compreender o que é viver no meio de nuvens de poeira.
A minha viagem de regresso, prevista para amanhã, está agora suspensa no ar pesado que sopra dos desertos. Será que vou poder voar? Hoje à noite, o prognóstico é muito negativo.