As televisões que funcionam como canais de notícias 24 horas por dia querem coisas novas cada trinta minutos. Se há nada de novo, dizem quem estamos num impasse. E a expressão impasse passa a ser o tema durante uns dias, com uma série de comentadores a discorrer sobre a questão. Assim se cria uma falsa realidade, sem ter em conta que certas coisas precisam de tempo para ser levadas a cabo.
Não entendo a atenção que os comentadores e a comunicação social dão constantemente ao partido da extrema-direita que tem alguns assentos na Assembleia da República.
Quando se discutiu os resultados eleitorais em Espanha, vários intervenientes nos debates televisivos aqui em Portugal pareciam estar apenas preocupados com o impacto que esses resultados poderiam ter no tal partido que por aí anda.
Esse partido é um apanhado que mistura parolos e brutamontes que giram à volta de um rapaz habilidoso, capaz de repetir sempre os mesmos slogans com um ar de quem vai salvar o país. Não é mais do que isso. O resto dos membros da agremiação são uns amadores, uns do tipo espertalhão outros do género papalvo.
Como é possível dar tanto espaço e tanta importância mediática a uma associação de medíocres? Será porque alguns deles sabem fazer muito barulho?
Muitos dos comentadores que falam dos documentos secretos agora “revelados” sobre a guerra que a Rússia move contra a Ucrânia nunca viram um documento secreto relacionado com operações militares de alta sensibilidade. Não sabem como são codificados esses documentos para, no caso de haver fuga de informação, se saber quem esteve na origem da mesma. Sem contar, claro, que o que verdadeiramente importa são as informações sobre as próximas ofensivas. E essas informações são de tal modo confidenciais que, na sua versão final, só deverão ser conhecidas por meia dúzia de pessoas, à volta do Presidente Zelensky, e ninguém mais. Mesmo os aliados mais directos não deverão ter acesso ao que terá sido, se já existe, a decisão final sobre a contra-ofensiva ucraniana. Saberão quais são as principais opções, mas apenas isso. Essa contra-ofensiva tem uma importância fundamental e não será conhecida até ao momento do seu desencadeamento. Tudo o resto é especulação ou engodo, contra-informação, engano para levar o inimigo a reforçar A quando será B que irá ser atacado.
O drone norte-americano abatido nos céus internacionais do Mar Negro era um dos aparelhos que constantemente percorrem a zona, para captar informações sobre as posições russas, situadas a dezenas e dezenas de quilómetros de distância. Nunca entram, no entanto, no espaço aéreo russo.
A razão que levou os russos a abater este não é clara. Existe uma reflexão para tentar perceber a intenção por detrás dessa decisão.
O que é verdade é que esse aparelho seguia uma trajectória de leste para oeste, para se manter fora do espaço russo e permanecer dentro do que é aceitável em termos militares.
Apesar da rota que seguia, ontem, numa das televisões nacionais, um comentador pago, militar na reserva, mentiu aos espectadores e disse que o drone se dirigia para a Crimeia, ou seja, numa rota para norte. O objectivo da mentira seria, segundo imagino, dar um argumento aos pilotos russos para fazer o que fizeram e que não só foi muito grave como poderia ter despoletado uma confrontação entre americanos e russos.
A mentira não foi contestada e o comentador continua a aparecer no canal televisivo e a receber. Será que também recebe alguma prendinha vinda de Moscovo? Quero crer que não. É só ideologia e manipulação.
Alguns comentadores têm emitido reservas quanto à decisão finlandesa de adesão à NATO. E irão certamente continuar na mesma linha, quando a decisão sueca for oficialmente anunciada.
Parece-me despropositado emitir esse tipo de críticas. Os dirigentes políticos da Finlândia – e a população – têm a maturidade e a experiência necessárias para decidir se é ou não no interesse nacional avançar agora com o processo de adesão. Mais ainda, sabem comparar a Rússia de Vladimir Putin com a União Soviética dos outros tempos. E acham que a ditadura de um só homem é bem mais perigosa do que a maneira mais colegial de decidir – o Politburo – da era soviética.
Iniciado o processo, caberá então aos actuais 30 países membros da NATO avaliar o pedido de adesão. Todos terão de o aprovar. Ou seja, o filtro seguinte é igualmente muito exigente. Do ponto de vista da ordem democrática e da qualidade e eficiência das forças armadas finlandesas e suecas não haverá qualquer obstáculo. Ambos os países reúnem os critérios exigidos pela NATO. Têm, aliás, uma história de cooperação com a NATO.
A Turquia poderá levantar formalmente, ou de modo mais reservado, algumas objecções, como já deu a entender. São, no entanto, reservas oportunistas, para obter vantagens nacionais. Não têm nada de estratégico.
A posição russa é conhecida. O que não é claro é o tipo de retaliações que virá a adoptar. Neste momento, é difícil prever. Estamos em plena crise por causa da agressão contra a Ucrânia. E por muito que se diga, a Rússia de amanhã será um país muito influenciado pelo desfecho da crise ucraniana.
Detractor é um adjectivo que se usa quando nos queremos referir a quem diz mal ou procura difamar, ou, pelo menos, atacar uma outra pessoa. É uma palavra negativa, acusatória. Deve ser utilizada com muita atenção.
O meu escrito de ontem despertou muita atenção e vários comentários. Neste blog, não há censura e cada um pode comentar como entender. É, no entanto, fundamental que cada opinião seja expressa para discutir ideias e não para chamar nomes aos outros ou insultar seja quem for. Os insultos só mostram falta de nível e de argumentos. Quem quiser utilizar essa técnica pode comentar o que Donald Trump escreve, pois o antigo Presidente sempre foi um especialista na utilização de expressões grosseiras e ofensivas. Cada um deve procurar a companhia que melhor se coaduna com a sua personalidade.
A classe política e os comentadores do costume andam muito ocupados a discutir uma nomeação partidária – do partido do governo, é óbvio – para uma comissão importante. Mas, perante os problemas que o país enfrenta e as reformas estruturais que deveriam ser discutidas e feitas, isto é uma ninharia. O pessoal agarra-se a ninharias com unhas e dentes. Confunde, assim, o acessório com o que é essencial. E quem está no poder, goza.
Devo ser dos poucos residentes em Portugal que nunca vê um telejornal. Nem à hora do almoço nem ao jantar. Alguns pensarão que é por falta de patriotismo, depois de quarenta e dois anos de ausência do país. A verdade é que considero errado o formato que os telejornais seguem. São demasiado longos, repetitivos e muito pouco completos, no que respeita ao panorama que deveriam dar sobre os acontecimentos que passam. Claro que se trata de opinião pessoal. Cada um terá a sua.
Pensei nisto ao ler no Público uma Carta Aberta dirigida às televisões generalistas. A carta levanta algumas questões sobre o estilo de jornalismo televisivo que se faz. É um ponto positivo, uma questão pertinente. Mas a carta perde força quando parece querer, acima de tudo, atacar os que, nas televisões, atacam ou interrogam com demasiada vitalidade o governo. Claro que está no direito dos autores da missiva defender a acção governativa. Mas se o ponto principal era o de contribuir para uma informação televisiva de melhor qualidade, o aparente alinhamento partidário dos signatários tem um efeito contraproducente. E os opositores à carta não deixam escapar essa fraqueza.