Alguns comentadores têm emitido reservas quanto à decisão finlandesa de adesão à NATO. E irão certamente continuar na mesma linha, quando a decisão sueca for oficialmente anunciada.
Parece-me despropositado emitir esse tipo de críticas. Os dirigentes políticos da Finlândia – e a população – têm a maturidade e a experiência necessárias para decidir se é ou não no interesse nacional avançar agora com o processo de adesão. Mais ainda, sabem comparar a Rússia de Vladimir Putin com a União Soviética dos outros tempos. E acham que a ditadura de um só homem é bem mais perigosa do que a maneira mais colegial de decidir – o Politburo – da era soviética.
Iniciado o processo, caberá então aos actuais 30 países membros da NATO avaliar o pedido de adesão. Todos terão de o aprovar. Ou seja, o filtro seguinte é igualmente muito exigente. Do ponto de vista da ordem democrática e da qualidade e eficiência das forças armadas finlandesas e suecas não haverá qualquer obstáculo. Ambos os países reúnem os critérios exigidos pela NATO. Têm, aliás, uma história de cooperação com a NATO.
A Turquia poderá levantar formalmente, ou de modo mais reservado, algumas objecções, como já deu a entender. São, no entanto, reservas oportunistas, para obter vantagens nacionais. Não têm nada de estratégico.
A posição russa é conhecida. O que não é claro é o tipo de retaliações que virá a adoptar. Neste momento, é difícil prever. Estamos em plena crise por causa da agressão contra a Ucrânia. E por muito que se diga, a Rússia de amanhã será um país muito influenciado pelo desfecho da crise ucraniana.
Detractor é um adjectivo que se usa quando nos queremos referir a quem diz mal ou procura difamar, ou, pelo menos, atacar uma outra pessoa. É uma palavra negativa, acusatória. Deve ser utilizada com muita atenção.
O meu escrito de ontem despertou muita atenção e vários comentários. Neste blog, não há censura e cada um pode comentar como entender. É, no entanto, fundamental que cada opinião seja expressa para discutir ideias e não para chamar nomes aos outros ou insultar seja quem for. Os insultos só mostram falta de nível e de argumentos. Quem quiser utilizar essa técnica pode comentar o que Donald Trump escreve, pois o antigo Presidente sempre foi um especialista na utilização de expressões grosseiras e ofensivas. Cada um deve procurar a companhia que melhor se coaduna com a sua personalidade.
A classe política e os comentadores do costume andam muito ocupados a discutir uma nomeação partidária – do partido do governo, é óbvio – para uma comissão importante. Mas, perante os problemas que o país enfrenta e as reformas estruturais que deveriam ser discutidas e feitas, isto é uma ninharia. O pessoal agarra-se a ninharias com unhas e dentes. Confunde, assim, o acessório com o que é essencial. E quem está no poder, goza.
Devo ser dos poucos residentes em Portugal que nunca vê um telejornal. Nem à hora do almoço nem ao jantar. Alguns pensarão que é por falta de patriotismo, depois de quarenta e dois anos de ausência do país. A verdade é que considero errado o formato que os telejornais seguem. São demasiado longos, repetitivos e muito pouco completos, no que respeita ao panorama que deveriam dar sobre os acontecimentos que passam. Claro que se trata de opinião pessoal. Cada um terá a sua.
Pensei nisto ao ler no Público uma Carta Aberta dirigida às televisões generalistas. A carta levanta algumas questões sobre o estilo de jornalismo televisivo que se faz. É um ponto positivo, uma questão pertinente. Mas a carta perde força quando parece querer, acima de tudo, atacar os que, nas televisões, atacam ou interrogam com demasiada vitalidade o governo. Claro que está no direito dos autores da missiva defender a acção governativa. Mas se o ponto principal era o de contribuir para uma informação televisiva de melhor qualidade, o aparente alinhamento partidário dos signatários tem um efeito contraproducente. E os opositores à carta não deixam escapar essa fraqueza.
Quem ocupa um lugar de liderança, está de serviço de dia e de noite. A fronteira entre a vida pública e a privada é muito ténue. Liderar é dar o exemplo. E para que se continue a liderar, é fundamental manter um comportamento coerente. Sem isso, lá se vai a credibilidade. E fica apenas o apoio dos incondicionais do chefe e do partido. Ou seja, perde-se uma fatia que é importante para tornar a base do poder mais ampla, mais abrangente. Um exemplo que tenho presente, agora que escrevo estas linhas, foi o dado por Kofi Annan. Comportava-se sempre, mesmo nos momentos mais amistosos e fora das obrigações oficiais, com a dignidade e a presença que se espera de um Secretário-Geral. Se tivesse sido primeiro-ministro, ter-se-ia comportado sempre como um primeiro-ministro. Não iria em futebóis, como dizemos nós, que não somos primeiro-ministros.
Pessoa amiga chamou-me a atenção para o discurso proferido pelo Cardeal D. José Tolentino Mendonça na cerimónia do 10 de Junho de 2020. Esse discurso está disponível no You Tube. São 22 minutos de reflexão sobre a nossa condição de portugueses. Foi pensado com um espírito positivo e uma visão generosa do que podemos ser. Por vezes é um pouco lírico, mas vale a pena ouvi-lo. O Senhor Cardeal representa o que de melhor existe entre os nossos intelectuais. Comparar as suas palavras com as dos comentadores do costume é como contrastar um dia de Sol com uma tarde feia de neblina e sem visibilidade.
Utilizar as expressões “forretas” e “poupados” não ajuda o nosso país. O Zé do Cacete ou o comentador televisivo com um ar de vinho tinto mal apurado são certamente fãs desse tipo de linguagem. Mas, a política tem que ser feita com outro espírito. O relacionamento entre os Estados membros da União Europeia deve assentar em discussões construtivas entre os líderes e numa narrativa pública positiva.
Uma relação séria e com peso e medida. Crítica, não haja dúvidas, capaz de defender os nossos interesses, certamente, directa, para que se entenda, mas dentro dos limites que promovem o bom entendimento entre parceiros de um mesmo projecto.
Hoje, os ministros das Finanças do Eurogrupo voltam a reunir-se para discutir como custear os investimentos excepcionais que a pandemia vai exigir. Esta é uma questão muito delicada, que tem dividido a zona euro em dois campos. Também deu azo ao aparecimento de toda uma série de colunas de opinião, aqui na nossa praça, que se inspiraram mais no emocional e nas ideias feitas do que numa análise da realidade do que é o mosaico europeu.
A UE é o resultado de um equilíbrio de interesses diversos, de vários tipos, não apenas económicos, de modo a garantir um certo modo de vida, que tem na democracia, na segurança humana e na prosperidade os seus principais pilares. Este equilíbrio será mais forte se os diversos países membros conseguirem evitar grandes disparidades entre eles. Creio que em relação a isso não há dúvidas nas diferentes capitais e nas cebeças de quem pensa nestas coisas pela positiva. Como também não me parece que hajam dúvidas quando se trata de reconhecer as diferenças que existem e peso negativo que essas disparidades trazem para o projecto comum.
Mas estas coisas entre Estados constroem-se progressivamente. Em certas áreas e em dados momentos, é possível avançar mais depressa. Outras vezes, estaremos perante um trabalho penoso de discussão, de resolução das divergências. É nessa altura que é precisa muita diplomacia, ideias claras e argumentação inteligente.
Certos comentaristas caem na estupidez ou, então, no jogo barato e afirmam, por exemplo, que os Estados membros têm como modelo uma Europa desigual, com níveis de desenvolvimento diferentes. Esse afirmação soa bem, nos meios que querem destruir a união, mas não corresponde à verdade.