A dias do começo da cimeira sobre o clima – a COP26 – existe um grande pessimismo sobre os resultados que se poderão esperar desta reunião. Países como a China, a Índia ou a Rússia ainda não comunicaram as metas que se propõem cumprir. Por outro lado, a Polónia tenta introduzir alterações no plano europeu, de modo a transformar uma promessa ambiciosa num documento mais vago e prolongado no tempo.
Os combustíveis fósseis estão de novo num pico de procura, agora que as principais economias procuram recuperar o crescimento perdido nos últimos 18 meses. Os preços do petróleo, do gás natural e do carvão aumentaram marcadamente nos últimos meses e todas as preocupações são sobre o acesso a quantidades suficientes dessas fontes energéticas. Por outro lado, já começa a ficar claro que o comportamento dos cidadãos, nos países mais avançados, está a voltar aos hábitos passados e mesmo a acentuá-los – anda-se agora mais de carro do que em finais de 2019. E os meios financeiros, que deveriam estar disponíveis para a transição energética das economias menos desenvolvidas, estão muito abaixo do que havia sido prometido.
Ao mesmo tempo, é hoje mais claro que a crise climática se está a acelerar e que há urgência na tomada de medidas.
A Área Metropolitana de Lisboa fica entregue a si própria durante o fim-de-semana. Quem nela vive ou visita vai continuar a poder andar nas ruas sem máscara – é isso que vejo todos os dias – e a organizar almoços e jantares com grupos de amigos. Ou a ver jogos de futebol com a malta do clube a celebrar à brava à volta dos ecrãs das televisões. E ninguém lhes irá lembrar que a prevenção é o melhor remédio. Nem que o vírus ainda não desapareceu, antes pelo contrário.
Hoje, a Alemanha decidiu impor uma quarentena de duas semanas aos viajantes provenientes do Reino Unido. Está preocupada com a incidência da nova estirpe indiana no seio da população britânica.
Entretanto, Portugal começou a receber de braços abertos turistas vindos do Reino Unido. Mostra, mais uma vez, que não há, no seio da União Europeia, um tratamento unificado da pandemia.
E a coisa pode ficar complicada, de novo, em Portugal. Depois das festas desportivas e outras comemorações, e agora com a abertura das viagens turísticas, os números estão a aumentar. Se o nível de contágios atingir o patamar critico, os países começarão a colocar o nosso na lista vermelha. Isso iria comprometer seriamente o período de férias de verão.
Nas ruas, é cada vez mais frequente ver gente sem máscara. Andam com ela no braço. Esta atitude deve ser combatida por quem tem a responsabilidade de o fazer. A ideia de que a pandemia está a ficar vencida é uma ideia que ainda pode custar caro. A nossa economia não pode fazer frente a uma nova vaga. Prudência e comportamentos cívicos deveriam continua a ser as palavras de ordem.
Estamos cada vez mais fechados em nós próprios. Sair de casa passou a ser algo de absolutamente excepcional. Muitos de nós temos apenas como visão do mundo a parede do prédio da frente ou as imagens que quem manda nas televisões decide pôr nos ecrãs.
Isto seria aceitável noutras eras. Agora, é cada vez mais difícil, embora a maioria dos cidadãos tenha compreendido a necessidade do confinamento. Mas quanto tempo mais poderá durar essa aquiescência? E que efeitos no comportamento irão ocorrer? E, mais ainda, quem irá tirar dividendos políticos destes tempos tão diferentes?
Actualmente, aqui em Portugal, as estatísticas relativas à pandemia são dramáticas. Revelam um alto nível de incidência e, sobretudo, um número muito elevado de óbitos. Penso que se deve insistir mais nas medidas de prevenção, no comportamento que cada um de nós deve assumir no quotidiano das nossas vidas. Vamos entrar num novo período de restrições. Mas essas limitações servirão de pouco se os comportamentos de risco continuarem. É fundamental apelar ao bom senso de cada um de nós, para o nosso bem, para o bem dos que nos são próximos e também para o bem colectivo.
A mensagem fundamental, que é preciso repetir várias vezes ao dia, é muito simples: o vírus continua presente nas nossas vidas e pronto para infectar quem não se precaver. É simples, na verdade, mas parece que alguns não a estão a entender. Pensam que, com a retomada das actividades económicas, a situação voltou ao normal. Longe disso. Estamos, para já, no que alguns chamam “o novo normal”, que exige comportamentos diferentes dos praticados até Março. Não se trata de viver com medo, mas sim com prudência e respeitando as regras sanitárias que os especialistas consideram essenciais.
Dia de aniversário. E de confinamento. Por isso, a celebração foi por videoconferência, cada segmento da família no seu refúgio. Assim são os tempos que vivemos. As regras são para se cumprir. E para fazer cumprir. Assumimos a nossa parte e queremos que os outros sejam responsáveis pela sua. O fundamental é que todos entendam a gravidade da situação actual. E nalguns sítios, parece que esse entendimento custa a fazer-se entender.
Aqui, não se pode ir de uma localidade para outra sem uma justificação de força maior. Quem o tenta fazer, leva com uma multa das grandes. Em França ou em Espanha, as restrições são ainda maiores. Quem tem dificuldades de compreensão do que está em jogo, paga e paga bem.
Os meus amigos orientais, chineses, japoneses e malaios, dizem-me que estão surpreendidos com o comportamento indisciplinado de alguns europeus, aqui nesta nossa Europa. Também não entendem a discussão sobre as liberdades individuais, numa altura em que o bem colectivo está seriamente ameaçado. É uma outra maneira de ver as coisas. Mas a verdade é que estamos a viver uma calamidade de proporções alarmantes. Ninguém sabe como isto irá evoluir.
Entretanto, assisti a um dia de confusão nos Estados Unidos. Há um nível de caos e uma atmosfera de desorientação que são preocupantes. Começar a semana assim é muito mau. Muito, mesmo. Ora, isto precisava de notícias mais encorajadoras
Vamos ter paciência. E insistir no que está ao nosso alcance, que é a adopção de comportamentos responsáveis.
Tenho um amigo chegado que é um verdadeiro caçador de vírgulas. Passa o tempo a tratar de minudências. Somos muito diferentes, mas gosto de estar com ele de vez em quando. Nessas alturas, volto a lembrar-me que na vida e na política, a falta de uma vírgula altera o sentido e a forma. Ora, o sentido e a forma são fundamentais para que não surjam equívocos. E para manter o respeito.