Não entendo a atenção que os comentadores e a comunicação social dão constantemente ao partido da extrema-direita que tem alguns assentos na Assembleia da República.
Quando se discutiu os resultados eleitorais em Espanha, vários intervenientes nos debates televisivos aqui em Portugal pareciam estar apenas preocupados com o impacto que esses resultados poderiam ter no tal partido que por aí anda.
Esse partido é um apanhado que mistura parolos e brutamontes que giram à volta de um rapaz habilidoso, capaz de repetir sempre os mesmos slogans com um ar de quem vai salvar o país. Não é mais do que isso. O resto dos membros da agremiação são uns amadores, uns do tipo espertalhão outros do género papalvo.
Como é possível dar tanto espaço e tanta importância mediática a uma associação de medíocres? Será porque alguns deles sabem fazer muito barulho?
A RTP entrevistou Sergey Lavrov, a velha raposa russa.
Esperava-se uma hora de propaganda e falsidades. Não houve deceção, foi mesmo assim.
Comparativamente, é melhor ter uma hora de mentiras à la Lavrov, uma vez na vida, que sessões diárias de propaganda russa, como um certo canal televisivo faz, só para ganhar audiências.
Falou dos “Nazis”, da “derrota estratégica da Rússia”, procurada pelo Ocidente, e dos EUA como os inspiradores e promotores da guerra.
A Ucrânia faz o que o Ocidente lhe manda fazer, diz a raposa.
Disse que é o Ocidente que ameaça com ataques nucleares; deve ser pela voz de Dmitri Medvedev, o atrasado mental ao serviço de Putin.
Vê russofobia onde ela não existe.
Mas não vê os crimes de guerra praticados pelas tropas do seu país.
Acredita nos BRICS, como vassalo que é da China.
E muito mais, tudo na linha da continuação da agressão contra a Ucrânia.
Deve-se reconhecer que o drama que hoje aconteceu em Lisboa, no Centro Ismaelita, foi por todos tratado com muita serenidade e equilíbrio. A começar pela PSP, pelos dirigentes do Centro e pela própria comunicação social. É muito triste que tenham falecido duas pessoas, cuja dedicação aos outros era exemplar, como também é uma tragédia ser-se refugiado pobre numa sociedade completamente distinta da de origem. E o mundo está cheio de refugiados a viver em condições de grande desespero.
Como é possível que uma espécie de 1º Cabo, que aprendeu estratégia internacional a comandar segundos-cabos e soldados da GNR, venha todos os dias à televisão dizer mentiras com o simples e óbvio intuito de defender Putin. E agora que Putin é um foragido internacional, esse estratega ao nível de 1º Cabo ainda mente mais e liga coisas que nada têm de ver umas com as outras, só para mostrar que o Ocidente está às portas da morte.
E que Forças Armadas são estas que permitem a um dos seus vir atacar as posições oficiais que Portugal e os seus aliados defendem? Um 1º Cabo na reserva ganha o salário das Forças Armadas por inteiro e tem os mesmos deveres de quem está no activo: não falar de política e sobretudo não atacar as alianças a que o nosso país pertence.
Tudo isto faz dos nossos comandantes militares e do chefe supremo das Forças Armadas umas anedotas, aos olhos dos nossos aliados. E das televisões um instrumento que só pensa em negócios e sensacionalismos bacocos. À 1º Cabo!
O drone norte-americano abatido nos céus internacionais do Mar Negro era um dos aparelhos que constantemente percorrem a zona, para captar informações sobre as posições russas, situadas a dezenas e dezenas de quilómetros de distância. Nunca entram, no entanto, no espaço aéreo russo.
A razão que levou os russos a abater este não é clara. Existe uma reflexão para tentar perceber a intenção por detrás dessa decisão.
O que é verdade é que esse aparelho seguia uma trajectória de leste para oeste, para se manter fora do espaço russo e permanecer dentro do que é aceitável em termos militares.
Apesar da rota que seguia, ontem, numa das televisões nacionais, um comentador pago, militar na reserva, mentiu aos espectadores e disse que o drone se dirigia para a Crimeia, ou seja, numa rota para norte. O objectivo da mentira seria, segundo imagino, dar um argumento aos pilotos russos para fazer o que fizeram e que não só foi muito grave como poderia ter despoletado uma confrontação entre americanos e russos.
A mentira não foi contestada e o comentador continua a aparecer no canal televisivo e a receber. Será que também recebe alguma prendinha vinda de Moscovo? Quero crer que não. É só ideologia e manipulação.
Três comentários breves, por não haver tempo para mais. Mas terei de voltar a estes assuntos.
Primeiro: A nossa elite política, nos partidos e na comunicação social, não aceita ser contestada. É uma elite de aldeia. Vive em círculos fechados e não admite estranhos. Só as estrelas da aldeia é que têm direito à voz pública.
Segundo: Ter qualidades de liderança, como Zelensky e muitos outros o mostram ou já mostraram, é saber obter resultados com meios reduzidos. Não passa pelo uso dos galões, estatutos, nem por invocações tolas e burocráticas de regras que não podem ser aplicadas. Quando se quer que o sistema funcione, cria-se primeiro as condições necessárias.
Terceiro: O servilismo de certos órgãos da comunicação social em relação a um pardal não chega para o transformar numa águia real. Mostra, simplesmente, um nível de subserviência que roça a saloiice.
O Agostinho diz que o ministério da defesa do Reino Unido é um circo de comediantes. E o canal televisivo que lhe dá guarita cala-se, aceita sem pestanejar esta afirmação que só pode vir de um destravado mental ou de então de um pobre doente autista. Ou então, é o canal de televisão que anda à deriva, aceitando todas as parvoeiras que passam pelos miolos de um”estratega” que aprendeu estratégia entre o Largo do Carmo e o Chiado e que tem uma memória própria de um autista.
Os nossos diferentes canais de televisão são de tema único. Quando se agarram a uma matéria que possa parecer sensacional ficam como o cão que não larga o osso.
Agora o tema são os incêndios. E os noticiários estão todos em chamas, são labaredas e entrevistas a pobres gentes por todos os lados. O resto do mundo deixou de existir. Nalguns casos, certas televisões destacam mesmo jornalistas muito seniores para o terreno, se este não ficar muito longe da capital, claro.
Detractor é um adjectivo que se usa quando nos queremos referir a quem diz mal ou procura difamar, ou, pelo menos, atacar uma outra pessoa. É uma palavra negativa, acusatória. Deve ser utilizada com muita atenção.
A invasão da Ucrânia a mando de Vladimir Putin permitiu-nos saber que a nossa comunicação social está cheia de cronistas especializados em assuntos e estratégias internacionais. Gente que passou anos a escrever sobre política interna e outras intrigas semelhantes disserta agora sobre a Ucrânia, a Rússia, Vladimir Putin, Vlodymyr Zelensky, a NATO e assim sucessivamente. E fazem-no com muitas certezas, que copiaram de outros ou do que ouviram nas televisões estrangeiras. Para quem, como eu, passou mais de quatro décadas a trabalhar em questões internacionais, ler essas crónicas não é fácil.
Mas para além desses, temos os jornalistas e correspondentes que foram destacados para o terreno. Esses sim, é de admirar. Sobretudo os que foram ou estão na Ucrânia.