Como sabem, sou um estudioso do pensamento de Confúcio. Peço, por isso, licença para hoje parafrasear o grande mestre. A mensagem é que quando a boa governação prevalece, o sábio mantém-se direito, como uma flecha. Se for necessário intervir, será para apoiar.
Quando dominam os medíocres, a postura do sábio não se altera. Mantém a verticalidade. Mas retira-se e deixa de falar dos assuntos do Estado. Se falasse, os medíocres não entenderiam e ficariam profundamente ofendidos. Ora, um medíocre ressentido, mas com poder, é um perigo. Joga à marrada.
Um dirigente sabe que é observado 24 horas por dia. A liderança ao mais alto nível exige uma dedicação exclusiva e um cuidado extremo com os actos e as palavras. Quando se é chefe, é-se chefe de dia e de noite. Por outro lado, um líder numa posição de poder tem que falar com elegância. A formalidade e o protocolo contam muito, já dizia Mestre Confúcio, como os seus Analectos nos lembram. O líder não pode falar como um carroceiro mal-polido. Quando o faz está a perder força. Quando isso põe uma categoria social contra ele, está a perder poder. É a erosão do poder.
Passei os dois últimos dias perdido no labirinto das incompetências da NOS. E chego ao fim do dia de sábado com a linha do telefone fixo avariada e com um router novo, instalado na quinta-feira, que só trabalhou vinte e quatro horas. Desde então, e depois de várias chamadas de assistência técnica, está fora de jogo. Dizem-me agora que mandarão cá a casa um técnico, amanhã, domingo. Que esteja de alerta, a partir das oito, é o que me pedem.
Isto parece ser tão complicado como a cimeira da União Europeia em Bruxelas. Só que a NOS exige uma fidelização do cliente, coisa que a UE não pode pedir a nenhum dos Estados membros, depois do que se passou com os britânicos.
Por falar da cimeira, que continua neste momento em que escrevo, disse a um antigo embaixador português que considero normal que estas coisas levem o seu tempo a ser discutidas – estamos a falar de montantes excepcionais, com regras inéditas e implicações muito complexas, incluindo para o bom funcionamento da Comissão Europeia, para já não falar nas situações catastróficas que certas economias vivem. E também é de esperar que cada país veja a matéria tendo em conta a opinião pública interna. A construção da Europa não é apenas um assunto de líderes políticos. Precisa de uma base de apoio cidadão muito forte.
O embaixador explodiu, como lhe acontece de amiúde, agora que está reformado e que pode dizer o que pensa, pela primeira vez na vida. Os estilhaços partiram todos na direcção da Holanda. Mas eram de fraca qualidade, com muito ruído e pouco chumbo. Deixaram-me, no entanto, na dúvida se vale a pena insistir para que as minhas comunicações sejam restabelecidas. É que sem net, sempre me refugio nos escritos de Confúcio e de Nietzsche.
Pobre Confúcio. Dois e mil quinhentos anos após a sua morte, tanto tempo depois de ter dito que "da força à injustiça há apenas um passo", fizeram-no viver, hoje, a vergonha de dar o nome a um prémio imaginado à pressa, numa cerimónia mal organizada, com os patrocinadores a esquecerem-se de informar o galardoado "da paz", e o símbolo da distinção a ser entregue a uma menina de uns dez anos de idade, que ninguém sabe bem donde apareceu nem por que razão figura nesta palhaçada.
Quantas vezes as tendências autoritárias nos fazem perder a proporção das coisas razoáveis?
Mais. Não foi Confúcio quem afirmou: " Não tentes fazer as coisas precipitadamente. Não procures pequenas vantagens. O desejo de ter as coisas feitas à pressa faz com que saiam mal feitas. Procurar as pequenas vantagens impede a realização de grandes feitos"?