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Vistas largas

Crescemos quando abrimos horizontes

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Crescemos quando abrimos horizontes

Cenouras

 

 

Copyright V. Ângelo

 

Hoje, peço ao leitor que pense em cenouras. Nada mais.

 

Não dará para esquecer os telejornais, mas talvez nos permita lembrar que a vida também se faz com coisas simples.

Saber esperar

Sábado de Páscoa é um dia de transição, na cultura que nos rodeia. De um lado, uma Sexta-feira em que a esperança é crucificada. Do outro, um Domingo que nos desperta uma nova luz, nos abre horizontes, nos faz acreditar na vida.

 

É preciso saber esperar. Ter coragem. Ultrapassar os momentos difíceis. Acreditar no futuro.

Ilusões animais

 

No dia em que o rato subiu ao poder, devido ao acaso das circunstâncias, começou a comportar-se como um leão. Ou pelo menos, a pensar que estava a agir como um verdadeiro rei da selva. Cada palavra que resmungava soava-lhe como um rugido, quando na realidade era a apenas uma irritação verbal para os outros animais das redondezas. Cada exigência que berrava, e que lhe parecia ser um direito decorrente da posição agora ocupada, era vista como mais um indicador que um roedor nunca se poderá medir com um felino puro sangue. Acentuava o ridículo da situação. E para que todas se convencessem da sua real importância, passava horas a discursar palavras impossíveis de penetrar.

A zebra, na sua sabedoria de animal que já havia escapado a leões de verdade, passava-lhe ao lado, com a calma de quem sabe que um rato, por mais ratão que queira ser, não é mais do que um pobre diabo que gostaria de ser levado a sério.

Entre as dunas da memória

 

Estou de regresso aos meus desertos.

 

Havia, outrora, um cão perdido no deserto. Não era da variedade local, um tipo de galgos esbeltos, castanhos e dourados, de orelhas atentas e ponteagudas -- tive um desses exemplares quando estive na RCA, levei-o para a Gâmbia, quando fui enviado para essa terra, era um animal de uma inteligência rara, Rex de seu nome, e de facto tinha a postura. Mas o bicho desta historieta não era nem nunca havia sido um galgo das areias do Sahel. Era um animal como todos os outros, rafeiro vagabundo nos calores das miragens. Um pobre diabo a viver no meio de paisagens de muitas cores e de tons fortes.

 

Sentia-se tão perdido que cada vez que via passar uma caravana de homens tentava aproximar-se, passar a fazer parte da trupe. Mas os homens, quando o enxergavam ao longe, viam uma fera das dunas, não o miserável cachorro que o bicho era. Disparavam sua direcção, afugentando assim o infeliz solitário.

 

Acabou por perecer num dia em que a tempestade de areia foi ainda mais severa. Mas, na memória dos caravaneiros e dos que andam em fila indiana, ficou a imagem de uma besta feroz, caçador implacável e arguto, que só podia viver no meio das pedras secas.

 

Uma fábula sem moral

 

 
 
 
O Sapo e o Elefante
 
Com o tempo, o Sapo convenceu-se que era o rei da poça de água. Outros animais passavam, diariamente, pelo local, para matar a sede. Pouco tempo ficavam, que, na selva, os sítios onde existe o precioso líquido são sempre muito perigosos. Todo o tipo de emboscadas acontecem junto aos pontos de água. Apenas o Sapo vivia na falsa tranquilidade de um sítio que, a qualquer estranho menos experiente, pareceria tão ameno.
 
Um Elefante começou a frequentar o charco com regularidade. Banhava-se demoradamente, deliciava-se na lama, sentia-se bem na frescura da paisagem. Era um Elefante muito ruidoso, de grandes espalhafatos. Muitos dos frequentadores do atoleiro desistiram da frequentação. O bulício provocado pelo gigante tornava o local ainda mais arriscado, pois deixava de ser possível ouvir os ruídos mais subtis dos que vivem da perdição dos outros.
 
O Sapo passou a ver o Elefante como o seu inimigo principal. Não gostava da concorrência. Caiu-lhe mal que o seu pequeno paraíso tivesse sido abandonado pelos outros animais. Ele que era o chefe do pântano! Estava a perder os súbditos.
 
Cada vez que se via reflectido na água vinha-lhe á cabeça comparar-se com o Elefante. Á força de se mirar, começou a convencer-se que era, pelo menos de peito, tão corpulento como o mastodonte. Mas como era de natureza medrosa, não se atrevia a medir-se com a besta.
 
Nas redondezas vivia uma boa de formato grande. Tinha o hábito de caçar antílopes. Mas estes eram cada mais raros, nas margens do charco. O Sapo pensou, e bem, que a jibóia poderia ser um aliado de peso, na cruzada para correr com o Elefante. Uma serpente com razões de queixa é uma ameaça de grande efeito.
 
E o Elefante acabou por ir à procura de outras paragens. O Sapo viveu uns momentos de grandeza, senhor que era de novo deste éden de lama e águas turvas. A boa esperou que as impalas voltassem. Mas esperar é exercício de paciência e a paciência nem sempre mata a fome. Nem o Sapo a matou. Que engolir um Sapo é obra pequena, quando se vive ao lado de uma jibóia de corpo inteiro.
 
 
Copyright V. Ângelo

 

Cortinas de água

 

 

Cheguei a Birao às 09:45, depois de duas horas de voo, a partir da capital do Chade.

 

Birao é talvez a terra africana que mais longe fica do mar. Qualquer que seja a direcção que se siga, é floresta e mais floresta. Se o nosso popular Isaltino precisasse de se esconder da justiça, o que no caso português não é necessário, este seria o sítio ideal. Para mais, Birao está sem presidente do município há meses, no seguimento das últimas investidas rebeldes. O nosso herói teria emprego de imediato.

 

Mesmo no centro de África, às portas do Darfur do Sul, no triângulo de fronteira entre a RCA, o Chade e o Sudão, a muitos dias de viagem de qualquer outra localidade importante. Mas apenas no tempo seco. Não nesta altura, claro, que agora, em plena estação das chuvas, só é acessível de avião.

 

Tive sorte. Logo após a aterragem começou a chover. Um dilúvio. A água caía como se estivéssemos na parte inferior, no sopé, de Victoria Falls, no Zimbabwe. Cortinas espessas, que fechavam o espaço à nossa volta e faziam o dia parecer-se com a noite. Às 11:00 estava escuro, parecia noite. Ou um daqueles dias fechados de Inverno da Escócia do Norte.

 

Quando o céu desabou estava em reunião com o Governador da região. O homem tinha vestido um fato, para me receber. De fato, em Birao. Chegou há duas semanas, para tomar conta de uma área que equivale a metade de Portugal. Tem um adjunto e dois ou três funcionários. E um pequeno gerador, que já está avariado. A residência oficial, bem como o edifício do governo, haviam sido pilhados durante as incursões rebeldes de Junho. Mas conseguiu pedir emprestadas umas cadeiras de madeira, feitas localmente, para que o nosso encontro pudesse decorrer sentado. Com alguma dignidade.

 

Com a chuva a bater no zinco, no chão, nas árvores onde vivem os antepassados, os relâmpagos e trovões, a nossa conversa sobre a guerra e a paz acabou por ser feita de um modo patético. Eu a gritar na orelha do Governador, e depois a encostar a minha à boca do senhor, os meus colegas quase a cavalo em cima de nós, para tentar apanhar as palavras e tomar notas. Correu bem, claro.

 

Vamos fazer sair de Birao, por três meses, os seis políticos mais importantes. São estes políticos que estão na origem das guerrinhas. Das mortes, torturas e misérias. O tempo de ausência será aproveitado para fazer as pazes entre as tribos, as pessoas simples.

 

Afinal, em Birao, como por estas terras lusitanas, são os políticos que complicam as coisas. Como me dizia o Governador, com o bater da chuva como pano de fundo, cada político só luta pelos seus interesses pessoais. E manipula os outros, com palavras que enfeitiçam o povo.

 

A chuva podia ter continuado por vários dias, como muitas vezes acontece. Mais uma vez, tive sorte. À tarde, parou.

 

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