Estamos convencidos, muitos de nós, que criticar mostra inteligência. Ora, isso depende. Muitas vezes, sim. E muitas outras, não. É apenas um repetir de ideias feitas, de julgamentos apressados. De conversa ligeira, ouvida nas televisões ou lida nas redes sociais.
Um dos temas que está na moda criticar é a União Europeia. Esta semana a crítica tem-se focalizado na resposta financeira à crise resultante do impacto do coronavírus, a resposta que foi aprovada pela Eurogrupo na passada quinta-feira. Já aqui escrevi sobre isso. Hoje, apenas pergunto a quem acha mal o que teria acontecido a Portugal, se o nosso país não fosse membro da zona euro? O dinheiro teria vindo donde? E a que preço? Da Casa da Moeda, com um valor que nem daria para pagar o papel e a tinta?
Também pergunto se esses críticos não notam que existe, apesar de todas as contradições e dos muitos preconceitos nacionais, que todos temos, uma preocupação de encontrar soluções? Não será a solução perfeita – o que é isso, nos dias de grande crise? – mas é a solução que resulta de um equilíbrio de políticas. Um equilíbrio que não é fácil de obter, mas que se procura conseguir. Não é fácil, porque os níveis de desenvolvimento dos países membros continuam a ser diferentes. Mas obtém-se, com mais ou menos dificuldades, porque é inspirado por uma ambição muito clara, que é a de manter a União e fortalecer os seus mecanismos de resposta às crises.
Creio ser politicamente errado continuar a atacar o governo holandês com a ferocidade a que estamos a assistir. Pode dar lucros e dividendos, na nossa cena política interna, mas não faz avançar o projecto europeu de um milímetro. Para mais, agora, que há um acordo que vale 540 mil milhões de euros, a que se juntam os 750 mil milhões que serão disponibilizados pelo Banco Central Europeu. É muito dinheiro e fácil de aceder. Cabe-nos saber aproveitar esses recursos com inteligência. É isso que a nossa população e a nossa economia esperam.
Atacar directamente os Países-Baixos e manter o silêncio perante o que se passa na Hungria, em termos de falta de respeito pelos valores democráticos europeus, parece-me má política.
Hoje, os ministros das Finanças do Eurogrupo voltam a reunir-se para discutir como custear os investimentos excepcionais que a pandemia vai exigir. Esta é uma questão muito delicada, que tem dividido a zona euro em dois campos. Também deu azo ao aparecimento de toda uma série de colunas de opinião, aqui na nossa praça, que se inspiraram mais no emocional e nas ideias feitas do que numa análise da realidade do que é o mosaico europeu.
A UE é o resultado de um equilíbrio de interesses diversos, de vários tipos, não apenas económicos, de modo a garantir um certo modo de vida, que tem na democracia, na segurança humana e na prosperidade os seus principais pilares. Este equilíbrio será mais forte se os diversos países membros conseguirem evitar grandes disparidades entre eles. Creio que em relação a isso não há dúvidas nas diferentes capitais e nas cebeças de quem pensa nestas coisas pela positiva. Como também não me parece que hajam dúvidas quando se trata de reconhecer as diferenças que existem e peso negativo que essas disparidades trazem para o projecto comum.
Mas estas coisas entre Estados constroem-se progressivamente. Em certas áreas e em dados momentos, é possível avançar mais depressa. Outras vezes, estaremos perante um trabalho penoso de discussão, de resolução das divergências. É nessa altura que é precisa muita diplomacia, ideias claras e argumentação inteligente.
Certos comentaristas caem na estupidez ou, então, no jogo barato e afirmam, por exemplo, que os Estados membros têm como modelo uma Europa desigual, com níveis de desenvolvimento diferentes. Esse afirmação soa bem, nos meios que querem destruir a união, mas não corresponde à verdade.