O discurso de hoje Vladimir Putin, pronunciado perante as duas câmaras parlamentares, foi bastante longo, mas sem surpresas. Destinava-se sobretudo à audiência interna, para repetir a mentira oficial relativa à agressão contra a Ucrânia.
O objectivo é mostrar que a Rússia está a ser atacada pelo Ocidente e não tem outra opção para além da defesa do país e dos seus valores. A guerra, na narrativa de Putin, tem como responsáveis os dirigentes da NATO, especialmente os norte-americanos.
O controlo dos média permite repetir essa mentira constantemente. Assim, uma parte da população russa relativamente importante acaba por acreditar na fantasia que lhes é contada.
O Ocidente não tem outra solução senão repetir que a agressão veio da Rússia e que não existe nenhuma intenção de intervir na política interna do país. O Ocidente não quer esmagar a Rússia ou provocar uma mudança de regime. Antes pelo contrário, existe a esperança daqui a um dia volte a haver uma relação de cooperação entre as duas partes da Europa.
Dito isto, é preciso não esquecer que têm sido cometidos crimes de guerra, para além do crime de agressão e de outras violações muito sérias da lei internacional. Assim, os responsáveis por esses crimes terão um dia que ser julgados e responsabilizados. Esse tipo de acção terá de começar pelo responsável número um, Vladimir Putin.
Agosto foi um mês de paragem para mim. Mas tive várias vezes a vontade de comentar porque o mundo não parou para férias e o mês teve uma abundância de acontecimentos marcantes. Ao olhar de modo rápido para as semanas que passaram, vejo que a agressão contra a Ucrânia e todas as consequências daí resultantes, as questões do clima – secas, fogos e inundações – e da instabilidade política, incluindo no país de Donald Trump, continuaram a preencher as páginas principais das notícias. E a anunciar uma rentrée e um final de ano bem complicados. Com consequências directas no poder de compra e na vida das famílias.
O regresso deste blog coincide com a divulgação do relatório do Alto-Comissariado para os Direitos Humanos, um organismo da ONU, sobre as violações sistemáticas do direito à vida, à liberdade e à sua cultura das populações uigures da província chinesa de Xinjiang. O documento documenta uma política e uma prática repetidas de crimes do Estado chinês que podem ser considerados como crimes contra a ordem internacional, por serem crimes contra a humanidade, de discriminação étnica e de punição colectiva de pessoas por razões culturais, religiosas e raciais.
Para além de tudo o mais, o relatório deve fazer-nos pensar numa questão que é cada vez mais premente: como devem as democracias relacionar-se com as ditaduras e os regimes que abusam da força para espezinhar os direitos mais fundamentais dos seus próprios cidadãos? Esta é uma questão que não pode continuar a ser varrida para debaixo do tapete.