A mensagem de Ano Novo do Presidente da República é equilibrada, fácil de entender e certeira.
Estamos, de facto, concordo plenamente, "perante uma das encruzilhadas mais decisivas da nossa história recente". Também penso que os "entendimentos partidários" são indispensáveis para que possamos ultrapassar a grave situação em que Portugal se encontra.
A economia e a protecção dos mais vulneráveis são as duas grandes prioridades.
Os valores éticos, numa sociedade onde há muita gente que perdeu a vergonha e está disposta a praticar todas as sacanices, têm que voltar a ser os padrões da nossa conduta.
Só que enquanto houver impunidade para os mais fortes, porque o sistema de justiça continua propositadamente ineficaz, a ética será apenas uma palavra sem conteúdo, com pouco mais valor do que o serve para polir as aparências.
Esta fotografia reflecte o estado das relações entre as instituições de soberania portuguesas, após o grave episódio do estatuto dos Açores. Da' seguimento 'a declaração, responsável e acima da média, que o Presidente fez esta noite ao País. Esconde, algures, e sempre em parte incerta, a irresponsabilidade dos nossos dirigentes partidários.
Ilustra também o estado da política em Portugal. São só ramos secos, a apontar para direcções perdidas.
O que o Presidente da República declarou ontem, em Odemira, quando falava da questão muito séria do aumento da criminalidade violenta, é que falta uma estratégia adequada, capaz de responder aos novos contornos que o problema da insegurança apresenta hoje em Portugal.
Que o Presidente tenha que o dizer, em vez do governo, que tem a responsabilidade executiva na matéria, é um facto político de monta. Significa, fundamentalmente, que o Governo passou a ser apenas uma administração a reboque, que reage tardiamente em vez de prevenir. Está a transformar-se, como acontece em muitas partes do mundo, numa administração paralisada pelo medo de cometer erros e perder apoios.
Há que mostrar que a crise tem custos políticos para alguns dos membros do Governo, os directamente ligados à questão da segurança e ordem interna. Sem um gesto significativo, incluindo em termos da responsabilidade ministerial e da necessidade de mostrar que se quer levar, a partir de agora, a questão muito mais a sério, o Governo arrisca-se a perder novos pontos no que respeita à sua imagem de eficiência. Uma imagem que está cada vez mais em riscos de ser alienada.