O senhor deputado das asneiras demolidoras é membro da Comissão Política do Partido Socialista, além de estar sentado na Assembleia da República há várias legislaturas. Foi secretário de Estado repetidas vezes. Ou seja, é uma personalidade dentro do seu partido. Uma personalidade que tem sempre vivido da política. Por isso, vejo com muita pena o dano que o confinamento lhe fez à cabeça. E partilho aqui, com o líder do seu partido, a mágoa de ver o senhor deputado desnorteado. Acrescento que compreendo o embaraço que o líder do partido deve sentir
Não quero estar a maçar nenhum dos meus leitores com mais conversa sobre o Orçamento de Estado. Hoje, como nos últimos dias, não se tem falado de outra matéria. Creio que estamos todos cansados de ouvir uns a dizer bem, que sim, e outros a responder cobras e lagartos. Ou vice-versa, que a confusão nestas alturas é espessa.
Em coisas de orçamentos do Estado, o cidadão quer acima de tudo saber se vai ou não pagar mais impostos, se a burocracia vai funcionar melhor ou não, se haverá incentivos em termos de investimentos e se os serviços públicos essenciais – a saúde, a educação, a segurança das pessoas e a justiça – vão responder mais eficazmente.
O resto é conversa de deputados chatos.
A verdade é que se paga proporcionalmente muito e se obtém pouco, de fraca qualidade e a más horas. Se eu fosse Primeiro-Ministro abriria o meu discurso de apresentação do novo orçamento com uma explicação concreta sobre o que faria este ano para termos um Estado mais competente, mais perto das pessoas e mais poupado. Esse, sim, é o compromisso que se espera do Chefe.
O fulano nem conseguiu ser eleito para a câmara da sua vila natal. Candidatou-se e perdeu. Os seus conterrâneos acharam que não tinha condições para que desempenhasse o lugar de presidente da câmara. Mas hoje está à frente do seu grupo parlamentar, na Assembleia da República. Não por mérito próprio, claro. Simplesmente por fidelidade ao líder do seu partido. Que é assim que se faz carreira, nesta terra. De língua de fora.
E depois admiram-se que não haja respeito por quem está no poder.
Houve quem achasse que o meu escrito sobre os políticos e os tecnocratas, aqui publicado a 23 de julho, mostrava muito pouco respeito pelos políticos e pelos partidos portugueses. E sugeriram-me que clarificasse a minha posição.
Ora, o meu julgamento é claro e o post revela-o bem. Tenho, na verdade, muito pouca – e nalguns casos, quase nenhuma – admiração pela maneira como se faz política nos partidos da nossa terra. O oportunismo é a palavra que melhor define a situação. E o vazio de ideias, o principal resultado.
Encontrei, na minha vida profissional, em várias organizações internacionais, tecnocratas de grande valor. Um deles, Kofi Annan, por exemplo. Kofi nunca foi eleito para nada, a não ser para Secretário-Geral da ONU, mas não é desse tipo de eleições que estamos aqui a falar, foi toda a vida um funcionário de carreira das Nações Unidas. E vi-o tantas vezes dar cartas e voar bem acima de chefes de Estado e de Governo, que esses sim, haviam recebido um mandato popular e feito carreira nas máquinas dos partidos. Mas no fundo, eram pessoas sem grande capacidade e visão.
Embora Kofi seja o caso mais conhecido, segundo creio, a verdade é que houve e há muitos outros. Ou seja, gente que subiu e ganhou peso e influência nas estruturas internacionais, que lidou ou lida com altos dirigentes políticos e que mostrou e mostra um valor indiscutível. E que acima de tudo, não são “Yesmen”.
Convém acrescentar, no entanto, e antes de terminar, que tenho a democracia em grande apreço. Não a confundo, todavia, com a maneira como os partidos funcionam neste nosso regime.
Dizem-me que, num país em crise profunda, os deputados se entretiveram a votar uma recomendação sobre a grelha de programas da TV pública. Parece que aconselharam o governo a incluir no canal televisivo oficial uma série semanal sobre batatas e cebolas, couves-galegas e animais de capoeira, e por aí fora, tudo numa perspectiva indefinida e abstracta de uma TV Rural.
A razão deve ser, imagina-se, porque muitos dos habitantes desse país distante estão a voltar a viver ao nível de uma economia de subsistência. Sem contar, claro, que este tipo de resoluções mantém os deputados entretidos, sem que ninguém se lembre de os mandar às favas.
Há muita gente preocupada com a crise que Portugal está a viver. Só uma visão simplista do momento actual pode levar a acreditar que tudo se resolveria deixando tudo na mesma, sem sacrifícios e sem um amplo consenso nacional quanto ao futuro.
A construção do consenso político é a primeira tarefa a resolver.
Numa situação de grande complexidade, a criação do consenso nacional necessário para a resolução da crise passa pelo esforço patriótico de personalidades com sólida credibilidade política e uma visão moderna da sociedade e da economia. Onde estão essas pessoas?
Vou estar ausente deste blog e da realidade nacional até 15 de Novembro. Parto com a impressão que quando voltar estaremos ainda mais afundados nas nossas contradições. Espero, no entanto, que assim não seja. Esperar faz parte da cura.
Que democracia é esta, quando uma grande parte dos deputados do PSD e do PS são membros e confrades em sociedades secretas?
Que futuro para um país como Portugal, em que a elite do "centrão" político anda metida em ritos anacrónicos, em sistemas de valores do início do Século XX, em palhaçadas de aventais e noutras práticas bizarras?
Andam muitos dos líderes loucos ou são mesmo uns atrasados da cabeça?
O ministro das finanças de um país cada dia mais irreal - fantasista, diriam alguns, tragicómico, retorquiriam outros - diz que anda por aí um submarino. Não se percebe bem para que serve, nas palavras do ministro, mas deve ter como missão secreta arruinar as contas públicas. Se assim é, então estamos de facto num país muito estranho, em que as finanças e a defesa parecem pertencer a governos opostos. E onde a incompetência dos que tratam das finanças navega nas águas submersas do nosso populismo. Só que o populismo é um mar de pouca visibilidade, com muitos perigos e pouca serenidade.
Creio que é altura de pôr os pés em terra. Estamos à beira do precipício, há já algum tempo. Em vez de se tentar contornar o buraco, anda-se à paulada, quando a terra nos está a fugir de debaixo dos pés. Os marinheiros do submarino serão certamente muito competentes para uma navegação escondida. Mas a marinhagem de terra está cada vez mais desnorteada. Dá provas, todos os dias, que não está à altura dos ventos que sopram. Incompetentes, diriam alguns. Incapazes, responderiam outros. Hesito entre uma opinião e a outra...
Passei muitos anos a ver e acompanhar a política dos outros, em vários cantos dos buracos do mundo. Tenho, agora, um pouco mais de disponibilidade para seguir a política da nossa terra. Há dias em que fico alarmado, como será possível que o país esteja a ser dirigido, no governo e na oposição, por gente assim. Mais. Que grande confusão vai nessas cabeças. E que demagogia, meus senhores e minhas senhoras. Estão todos a chutar para baixo, uma loucura de populismo sem princípios nem elevação.
Um deputado ilustre, homem bem preparado tecnicamente, embora não tenha muito jeito para a política de massas e de jogos de corredor, dizia-me ontem, com a sinceridade que vem de anos de amizade, que nem ele entende o que os dirigentes do seu grande partido querem.
Tendo em conta a maneira como os futuros Deputados são escolhidos a dedo, entre os fiéis do líder ( ou da ...) do Partido, os bonecos que vão estar sentados na próxima AR deveriam mudar de título. Passariam a ser chamados de uma maneira mais verdadeira: Senhores e Senhoras Representantes...do (da) líder do Partido. Que é de facto isso o que a maioria deles é.