O ciclone Idai deixou a maioria das infra-estruturas da cidade da Beira, em Moçambique, destruídas, para além de ter morto um milhar ou mais de pessoas. Foi um enorme desastre natural. Trouxe desafios inimagináveis para as famílias e para as autoridades.
A solidariedade internacional, e a ajuda de emergência, chegou primeiro da África do Sul, um país que tem capacidade para responder a este tipo de crises. Outros se seguirão, assim o espero. Portugal deveria responder também, na medida dos meios possíveis. E a população portuguesa precisa de mostrar que não fica indiferente quando algo desta gravidade acontece num país a que a história e o passado recente nos ligam.
Na Visão, publico um texto sobre a BP, o derrame de petróleo no Golfo do México, as repercussões políticas, domésticas e externas, desta crise, partilho uma experiência de trabalho com as grandes multinacionais do petróleo, até falo mesmo de futebol...
A tragédia que o Haiti está a viver toca-nos muito. Tenho, na minha Missão, vários funcionários de nacionalidade haitiana. Estão como que paralisados, o choque foi demasiado grande. A nossa equipa de aconselhamento psicológico, um pequeno conjunto de especialistas que está muito habituado a lidar com traumas violentos, em zonas de conflito, tem estado em contacto com os colegas que ficaram mais fragilizados.
O chefe da Missão da ONU no Haiti, Hédi Annabi, um velho colega meu, e o seu adjunto, o Luís da Costa, outro conhecido de muitos anos, continuam desaparecidos. Estavam, mais o Comandante da Força Militar da ONU, o Comissário da Polícia (UNPOL) e outros colegas seniores, numa reunião com uma delegação chinesa. Receia-se que tenham, todos, perdido a vida.
O destino é o que é. O General Gerardo Chaumont, um homem bom, argentino e com muita experiência em matéria de segurança, antigo comandante-geral adjunto da Gendarmeria Argentina, trabalhou um ano e meio comigo no Chade. Em finais de Dezembro, resolveu aceitar a sua transferência para a Missão no Haiti. Por ser mais perto de Buenos Aires. Queriam que fosse directamente de N'Djaména para Port-au-Prince. Se tivesse acedido, teria morrido ontem. Mas, não. Disse que só começaria as suas novas funções em Fevereiro. Quando o fizer, encontrará um Haiti destruído e à deriva.
Escrever é uma forma de intervenção social, um contributo. Mas o artigo de opinião "A porcaria", que um senhor cheio de raivas, socialmente privilegiado e vagamente poeta, homem de letras e ódios, publicou hoje no DN, um tal Vasco Sem Graça e que não é de Moura, ultrapassa os limites da baixeza intelectual. É trabalho de um espírito doente.
O DN, se quer ser tido como um órgão de referência, não pode imprimir coisas dessas. Textos desse tipo só para pasquins.
Neste primeiro dia de Ramadão, não havia controladores aéreos no aeroporto de Abéché. Pelo menos, nas primeiras horas da manhã. O pessoal já estava cansado, só de pensar no jejum. Não sei a que horas começou o controlo dos aviões, mas Abéché tem actualmente mais movimento do que certas capitais, por esse mundo que nos rodeia.
Visitei o contingente irlandês, no Sul do Chade. Gente de muito valor e muito aplicada. Nesta altura das chuvas, as patrulhas são feitas a partir das zonas onde os helicópteros podem pousar. O segundo-comandante é uma mulher, com a patente de major. Para as forças armadas irlandeses a participação em campanhas como a do Chade é um incentivo para atrair jovens para a vida militar.
Curiosamente, a Irlanda só tem quatro generais no efectivo. Por uma razão de seriedade e de poupança. Também está com todas as promoções congeladas, quer na carreira militar quer na função pública. É que a crise é para tratar a sério.
Visitei uma aldeia de gente que havia sido refugiada interna --deslocados -- e que agora se sente com tranquilidade suficiente para poder voltar. Muito perto da fronteira com o Sudão. As canções que me acolheram, obra das mulheres locais, falavam dos ataques que haviam sofrido, dos diabos a cavalo, os Jenjaweed. Cavaleiros árabes, tristemente famosos nestas partes do Continente.
Graças ao Governador da zona, o Gov. Toké, um homem que fala bem e trabalha melhor, os aldeões são agora proprietários de um vasto campo de milho. É o começo da reconstrução das suas vidas.
A estrada que leva à aldeia foi reconstruída com dinheiros da Comissão Europeia. Com as primeiras chuvas, foi levada de enxurrada. O Governador e o General que me acompanhavam disseram umas coisas feias sobre a cooperação europeia.