Este é o link para a minha crónica de hoje, publicada no Diário de Notícias. A não comparência do líder chinês parece mostrar que já entrámos na nova ordem política internacional.
Cito de seguida umas linhas do meu texto:
"Os dirigentes indianos varrem para debaixo do tapete essa ausência. Ao reagir assim e ao sublinhar que o primeiro-ministro chinês Li Qiang estará presente, estão a proceder da maneira que é diplomaticamente apropriada. Mas isso não esconde certas evidências fundamentais. As disputas fronteiriças e a concorrência geoestratégica entre ambos os países. As críticas de Beijing à aproximação cada vez maior entre Nova Delhi e Washington. E o facto de não haver acordo sobre o texto do comunicado final da reunião, no que respeita à agressão injustificada e sem-fim da Rússia contra a Ucrânia. A China não quer entrar nessa discussão, apesar de pretender ser o líder da nova ordem internacional. Ora, liderar é ser capaz de mostrar o caminho do futuro e não cair na prática que tem sido tão habitual na cena internacional, a dos dois pesos e das duas medidas."
Este é o link para a minha crónica de hoje no Diário de Notícias. Cito, de seguida, umas linhas extraídas da mesma.
"A visita de Sergei Lavrov também não ajudou. Ao ir apenas a Cuba, à Nicarágua e à Venezuela, para além do Brasil, Lavrov como que arrastou o Brasil para o círculo das ditaduras latino-americanas, um clube a que o país não pertence. Não há nenhuma comparação possível entre a democracia brasileira e esses outros regimes. A deslocação do ministro mostrou ainda que o apoio com que Moscovo pode contar na região nem chega aos dedos de uma mão. Para quem fala na construção de um mundo multipolar, a coisa soa a pouco."
Este é o link para o meu escrito de hoje no Diário de Notícias. Estamos muito longe de se poder iniciar um processo de negociações. O falado encontro entre Joe Biden e Vladimir Putin é uma miragem política. Não existe um mínimo de condições que possa servir de ponto de partida comum. Putin está convencido que vai vencer a resistência ucraniana e a paciência ocidental. A sua táctica é a da destruição. A destruição leva, na sua maneira de ver, à rendição.
Cito o último parágrafo do meu texto.
"Não vejo a atual direção russa pronta para se retirar dos territórios ocupados. Tem de ser expulsa ou convencida a sair. E para isso, a Ucrânia precisa de todo o apoio possível e da assistência de uma coligação de países aliados. Não cabe à NATO organizar uma coligação dessas. Mas alguns dos seus Estados-membros devem começar a falar dessa possibilidade, fora do quadro da Aliança Atlântica. E dar um prazo a Putin para que cesse as hostilidades. Esta agressão deve ser transformada numa oportunidade para definir uma nova arquitetura de segurança na Europa."
Este é o link para a minha crónica de hoje no Diário de Notícias. Cito, de seguida, umas linhas desse meu texto.
"Mais ainda, escrevi que se fosse disparado um primeiro tiro, por muito tático, local e limitado que fosse, seria sempre o ponto de partida para uma grande guerra.
Assim continuo a pensar e julgo que estou na mesma onda de pensamento de Vladimir Putin. Dito de modo mais claro, não creio que, neste momento, o presidente russo esteja pronto para recorrer ao armamento nuclear, mesmo quando faz cara de mau e jura que não é bluff. Sublinho, note-se, neste momento."
Hoje, no Diário de Notícias, num Especial, na página 21, escrevo o que se segue.
"A minha Mãe aprendeu a escrever e a ler graças ao Diário de Notícias. Nasceu e foi criada na cintura das pequenas quintas que, nos arredores de Évora, alimentavam a cidade. Há noventa e poucos anos, Évora era em geral pobre e as gentes das quintas eram ainda mais pobres. As famílias tinham muitos filhos e cada um trabalhava no campo, para ajudar a precária economia doméstica. Ainda menina de tenra idade, ficou com o encargo de pastorear os perus que acabariam no mercado. Teria oito ou nove anos quando viu pela primeira vez umas páginas do DN, que um irmão mais velho trouxera da cidade. Com uma vara, começou a copiar e a juntar as letras, rabiscando-as no chão por onde os perus vagueavam. Pouco a pouco, aprendeu a escrever. Só depois se apercebeu do significado de cada letra e a mágica ligação entre elas, a leitura. E sempre que alguém ia à cidade, pedia-lhe que trouxesse pelo menos uma página do DN, fosse de que dia fosse."
O combate às alterações climáticas está a ser feito de forma sincera pelos diferentes países, ou os interesses nacionais sobrepõem-se mesmo quando a ameaça é global?
Não podemos ter ilusões. As grandes questões internacionais, mesmo as mais prementes como é o caso do combate às alterações climáticas, são sempre vistas pelos políticos a partir do prisma nacional. Os políticos nunca se esquecem que são eleitos pelos seus concidadãos e não pelas grandes assembleias globais que se reúnem aqui e acolá para discutir temas de impacto mundial. Apesar disso, penso que existe uma crescente pressão nacional, em muitos países, e na arena internacional também, para que as questões do ambiente e do clima façam parte das agendas nacionais e globais. Os movimentos de cidadania, com um notável papel desempenhado pelos jovens, os poderes ao nível municipal e local, as grandes empresas e certos partidos políticos têm feito avançar a ação climática. A COP26 correu melhor do que era esperado. Mas há sobretudo que acelerar o passo e continuar, quotidianamente, a insistir na urgência de um novo tipo de energias e de uma relação mais equilibrada entre a economia e a natureza.
1.Surpreendeu-o o primeiro ano de Joe Biden como presidente? Nota francas diferenças na política externa americana em relação a Donald Trump?
No geral, este primeiro ano da presidência Biden foi positivo, também na área da política externa. Sobretudo para quem olha para Washington a partir da União Europeia. A frequência dos encontros entre responsáveis americanos e europeus aumentou significativamente. E de modo construtivo.
Mas também houve alguns erros, que deixaram marcas profundas. O mais grave: a maneira da retirada do Afeganistão, decidida e executada unilateralmente pela administração Biden, sem consultas políticas nem coordenação operacional com os dirigentes europeus.
A afronta à França pelo arranjo trilateral entre os EUA, a Austrália e o Reino Unido, foi outro mau exemplo. Levou à anulação de um contrato de cerca de 55 mil milhões de euros em submarinos que os franceses deveriam ter construído e à subalternização da França na cena do Indo-Pacífico. Esse tipo de erros não se esquecem facilmente. Joe Biden não esteve atento e foi ligeiro, apesar da sua experiência política.
Comparando com Donald Trump, é evidente que a política externa americana aparece agora mais coerente e previsível. Mas, na realidade, pouco mudou. Por exemplo, Joe Biden deveria prestar mais atenção à América Central. Na minha ótica, as maiores ameaças externas à estabilidade dos EUA provêm dessa região: migrações em massa, desespero humano, drogas, insegurança, violência, corrupção política, tudo isso tem um potencial explosivo às portas dos Estados Unidos.
Ainda, Biden deveria enviar a Vice-presidente Kamala Harris mais frequentemente ao estrangeiro, para reforçar os contactos de alto nível e mostrar a presença e a solidariedade americanas. Isso serviria, igualmente, para consolidar a imagem da VP e permitir-lhe o impulso necessário para que no futuro possa ser a primeira mulher eleita presidente dos EUA.
Numa coluna que hoje publica no Diário de Notícias, o embaixador russo cita-me duas vezes. E pela positiva. Fiquei, assim, a saber que pelo menos tenho um leitor fora do meu pequeno círculo de amigos.