A VISÃO que está nas bancas escreve uma longa narrativa sobre Dias Loureiro.
A leitura atenta desse texto dá uma pequena ideia da corrupção que existe em certos círculos políticos de Portugal. E das ligações de interesses e falcatruas que existem entre a política, as secretas, as polícias de investigação criminal, os negócios e o sistema de justiça.
Tudo isto se passa com impunidade. Estamos no reino da impunidade. As instituições que deveriam investigar e julgar a corrupção na área da política não funcionam, ou por que as não deixam, ou por compadrios de interesses, ou ainda por que andam todos ao mesmo, por sítios escuros, com uma mão no saco e a outra nas curvas do prazer.
A opinião pública, por outro lado, deixa andar. Não se mobiliza. Não reage para além do cinismo individual que nos caracteriza. Temos uma opinião cívica fraca, pobre e preocupada apenas com o pão de cada dia, que cada vez é mais problemático, em verdade se diga.
Portugal faz-me pensar nalguns países do terceiro mundo onde trabalhei. Não só pela fraqueza das instituições. Também pela cultura de poder. Nesses países, passar pela cabeça de um ministério, estar no poder, era a oportunidade que o ditador dava para que se tivesse acesso a um período de enriquecimento pessoal. Quem havia sido ministro e continuava pobre, levava com um atestado de parvoíce em cima. Perdera a chance.
O Diário de Noticias de hoje pensa que faz um grande favor ao senhor Conselheiro de Estado Manuel Dias Loureiro, ao dar-lhe a palavra e também ao escrever umas coisas bonitas sobre a sua carreira. Que simpatia de jornal, que retrato tão bem retocado! Até de gestos "calmos" e "suaves" reza esta crónica...
Os amigos são para as ocasiões, e o senhor precisa actualmente de muitas manifestações de amizade, para que se acredite no que diz. Aliás, na entrevista, Dias Loureiro acaba por duvidar de si próprio ao perguntar: " Achou-me sincero?
Nem o Padrinho, a que tanto o liga, o achara´, desta vez. Mas, continuara´ a usar a máscara de Estado que lhe é habitual...E a fechar os olhos, à espera que a tempestade passe, como é hábito em Portugal...As coisas são importantes uns tempos e depois desaparecem do ecrã e da atenção geral, numa amnésia colectiva, que nos é tão própria.
Diz a autora da peça, com admiração, que o personagem chegou à riqueza " com passagem pelo governo." Na realidade, o homem aproveitou-se, com os escrúpulos que lhe são conhecidos, dos tempos no governo e das relações que conseguiu estabelecer, aqui e no estrangeiro, para enriquecer. A "passagem" pelo poder executivo foi apenas parte de uma estratégia de aproveitamento pessoal. Que começara antes e que ganhou asas depois. São estas as razões, para muitos dos nossos dirigentes, que levam ao chamado "serviço público", que é afinal "um serviço pessoal".
Muita gente na política, no PSD de Cavaco sobretudo, e nos negócios, lhe devera´ favores. Não será o caso, imagina-se, meus amigos, imagina-se, na área do encobrimento das coscuvilhices, das fofocas, dos comportamentos fora de jogo, apesar de ter sido durante vários anos patrão-mor das secretas e outras polícias.
Só que o homem anda "preocupado", como diz a jornalista.
Dias Loureiro, ao que todos dizem, um homem inteligente, é um dirigente do PSD. Um dos seus estrategas, um homem de notoriedade pública. Um dirigente nacional!
A sua fama ficou ainda mais conhecida ao saber-se da suspeita da sua participação activa em negócios de grande obscuridade. Tudo à volta do caso bem notório do BPN, o banco dos senhores da fraude.
Mais ainda, o senhor é igualmente membro do Conselho de Estado. O tal orgão que acompanha as decisões de maior interesse nacional, junto do Presidente da República.
Assim se faz política e negócios às margens da lei e da decência em certos círculos de dirigentes.