O meu amigo ainda não percebeu que estamos em guerra com a Rússia. É verdade que não é uma guerra como antigamente, mas é um conflito a sério, em que tem de haver vencedores e vencidos. A agressão já foi longe demais. Exige compensações, responsabilidades e um outro tipo de relacionamento de vizinhança. Tudo isso pode ser negociado e quanto mais depressa melhor. Mas é necessário reconhecer as culpas e tratar das indemnizações. A agressão foi iniciada sem qualquer tipo de razão válida. Os argumentos sobre a NATO e outras possíveis ameaças não têm justificação. Um país membro permanente do Conselho de Segurança da ONU sabe quais são os seus deveres e quais são os limites aceitáveis. O resto é conversa para distrair a comunidade internacional.
Não sei se já repararam, mas alguns dos nossos analistas batem sempre em duas teclas. Primeiro, que as preocupações geopolíticas de Putin o autorizam a violar a lei internacional e a invadir um país soberano. Segundo, que a culpa da guerra e das atrocidades estarem a continuar se deve ao facto de Zelensky não se render, não aceitar as exigências do vizinho Golias. O presidente ucraniano é constantemente referido como inexperiente, ingénuo, um pau-mandado dos ocidentais. A sua eleição em 2019 com mais de 73% dos votos populares é varrida para debaixo do tapete. Preferem Putin, que é um trafulha eleitoral e um ditador.
Tudo o que escrevem e dizem anda à volta dessas duas idiotices. Não conseguem sair daí. Nunca mencionam a lei internacional, os princípios da coexistência pacífica, o respeito pela soberania nacional dos outros Estados. Mas andam convencidos que são mais espertos do que os outros, que enxergam o que os outros não conseguem ver. Na verdade, são meros zarolhos ideológicos.