Os partidos políticos continuam a ignorar o facto de que estamos no meio de uma crise económica e social sem precedentes. Entretêm-se com com assuntos triviais, da lana-caprina, de que nem vale a pena mencionar aqui, e eu fico simplesmente alarmado. Já ultrapassei a fase em que perguntava a mim próprio, mas que espécie de dirigentes são estes? Agora a pergunta é mais séria: será que esta gente do poder e da oposição andam a gozar connosco, para viver à nossa custa, ou são mesmo curtinhos dos miolos? Fica aqui a minha dúvida.
Continuo a viver um período de reflexão. Mas sem estar totalmente afastado da diplomacia activa. Ainda hoje passei um tempo sem fim ao telefone, para preparar a estratégia a seguir nas próximas semanas. Falei com Nova Iorque e com o terreno, como se diz entre nós. As iniciativas que vão requerer o envolvimento do Conselho de Segurança exigiram uma atenção muito especial.
Enquanto preparava as intervenções que se seguem, pensei, várias vezes, na maneira tão diferente com que se estão a fazer as coisas em Portugal. No caso do nosso país, é a cacofonia que prima. Fica-se com a impressão que tudo é orquestrado tendo o protagonismo da comunicação social como primeira preocupação. Os media parecem ser os principais destinatários das medidas. Tudo se faz com a esperança de aparecer um microfone à frente da boca e uma câmara de televisão ao lado da cara, do bom lado do perfil, claro. Na ONU e na política internacional a sério, as coisas fazem-se para se obterem resultados. Não se utilizam os jornais para fazer eco, nem as televisões para mandar recados.
Em Portugal, pensa-se e vive-se um clima de espectáculo. Os políticos, os jornalistas, os juízes, os oportunistas, andam todos ao molho. Ninguém faz coisa séria. O protagonismo confunde-se com a importância. As palhaçadas tomam o lugar das medidas necessárias. A imagem confunde-se com a resolução dos problemas. E estes continuam por resolver.
Antes de sair de Entebbe, tive conhecimento dos resultados das eleições europeias. Bem como da morte do Presidente do Gabão, depois de mais de quarenta anos no poder. Um presidente com quem trabalhara no final dos anos setenta. Sem grande sucesso, aliás, que o homem não se conformou com os resultados do censo da população. Como poderia um presidente de um país com pretensões de riqueza aceitar que a população não chegasse pelo menos à casa do milhão. Ora, o número que eu tinha em cima da mesa era apenas ligeiramente acima dos setecentos mil...
No nosso pequeno mundo, olhando agora para a nossa presunção, o partido que conseguiu apresentar um cabeça de lista que deu um certo ar de seriedade à política colocou-se à frente. O eleitor votou pela moderação e seriedade.
A escolha que o PS fez como candidato, o professor de Coimbra que com o tempo acabou por mostrar que não sabe fazer política, foi um erro. O PS pagou a factura. Continuar a insistir no mesmo discurso, como parece ser o que foi anunciado pelo senhor primeiro-ministro, só vai agravar a situação. Se o PS insiste na mesma via, não é apenas a conta que terá de ser paga. O preço vai ser alto e a bancarrota do partido do governo vai ser o resultado final.
Dias Loureiro, ao que todos dizem, um homem inteligente, é um dirigente do PSD. Um dos seus estrategas, um homem de notoriedade pública. Um dirigente nacional!
A sua fama ficou ainda mais conhecida ao saber-se da suspeita da sua participação activa em negócios de grande obscuridade. Tudo à volta do caso bem notório do BPN, o banco dos senhores da fraude.
Mais ainda, o senhor é igualmente membro do Conselho de Estado. O tal orgão que acompanha as decisões de maior interesse nacional, junto do Presidente da República.
Assim se faz política e negócios às margens da lei e da decência em certos círculos de dirigentes.
A classe dirigente não aparente sensibilidade política no que respeita à pobreza em Portugal. Numa altura em que há cada vez mais famílias em dificuldades, com uma economia incapaz de responder aos desafios de uma Europa moderna, os políticos ignoram pura e simplesmente o desespero dos pobres. Como se uma parte da população portuguesa fosse simplesmente invisível.