A Rússia parece estar com dificuldades para organizar a componente terrestre da grande ofensiva de que tanto se tem falado. Serão os enormes desafios logísticos que uma operação desse género requer, bem como problemas de mobilização das centenas de milhares de militares que serão necessários para fazer avançar a linha da frente agressiva e para manter o controlo dos territórios que viessem a ser ocupados.
As deslocações de Emmanuel Macron a Moscovo, Kiev e Berlim serviram, acima de tudo, para manter a opção diplomática aberta. Essa é a única conclusão que se pode tirar, para já.
Mas também serviu para colocar a Europa à mesa das negociações. Vladimir Putin e Joe Biden têm mostrado querer tratar do problema entre eles, como se os europeus não contassem. Macron e os dirigentes da Ucrânia, Alemanha e Polónia disseram-lhes agora que também fazem parte do jogo, seja ele de xadrez ou de poker. Essa é uma mensagem forte. Convém continuar a repeti-la.
A intenção de organizar brevemente uma cimeira com os quatro líderes do processo chamado de Normandia vai no mesmo sentido, ou seja, permitirá à França, à Alemanha e à Ucrânia terem um encontro frente a frente com Vladimir Putin. É fundamental que essa cimeira tenha lugar.
Em Washington, nota-se que existem reservas e dúvidas no que respeita às iniciativas tomadas por Macron. A posição americana está muito influenciada por analistas que lêem nas movimentações militares russas uma probabilidade muito alta de um conflito armado. Essa é, neste momento, a grande diferença de apreciação sobre o que poderá acontecer nas próximas semanas. Os americanos apostam num cenário de invasão, enquanto os europeus acreditam que vale a pena investir na diplomacia
A reunião de hoje dos ministros dos negócios estrangeiros do G7 foi convocada a título extraordinário. A ordem do dia tinha apenas um ponto, coordenar a resposta que será dada caso a Rússia venha a intervir militarmente na Ucrânia.
O carácter excepcional e urgente deste encontro deixa entender a gravidade da crise.
As últimas declarações do Presidente Vladimir Putin, que afirmou que no Leste da Ucrânia estaríamos perante o desenrolar de um genocídio dos russo-falantes, acrescentaram um nível adicional de preocupação. A referência manipuladora e mentirosa a um genocídio que não existe é um primeiro passo para criar uma ficção e justificar a acção militar. Depois dessas palavras, ficou mais claro que Putin se prepara para invadir e anexar a região ucraniana de Donbas. Se isso se concretizar, teremos na Europa uma crise de grande envergadura.